A atual novela das sete tem feito por merecer os elogios e o sucesso de audiência. O Tempo Não Para vem sendo conduzida com habilidade por Mário Teixeira, embora a direção de Leonardo Nogueira deixe a desejar em alguns momentos com cortes bruscos e cenas (publicadas antes pelo site GShow) que nem vão ao ar. A premissa da família de 1886 descongelada em 2018 vem rendendo bem até o momento. E um dos êxitos da trama tem sido o inusitado casal Miss Celine (Maria Eduarda de Carvalho) e Elmo (Felipe Simas).

O descongelamento da preceptora das irmãs menores de Marocas (Juliana Paiva) foi o mais diferente de todos: ela simplesmente se encantou com as novidades no novo século, ao contrário dos demais, que ficaram em choque a cada nova descoberta. E assim que a personagem entrou na história ficou claro que seria um dos destaques, valorizando o talento de Maria Eduarda. Não demorou para a letrada mulher conhecer o amigo atrapalhado de Samuca (Nicolas Prattes). Ele tentou salvá-la de um assalto, mas acabou espancado pelos ladrões. A partir de então os dois não se desgrudaram mais.

E aos poucos foram crescendo em cena, divertindo através das inúmeras diferenças. Miss Celine é refinada e seu vocabulário extenso, enquanto Elmo abusa das gírias e não apresenta um intelecto muito elevado. Tanto que os diálogos da dupla são os mais inspirados da novela, muitas vezes resultando em questionamentos imprevisíveis.

A química saltou aos olhos logo no primeiro beijo e vale citar a intensidade dos “agarramentos”, parecendo até que um quer engolir o outro. Ou seja, mesmo nos instantes teoricamente românticos ou quentes há graça. O objetivo é mostrar a inexperiência dela com os toques e a descoberta dos prazeres. Funciona.

A ousadia do autor foi muito válida e até arriscada. Afinal, seria mais “garantido” o público comprar a junção de Elmo com Vera Lúcia (Talita Younan) ou Paulina (Carol Macedo), por exemplo, que são perfis interpretados por atrizes da mesma faixa etária de Felipe. Maria Eduarda é mais velha. Nada contra casais com diferença de idade, no entanto, algumas vezes não funciona por mais que o autor tente. Não são poucos os exemplos na ficção e vale citar até o primeiro par de Elmo: Valeska. O ator e Carol Castro protagonizaram algumas cenas quentes, mas nunca chegou a empolgar. Mário foi preciso na condução entre o rapaz e a professora de 1886. Os atores esbanjaram sintonia assim que começaram a contracenar.

É a primeira vez que Felipe Simas interpreta um tipo cômico e está se saindo muito bem. O ator adotou um tom inocente que vestiu perfeitamente o personagem. Elmo é naturalmente engraçado e seu coração puro encanta quem assiste. É aquele perfil que cai facilmente nas graças do público. Além da química com Maria Eduarda, o intérprete ainda forma uma dupla dinâmica com Nicolas Prattes e também protagoniza ótimos momentos com Juliana Paiva, Edson Celulari (Dom Sabino) e Christiane Torloni (Carmem). Ele não lembra em nada o dúbio Cobra de Malhação Sonhos, o íntegro Jonatas, de Totalmente Demais, e o surfista Caíque, de Os Dias Eram Assim.

Já Maria Eduarda de Carvalho vem sendo valorizada como merece, após a figuração de luxo na sonolenta e arrastada Tempo de Amar. A atriz – conhecida pelas ‘sincericidas’ que interpretou nas duas novelas primorosas de Lícia Manzo (Nanda, em A Vida da Gente; de 2011, e Laila, em Sete Vidas; de 2015) – está maravilhosa na pele da carismática Miss Celine. As suas expressões faciais são impagáveis e o fascínio da personagem com as tatuagens de Elmo é um divertimento à parte. A atriz tem aproveitado a oportunidade de explorar sua comicidade e suas cenas são muito mais engraçadas do que todas que protagonizou na equivocada Brasil à Bordo, série de Miguel Falabella. Na produção anterior, o problema não era com ela, claro, e sim com as situações bobas. Agora sim a intérprete tem vivido inspiradas sequências. É preciso citar, ainda, algumas características do par, como as aspas feitas com as mãos e a expressão “Senhor Elmo” repetido pela amiga de Marocas.

O Tempo Não Para tem se mostrado uma deliciosa comédia romântica e o improvável casal Miss Celine e Elmo é um dos maiores acertos da trama de Mário Teixeira. Todo esse destaque que o “romance” vem tendo é mais do que justo. Tomara que o autor não se perca.


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Sérgio Santos é apaixonado por TV e está sempre de olho nos detalhes. Escreve para o TV História desde 2017 Leia todos os textos do autor