O popular “merchandising social” pode ser um problema para qualquer trama. O risco de soar gratuito é considerável e o caso da equivocada Malhação – Vidas Brasileiras é um bom exemplo. Abordar questões atuais em uma novela de época, então, é ainda mais complicado. Mas, Marcos Berstein vem conseguindo explorar várias situações com maestria em Orgulho e Paixão.

Elogiar a ótima novela das seis da Globo virou uma constante e o capítulo desta terça (14/08) conseguiu surpreender o público com duas abordagens importantes. A primeira foi a violência contra a mulher, sofrida por Mariana (Chandelly Braz), que se viu sequestrada pelo asqueroso Xavier (Ricardo Tozzi). Após ter se livrado do disfarce de Mário e mostrado para todos os corredores que eles perderam a corrida de moto para uma mulher, a filha de Ofélia (Vera Holtz) quebrou um paradigma em 1910 e provocou a ira do inimigo de Brandão (Malvino Salvador).

Para se vingar, o personagem seguiu ordens de Lady Margareth (Natália do Vale) e prendeu a moça em um cativeiro para cortar os seus cabelos. A cena foi forte e Chandelly protagonizou a sua melhor sequência na trama, emocionando do início ao fim. A atriz expôs o desespero e a dor daquela corajosa mulher que se viu impotente diante da covardia de um homem.
Seu choro foi desolador. Ao final do capítulo, ainda exibiram um aviso sobre a necessidade de denunciar uma agressão – mesmo alerta exposto em O Outro Lado do Paraíso. Porém, não foi o único tema importante exposto de forma competente.

O momento em que Luccino (Juliano Laham) revelou ao irmão Ernesto (Rodrigo Simas) que gostava de homens foi marcado pela delicadeza. O choque inicial do noivo de Ema (Agatha Moreira) logo cedeu espaço para a compreensão, resultando em um sensível diálogo e um bonito abraço. Os atores emocionaram e os olhares complementaram muito bem o texto. Rodrigo sempre esteve bem na novela e é um dos destaques do elenco, mas Juliano começou muito mal e melhorou sua atuação ao longo dos meses. O autor acertou quando inseriu a homossexualidade no personagem, visto até então apenas como um rapaz tímido. Sua relação com o Capitão Otávio (Pedro Henrique Muller) também merece menção e vem sendo conduzida com sensibilidade.

A cena em que Ema consolou Mariana, exibida no capítulo desta quarta (15/08), valorizou a sintonia de Agatha Moreira e Chandelly Braz. Ainda teve um texto bem escrito do autor valorizando as mulheres através da frase da noiva de Ernesto: “É hora de fazer o que uma mulher faz de melhor: secar as lágrimas e resolver os problemas, por piores que sejam”. Mais um momento delicado da novela. Aliás, o fato de ser ambientada em 1910 pode até deixar alguns contextos ”exagerados”, afinal, na época não existia empoderamento feminino e muito menos compreensão com romance gay. Todavia, é uma licença poética bastante válida e em nada atrapalha o andamento do roteiro, muito pelo contrário.

Até porque o dinamismo do folhetim é observado justamente por causa de certos ‘avanços’. Haveria um evidente marasmo se Elisabeta (Nathalia Dill) e Darcy (Thiago Lacerda), por exemplo, demorassem uma eternidade para trocar um simples beijo. Ou se Ema e Ernesto adiassem qualquer tipo de carinho mais ”quente” até o casamento. Há, inclusive, um equilíbrio entre os personagens ”moderninhos” e os “adequados para o século XIX”.

Orgulho e Paixão consegue surpreender a cada novo acontecimento e ainda vem abordando temas importantes contemporâneos com todo cuidado necessário. A dramática cena envolvendo Mariana e o apoio de Ernesto a Luccino são apenas algumas provas disso.


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Sérgio Santos é apaixonado por TV e está sempre de olho nos detalhes. Escreve para o TV História desde 2017 Leia todos os textos do autor