Vale Tudo: uma novela que entrou para a história da teledramaturgia

18/08/2018 às 10h00

Por: Sergio Santos
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Dirigida por Dennis Carvalho e escrita por Gilberto Braga, Aguinaldo Silva e Leonor Brassères, Vale Tudo estreou no dia 16 de maio de 1988 e foi ao ar até 6 de janeiro de 1989. A novela substituiu Mandala e foi sucedida por O Salvador da Pátria, duas tramas que ainda são lembradas. Mas este folhetim escrito pelos três autores citados foi um verdadeiro fenômeno de popularidade e um marco na história da teledramaturgia – reprisada no Vale a Pena Ver de Novo em 1992.

A história abordou vários assuntos interessantes e ainda colocou o dedo nas questões morais do Brasil, expondo esta ferida para todos os telespectadores. A conturbada relação de Raquel Accioli (Regina Duarte) e Maria de Fátima (Glória Pires) era um dos principais focos da trama, que começou a se desenrolar a partir de um golpe que a filha mau-caráter deu na própria mãe. O único bem das duas era a casa do pai de Raquel (deixada por ele no nome da neta), localizada em Foz do Iguaçu, no Paraná. Mas Maria de Fátima vende o imóvel para tentar a vida como modelo no Rio de Janeiro.

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Ao se estabelecer no RJ, a vilã se envolve com César Ribeiro (Carlos Alberto Ricceli), um ex-modelo que atua como garoto de programa e é tão ambicioso quanto ela. Já Raquel, após descobrir que foi enganada pela filha, chega ao Rio para ir atrás dela. Honesta e trabalhadora, a personagem (que ganhava a vida como guia de turismo) passa a vender sanduíches na praia, enquanto Maria de Fátima tenta ficar rica através do famoso golpe do baú – a cena onde as duas se encontram na praia, uma vendendo seus lanches e a outra se bronzeando, é lembrada até hoje. A trama foca muito bem nesta discrepância de valores entre as duas.

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Raquel acaba se envolvendo com Ivan (Antônio Fagundes) e ainda consegue ser dona de uma rede de restaurantes graças ao seu trabalho. Mas sua vida entra em colapso quando a íntegra mulher encontra 800 mil dólares perdidos pelo crápula Marco Aurélio, empresário ambicioso interpretado por Reginaldo Faria. Seu então namorado sugere que ela fique com a fortuna, mas Raquel se nega. O problema é que a quantia desaparece graças a uma armação de Maria de Fátima, provocando o término do relacionamento da mãe, já que Ivan vira alvo de sua suspeita. Ele, então, acaba se casando com Heleninha Roitmann (Renata Sorrah), mulher frágil e alcoólatra, filha de Odete Roitman (Beatriz Segall), a grande vilã da novela.

Toda esta bem construída trama prendeu a atenção do telespectador ao longo dos meses. Marco Aurélio, Maria de Fátima e Odete Roitman formavam um trio que representava a escória da sociedade em diversos âmbitos. A perua era um poço de preconceitos, odiava o Brasil e não tinha um pingo de sentimento por ninguém – sua única fraqueza era o amante, César Ribeiro. E enquanto Marco era vice-presidente da TCA (empresa de aviação da grande vilã) e desviava dinheiro sem o menor escrúpulo, a filha de Raquel tentava a todo custo ficar rica, passando por cima de quem fosse necessário.

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Entre as muitas cenas marcantes da novela, é impossível não citar a sequência onde Raquel discute com Maria de Fátima e rasga o vestido de noiva da filha, gritando que a odiava. O assassinato de Odete Roitman foi outro momento antológico, responsável pela última virada da novela, que aconteceu faltando menos de 15 capítulos para o seu final – o mistério do ‘quem matou?’ durou pouco mas mobilizou o país. Leila (Cássia Kiss esplendorosa) mata Odete por engano, ao achar que ela era Maria de Fátima, amante de seu marido Marco Aurélio. A cena foi impactante. E o empresário canalha foi o protagonista de outra cena memorável: ao entrar em seu jatinho para fugir da polícia – juntamente com sua esposa, que não é punida pelo assassinato que cometeu –, Marco dá uma ‘banana’ para o país, comemorando a impunidade.

Regina Duarte e Glória Pires foram excepcionais e tiveram suas respectivas carreiras marcadas pelas personagens. O mesmo vale para Beatriz Segall, que viveu uma das maiores vilãs da teledramaturgia e ainda é lembrada pela víbora. Renata Sorrah também teve sua trajetória enriquecida pela sua Heleninha, brilhantemente interpretada por ela – a cena onde ela dança um ‘mambo caliente’ completamente bêbada foi mais um momento marcante da história. Antônio Fagundes, Cássia Kiss e Reginaldo Faria são outros grandes intérpretes que merecem aplausos.



Vale destacar ainda outros ótimos atores que fizeram parte deste time: Cláudio Correa e Castro (intérprete do pai de Ivan – Bartolomeu), Lilia Cabral (Aldeíde), Nathalia Timberg (Celina, irmã da cruel Odete), Sérgio Mamberti (o mordomo Eugênio), Pedro Paulo Rangel (Audálio), Cristina Prochaska (Laís, que se apaixonou por outra mulher), Rosane Gofman (Consuelo), Cássio Gabus Mendes (Afonso Roitman), Lídia Brondi (Solange), Adriano Reys (Renato), Maria Gladys (Lucimar), Zilka Salaberry (Ruth), Dennis Carvalho (William), entre tantos outros.

Vale Tudo – cuja abertura ao som de ‘Brasil’, cantada por Gal Costa, também um acerto e tanto – foi um marco na teledramaturgia e a GloboMarcas lançou recentemente um DVD (que ganhei de presente da emissora e aproveito para agradecer) com a trama completa para os fãs saudosos. Inclusive, a reprise da novela no Viva, entre outubro de 2010 e julho de 2011, foi um dos maiores sucessos do canal a cabo, comprovando a força que esta história teve. Gilberto Braga, Aguinaldo Silva e a saudosa Leonor Brassères escreveram um folhetim da melhor qualidade. Uma das melhores novelas brasileiras.



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