Irretocável na pele de Julieta, Gabriela Duarte emociona em Orgulho e Paixão

29/06/2018 às 10h00

Por: Sergio Santos
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Antes de Orgulho e Paixão, a última novela que havia contado com a presença de Gabriela Duarte do início ao fim era Passione, ótima trama de Silvio de Abreu, exibida em 2010, onde a atriz viveu a perua Jéssica, seu primeiro perfil cômico da carreira. Ela se destacou, ganhando na época merecidos elogios. Depois desse trabalho, a intérprete fez apenas participações ao longo de dez anos, vide o primeiro capítulo de Amor à Vida (2013) e a primeira fase de A Lei do Amor (2016). Agora, felizmente, o público tem sido presenteado com o seu talento desde o começo do agradável folhetim das seis da Globo.

É uma volta às novelas em grande estilo. Isso porque a atriz ganhou o perfil mais complexo da história de Marcos Berstein, dirigida por Fred Mayrink e baseada em vários romances de sucesso da escritora inglesa Jane Austen. Julieta Bittencourt é uma poderosa viúva que ficou conhecida na região como a Rainha do Café, em virtude do império que construiu graças ao seu empenho feroz nos negócios. Sua postura fria e arrogante é sempre intimidadora, deixando todos ao seu redor retraídos e submetidos aos seus desmandos. Porém, não é uma vilã e nem uma pessoa com caráter desvirtuado. Pelo contrário, é íntegra e tem um passado sofrido.

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Ainda que só agora o público tenha descoberto o estupro sofrido pela personagem, o autor já havia deixado sublinhado algumas vezes o quanto a firme mulher era maltratada pelo esposo. Logo no início da novela, cenas da personagem cuspindo no túmulo do marido foram exibidas, assim como confissões com um padre, onde revelava não ter conseguido se livrar do ódio pelo falecido.

Outra questão que promove sua raiva é o questionamento a respeito de sua competência como empresária, afinal, muitos só a enxergam como uma viúva que ficou milionária com a morte do cônjuge. Seu temperamento agressivo é sua maior defesa e a principal vítima disso é seu filho, Camilo (Maurício Destri), que rompeu relações com a mãe após várias brigas em torno do romance do rapaz com a humilde Jane (Pâmela Tomé).

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Julieta ainda tem uma fiel escudeira, a interesseira Susana (Alessandra Negrini), a quem humilha o tempo todo. Essa parceira, todavia, só pensa em si mesma e se aliou a Xavier (Ricardo Tozzi), poderoso fazendeiro do Vale do Café que se tornou maior inimigo da empresária. A Rainha do Café, todavia, tem uma fraqueza: o amor que sente por Aurélio (Marcelo Faria), filho do Barão Afrânio (Ary Fontoura), que perdeu sua fazenda para a poderosa mulher após anos endividado. Ou seja, é uma personagem muito bem construída pelo autor e com uma grande carga dramática. Qualquer atriz ganharia interpretando um tipo assim e que bom que Gabriela foi a escolhida para o desafio.

A atriz está irrepreensível no papel, que parece escrito especialmente para ela. Vários conflitos cercam Julieta e a ricaça é a personagem principal de seu núcleo, protagonizando sempre cenas intensas e que exigem todo um trabalho corporal da intérprete. A personagem raramente sorri e sua expressão séria é quase uma “companheira” inseparável. Tudo piorou ainda mais após o seu rompimento com o filho, perdendo a única pessoa em quem depositava seu afeto, mesmo de um jeito questionável. Gabriela convence em todos os momentos e seu amadurecimento cênico se evidencia a cada aparição na trama. É um prazer vê-la dominando um perfil desafiador para qualquer profissional. Transmite com precisão tanto o lado fragilizado da Rainha do Café nos instantes de solidão, quanto a sua postura fria diante dos demais.

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Recentemente, a atriz tem sido ainda mais exigida e vem dominando os capítulos. A cena em que Julieta viu Camilo apanhando durante uma luta clandestina foi dilacerante e iniciou o processo de “redenção” de ricaça. Sentindo-se culpada por tudo o que fez ao filho, a personagem acabou procurando Elisabeta (Nathalia Dill) para desabafar e, através dessas conversas, a Rainha do Café confessou que o garoto era fruto do estupro de seu marido. Uma sequência difícil e dolorosa que proporcionou um show de Gabriela. A química da atriz com Marcelo Faria também merece menção, assim como a boa sintonia com colegas como Alessandra Negrini, Maurício Destri, Joaquim Lopes, Nathalia Dill e Pâmela Tomé.

Gabriela Duarte herdou o talento da mãe, a querida Regina Duarte, e esse fato já era perceptível em Por Amor (1997), onde repetiram o parentesco na ficção. A atriz não mereceu as críticas na época e bastou ver a reprise do sucesso de Manoel Carlos no Viva para constatar isso. Ela se entregou vivendo a mimada Maria Eduarda, protagonizando cenas dificílimas, ainda mais para uma intérprete com poucas novelas no currículo na época. Nada como o tempo para mostrar como esses críticos estavam enganados. Julieta Bittencourt veio para destacar novamente o talento da intérprete, que é um dos grandes trunfos de Orgulho e Paixão.


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