Quando estreou na televisão, em 2011, na fraca Insensato Coração, em pleno horário nobre da Globo, Giovanna Lancellotti demonstrou potencial de sobra para voos maiores. Ela convenceu na pele da doce Cecília em uma novela cujos defeitos foram bem maiores que os acertos. Era um papel pequeno, mas foi uma ótima estreia. Um ano depois, ironicamente, a atriz interpretou o que viria a ser a melhor personagem de sua carreira até então: a sofrida Lindinalva, no remake de Gabriela. E estava apenas em seu segundo trabalho. Mas bastou para provar que tinha chegado para ficar.

O sucesso foi tanto que a personagem – inexistente na obra de Jorge Amado – virou a mocinha da adaptação de Walcyr Carrasco, formando um lindo par com Marco Pigossi (Juvenal), e ofuscou a própria Gabriela (Juliana Paes). Giovanna protagonizou uma sucessão de cenas dramáticas e muito pesadas, expondo uma entrega admirável. Após esse intenso trabalho, portanto, a intérprete seria ainda mais valorizada nas próximas novelas ou séries, seguindo a lógica. Infelizmente, não foi o que aconteceu. Giovanna ganhou a promissora Bélgica em Alto Astral (2014), mas a vilã não teve grande relevância no enredo de Daniel Ortiz, embora seu núcleo tenha rendido alguns bons momentos.

No ano seguinte, então, o caso foi ainda pior. João Emanuel Carneiro a escalou para viver Luana na controversa A Regra do Jogo. A personagem pertencia a um dos piores núcleos do folhetim, pois a família falida de Feliciano (Marcos Caruso) era uma tentativa fracassada de repetir o sucesso da família de Tufão (Murilo Benício) em Avenida Brasil.
Nada naquela trama funcionava e a menina era uma das que menos aparecia. Giovanna mal teve falas e não foi aproveitada como deveria.

Em 2016, a atriz teve um papel um pouco melhor. A sonolenta Sol Nascente tinha conflitos fraquíssimos, não conseguindo prender quem assistia. Porém, Milena ao menos tinha mais destaque que Luana, conseguindo se sobressair em algumas situações, como a sua mudança de fase, deixando o temperamento tímido de lado e adotando uma postura mais rebelde. Novamente a atriz expôs seu talento, ainda que a personagem tenha deixado a desejar em virtude da equivocada condução geral de Suzana Pires, Júlio Fisher e Walther Negrão.

Agora, finalmente, Giovanna Lancellotti está recebendo o devido valor, lembrando os bons tempos de Gabriela. João Emanuel resolveu se redimir, a presenteando com Rochelle, patricinha mimada e arrogante, responsável por várias maldades em Segundo Sol. A menina é filha dos desequilibrados Edgar (Caco Ciocler) e Karen (Maria Luisa Mendonça), neta do corrupto Severo (Odilon Wagner). A vilã nunca tolerou a presença de Manu (Luisa Arraes) por considerá-la uma intrusa – a menina é filha de Luzia (Giovanna Antonelli) e acabou adotada pela família ainda criança, enquanto seu irmão, Ícaro (Chay Suede), ficou com a tia, Cacau (Fabíula Nascimento). Portanto, não pensa duas vezes antes de armar para prejudicar a irmã, sem se importar com o sentimento dos outros.

A personagem é maniqueísta, evitando qualquer nuance. Ou seja, um tipo que sempre apresenta o risco de cair na caricatura. Afinal, a menina não tem motivação alguma para suas maldades. Ela poderia ser no máximo rebelde, em virtude da sua família totalmente desequilibrada. Mas é perversa e interesseira. Os maiores absurdos saem de sua boca, ferindo todos ao seu redor. Rochelle sempre humilha o pai, destrata a mãe e enfrenta o avô, além de ter Manu como vítima preferida. Já ficou com o namorado da irmã, inclusive, além de ter plantado drogas nas coisas da “rival” para provar o vício em substâncias ilícitas da problemática filha de Luzia.

São cenas fortes e Giovanna consegue se sobressair em todas, imprimindo um tom debochado que caiu muito bem no papel. Não é exagero, aliás, afirmar que a garota fala mais barbaridades que Karola (Deborah Secco) e Laureta (Adriana Esteves) – as consideradas “grandes vilãs” do enredo.

Recentemente, vale ressaltar, Giovanna protagonizou ótima cenas. Brilhou quando Rochelle descobriu uma quantia desviada do avô e o chantageou para ficar com a grana. Protagonizou momentos até cômicos durante a festa promovida pela blogueira, que viu seu evento ser arruinado pelo vexame de Manu. Até dentro do chafariz caiu, após uma briga com a irmã. O núcleo secundário, por sinal, vem se mostrando muitas vezes mais atrativo que o principal.

A premissa de Segundo Sol é a famigerada segunda chance que toda pessoa deveria ter para recomeçar ou redefinir sua vida. Ironicamente, João Emanuel Carneiro acabou se valendo disso na escalação de Giovanna Lancellotti para viver Rochelle. Ele deu uma segunda chance a si mesmo, pois a desperdiçou em A Regra do Jogo, como já mencionado. E a atriz agora pode mostrar a competente profissional que é nesse segundo trabalho com o autor. Que siga se destacando até o final.


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Sérgio Santos é apaixonado por TV e está sempre de olho nos detalhes. Escreve para o TV História desde 2017 Leia todos os textos do autor