Reprise comprovou que casal azarão carregou novela fraca nas costas
16/12/2021 às 11h50
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Haja Coração teve um ótimo início em 2016, mas foi perdendo o rumo ao longo das semanas e a reprise, que terminou em março desse ano, comprovou isso.
Essa queda de qualidade pôde ser observada principalmente através do desenvolvimento de vários casais da história – muitos deles começaram promissores e tiveram o enredo estagnado.
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Já o par protagonista, composto por Tancinha (Mariana Ximenes) e Apolo (Malvino Salvador), cansou pela repetição desde o começo do folhetim. Porém, em contraponto a tudo o que foi mencionado, Daniel Ortiz criou um casal que caiu nas graças do público assim que surgiu e roubou o protagonismo: Shirlei e Felipe.
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Os personagens, interpretados com competência por Sabrina Petraglia e Marcos Pitombo, protagonizaram um dos enredos mais clássicos dos contos de fadas: o da gata borralheira em busca do seu príncipe encantado.
É uma situação que transborda clichê, mas sempre funciona quando bem construída. E foi o caso da novela. Aliás, embora seja um remake de Sassaricando (1987), Shirlei não pertencia ao folhetim das sete de Silvio de Abreu.
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História repetida
Mas fazia parte de outra novela do autor, do horário das nove: Torre de Babel (1998). A menina ingênua que tinha um problema na perna foi vivida na época por Karina Barum, fazendo um grande sucesso – a música Corazón Patío, de Alejandro Sanz (tema da personagem), estourou.
Ao inserir Shirlei no contexto de Haja Coração, o autor se viu obrigado a criar uma trama e não simplesmente seguir com a obra original. E foi algo bem positivo, ainda mais levando em consideração os erros que Daniel Ortiz cometeu com vários perfis e enredos da sua história, muitas vezes tentando repetir situações de 1987 que não funcionaram – vide o sumiço de Teodora (Grace Gianoukas) e toda a trajetória de Aparício (Alexandre Borges).
E todo o contexto que cerca a personagem é, propositalmente ou não, digno de uma mocinha de novela. Portanto, não demorou para a menina assumir esse posto com louvor. Ela e Felipe, que se comportou como o verdadeiro mocinho do enredo.
O rapaz estava sempre com um sorriso no rosto, solícito, transbordando integridade e trabalhava na empresa de Beto (João Baldasserini). Vale mencionar que o personagem demorou para entrar na novela, juntamente com a sua até então namorada, a patricinha Jéssica (Karen Junqueira).
Trama deslanchou
Foi só com a chegada dele que a trama da Shirlei deslanchou, pois a situação em torno da paixão platônica por Adônis (José Loreto) já estava cansativa. E o primeiro encontro do casal representou o clássico Cinderela, da Disney. Isso porque o bom moço quase atropelou a menina, que acabou perdendo sua bota ortopédica em um bueiro, durante uma forte chuva. Felipe pegou o sapato e passou a procurar a moça para devolvê-lo.
Após muita procura e vários desentendimentos (a garota chegou a achar que estava debochando de sua deficiência), os dois finalmente se ‘entenderam’ e o rapaz devolveu a famigerada bota. O encontro se deu por uma ‘coincidência’ digna de folhetins: ela passou a trabalhar na casa dele como empregada.
E não demorou para o interesse mútuo se manifestar, despertando o ciúme de Jéssica. Foi a partir de então que começou o calvário da mocinha, encarnando de vez a gata borralheira. A patricinha fazia de tudo para diminuir a funcionária e até a obrigou a subir vários andares de escada, carregando compras pesadas, ignorando seu problema na perna. A vilã encarnou de vez a madrasta da Cinderela, fazendo jus ao contexto da trama de Shirlei.
Para culminar, a filha de Francesca (Marisa Orth) era constantemente alvo da irmã Carmela (Chandelly Braz), que sempre fazia questão de humilhar a caçula.
Ainda havia a presença do já citado Adônis, sujeito aproveitador que nunca retribuiu os sentimentos de Shirlei – mas depois passou a enxergá-la com outros olhos, virando mais um obstáculo para o casal. Outro ponto foi a chegada da mãe de Felipe, interpretada por Betty Gofman.
A nova personagem não admitia o romance, pois sabia que a menina era filha de seu marido, Guido (Wernner Schunemann) – o desaparecimento dele era um dos mistérios da história. Portanto, ficou claro que Shirlei tinha um enredo próprio muito mais atrativo do que todo o restante da novela, que se mostrou bastante equivocada.
Ironia do destino
E uma ironia do ‘destino’ foi ver o casal Shirlipe ofuscando o par protagonista, exatamente como ocorreu em Sassaricando. Porém, curiosamente, na época, era o triângulo formado por Tancinha, Apolo e Beto que apagou o protagonismo de Aparício.
Dessa vez, o trio amoroso virou protagonista, mas de nada adiantou, pois foi ofuscado pelo casal de coadjuvantes. Ou seja, os personagens cresceram na obra original e no remake (por razões óbvias) entraram para o núcleo principal. O imponderável novamente se fez presente.
Os atores são ótimos juntos e a sintonia da dupla se evidencia em todos os momentos. A troca de olhares é outro ponto que enriquece o relacionamento que demorou bastante para finalmente acontecer. Ainda assim, valeu a espera. O aguardado beijo foi bonito e valeu ter visto atores não tão ‘conhecidos’ em destaque.
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Artistas mereceram o destaque
Afinal, a atriz estreou no SBT em 2010, quando viveu a Terezinha em Uma Rosa com Amor. Foi para a Globo no mesmo ano, onde teve uma pequena participação em Passione. Também fez uma ponta em Flor do Caribe (2013), até ganhar a personagem Itália em Alto Astral (2014), estreia de Daniel Ortiz como autor solo. Ela brilhou e acabou conquistando a ótima personagem posteriormente.
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Já Marcos Pitombo é mais experiente, pois é revelação da temporada de 2006 da Malhação. Depois do sucesso no seriado adolescente, foi para a Record, onde esteve em seis novelas: Os Mutantes (2008), Os Mutantes: promessas de amor (2009), A História de Ester (2010), Vidas em Jogo (2011), Pecado Mortal (2013) e Vitória (2014).
Porém, é inegável que atuar fora da líder não dá a mesma visibilidade. O ator voltou para a Globo em 2015, onde fez uma breve participação na fracassada Babilônia, e aproveitou a chance como o carismático Felipe. Não é por acaso que o personagem, mesmo não aparecendo tanto, ofuscou a figura de ‘galã’ de Apolo.
Aliás, o casal se sobressaiu com grande facilidade, virando o melhor par do enredo com larga vantagem. Tanto no quesito química, quando na questão do desenvolvimento do romance.
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Shirlei e Felipe (Shirlipe para os ‘shippers’) representaram o amor puro dos contos de fadas e o imenso sucesso do casal apenas comprovou que o clássico, quando bem feito, funciona sempre.
Os dois viraram os verdadeiros mocinhos de Haja Coração, protagonizando a melhor história da novela, com direito a cenas românticas, maldades de vilões e questões envolvendo a baixa autoestima de uma menina com deficiência.
Sabrina Petraglia e Marcos Pitombo fizeram por merecer todo o êxito do par, que foi o único drama da novela que valeu a pena rever.