O Tempo Não Para tem estreia movimentada e divertida

02/08/2018 às 10h00

Por: Sergio Santos
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O que você faria se acordasse no futuro, mais especificamente 132 anos depois? Como lidaria com os novos costumes, as modernidades e a rotina de um período totalmente desconhecido? Essa é a premissa de O Tempo Não Para, nova novela das sete da Globo, que estreou nesta terça-feira (31/07), substituindo Deus Salve o Rei. Sai de cena um folhetim medieval e entra uma novela que mistura 1886 com 2018, sem explorar reencarnações, por exemplo. Ou seja, a fantasia cedeu lugar ao surreal. Não há dúvidas a respeito da ousadia da proposta da obra de Mário Teixeira, dirigida por Leonardo Nogueira.

O núcleo central é da tradicional família Sabino Machado, congelada em 1886 e descongelada em 2018. Uma ideia que pode resultar em uma trama genial ou em um enredo bizarro. A coragem do autor, no entanto, é válida. Dom Sabino (Edson Celulari), Dona Agustina (Rosi Campos) e a filha Marocas (Juliana Paiva) são donos de extensas terras para a exploração de ouro, minérios e investimento em telefonia. A história começa justamente há 132 anos, mostrando a rotina desses personagens. O primeiro capítulo é voltado exclusivamente para isso. A saga se inicia como um folhetim de época e depois vira uma novela contemporânea.

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A estreia foi movimentada, sem ser corrida. Após se chocar ao ver a filha beijando o provocador Bento (Bruno Montaleone), Dom Sabino tenta matar o rapaz, que acaba fingindo sua própria morte. O “velório” do malandro vira um grande pastelão e todos descobrem que ele não morreu.
Marocas, no entanto, recusou-se a casar e disse ”não’ em pleno altar. O pai, então, resolveu aproveitar a viagem que faria para conhecer um estaleiro recém-adquirido na Inglaterra para levar toda a família junto. O objetivo foi afastar a filha do escândalo da honra manchada.

E quando decidiu levar todos, realmente levou. Além da herdeira e da esposa, foram as caçulas gêmeas – Kiki (Nathalia Rodrigues) e Nico (Raphaela Alvitos) – e os escravos Damasia (Aline Dias), Cairu (Cris Viana), Cesária (Olívia Araújo), Menelau (Davi Junior) e Cecílio (Maicon Rodrigues). A preceptora Miss Celina (Maria Eduarda de Carvalho), o guarda-livros Teófilo (Kiko Mascarenhas), o cachorro Pirata e até o próprio Bento também embarcaram.

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Apesar de ser considerado o navio mais seguro do mundo, o Albatroz se choca em um iceberg e afunda, matando milhares de pessoas. E os 13 personagens mencionados acabam congelados. Qualquer semelhança com Titanic não é mera coincidência. A sequência do acidente, por sinal, ficou muito bem feita e as imagens usadas na passagem de tempo deixou o recurso criativo – teve Michael Jackson, Ayrton Senna, Fernanda Montenegro, Copa do Mundo, enfim.

O primeiro gancho despertou interesse em continuar assistindo, pois Samuca (Nicolas Prattes) encontrou um imenso iceberg em pleno Guarujá com Marocas dentro. O mocinho parou de surfar na hora e foi socorrer a menina, encantando-se logo de cara. Ela acorda e os dois se olham. Um clichê irresistível. A proposta do enredo é algo ilógico, mas tem tudo para conquistar o público pelas inúmeras possibilidades que o contexto de uma família de 1886 vivendo em 2018 tem, incluindo a observação em torno dos avanços tecnológicos e do preconceito racial ainda existente, por exemplo. E a forma como tudo foi apresentado na estreia prendeu a atenção.

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Juliana Paiva já é um destaque e sua carismática Marocas promete, assim como o futuro romance com o íntegro Samuca. Rosi Campos, Kiko Mascarenhas, Maria Eduarda de Carvalho e Edson Celulari foram outros bons nomes deste começo. Vale elogiar ainda a trilha sonora. O folhetim mal começou e o telespectador já ouviu It`s The End Of The World As We Know It (R.E.M.) e Raindrops Keep Fallin`On My Head, de B.J. Thomas. A única crítica é a respeito da duração da primeira fase. Estava tudo tão bonito e caprichado que poderiam ter aproveitado mais. Uns três ou quatro capítulos em 1886 seriam bem-vindos.

O Tempo Não Para teve uma estreia movimentada e divertida. O tempo realmente não parou, ironicamente. É válido até mencionar o ótimo ‘crossover’ em Orgulho e Paixão, onde Elisabeta (Nathalia Dill) comentou com Darcy (Thiago Lacerda) sobre os 25 anos da tragédia da Família Sabino Machado, que morreu em um naufrágio. Uma maneira criativa de anunciar a nova trama. Mário Teixeira tem uma grande e ousada história em mãos. O autor merece todos os elogios pela sua criatividade e agora resta torcer para que saiba conduzir essa atrativa premissa de maneira competente, honrando o ótimo primeiro capítulo.


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