Vilã de Travessia abriu o jogo sobre novela: “Saía do estúdio chorando”
09/11/2022 às 21h15
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No dia 10 de outubro, a Globo estreou sua nova novela das nove, Travessia. Na trama, Cássia Kis voltou a fazer maldades no horário nobre da emissora, apesar de estar causando polêmicas nos bastidores. É impossível não lembrar de outra novela onde ela roubou a cena como vilã.
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Em 5 de fevereiro de 2001, estreava na Globo a novela Porto dos Milagres, escrita por Aguinaldo Silva e Ricardo Linhares. Foi a última produção de Aguinaldo Silva de sua fase de ouro de tramas regionalistas com realismo fantástico (houve um retorno com O Sétimo Guardião, em 2018-2019, mas fracassado).
Curiosamente, Porto dos Milagres é uma novela que nem Aguinaldo Silva e Ricardo Linhares gostavam!
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A produção foi bastante criticada pela imprensa por não agregar nenhuma novidade ao universo dos autores. Na verdade, uma salada das novelas anteriores da dupla, que apontava para o esgotamento da fórmula. Jogue no liquidificador Tieta, Pedra Sobre Pedra, Fera Ferida, A Indomada e Meu Bem Querer e o resultado é Porto dos Milagres.
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Tema saturado
Aguinaldo Silva sentiu que naquela ocasião (2001) o realismo fantástico em novelas regionalistas havia saturado. Tanto que negou-se a continuar nesta fórmula e passou a focar suas novelas em histórias urbanas (Senhora do Destino, Duas Caras, Fina Estampa e Império). O retorno ao realismo mágico aconteceu 17 anos depois de Porto dos Milagres, em O Sétimo Guardião.
Aguinaldo revelou a André Bernardo e Cíntia Lopes para o livro “A Seguir, Cenas do Próximo Capítulo“:
“Porto dos Milagres foi uma novela bastante traumática para mim. Sabe essa coisa de diretor que não sabe fazer? Pois é. Depois de ‘Porto’, pensei até em não escrever mais novelas. Virei para a Globo e disse: ‘Estou de saco cheio, não quero mais’”.
Marcos Paulo e Roberto Naar foram os diretores-gerais da novela. Marcos Paulo era ainda o diretor de núcleo. Aguinaldo reconheceu:
“Eu estava realmente em crise. Eu achei que Porto dos Milagres era uma repetição de todas as novelas que eu já tinha feito”.
Ricardo Linhares, o coautor, declarou ao livro “Autores, Histórias da Teledramaturgia“, do Projeto Memória Globo:
“Começamos a sentir que as pessoas já não queriam mais viajar naquela fuga da realidade que oferecíamos com o realismo mágico, com a exacerbação do real. Elas estavam começando a estranhar coisas que não estranhavam antes. Tudo tem um ciclo, e o do realismo fantástico estava acabando ali”.
Jorge Amado
A trama de “Porto dos Milagres” tem como base dois livros de Jorge Amado: “Mar Morto” e “A Descoberta da América pelos Turcos“.
Aguinaldo disse ao livro “Autores, Histórias da Teledramaturgia“:
“Eu queria adaptar ‘Mar Morto’ havia muito tempo. Li o livro quando era adolescente (…) Quando o reli, percebi que ele tinha uma linguagem poética meio datada e que sua história não daria uma novela. Então tive que fazer uma adaptação muito livre. (…) Confesso que não tinha muita paciência com a trama romântica. Achava que aquela relação do pescador com a moça de classe média era uma história dos anos 1930, 1940. Hoje o romantismo não caminha mais por aí”.
Outra inspiração para os autores foi “Macbeth“, de Shakespeare, na trama em que Félix Guerreiro (Antônio Fagundes) recebe a previsão de uma cigana de que ele se tornaria rei, com as mãos sujas de sangue, tendo uma grande mulher por trás, Adma (Cássia Kis).
Traumas
Aliás, Cássia Kis foi o maior destaque da novela. A vilã Adma matava suas vítimas por envenenamento. Lembra do veneno dentro do anel? Por sua atuação, Cássia foi premiada com o Troféu Imprensa de melhor atriz de 2001.
Apesar do sucesso junto ao público, Adma é uma personagem da qual Cássia Kis não guarda boas recordações. A atriz, grávida de seu terceiro filho, com peça em cartaz e estressada, teve problemas nos bastidores de Porto dos Milagres.
Em entrevista a Elena Corrêa para a revista Quem, publicada em maio de 2012, revelou:
“Gravava muito, ainda fazia uma peça de teatro e tinha as crianças. Estava grávida do meu terceiro filho e passava a noite estudando. Às vezes não dava tempo de passar todas as cenas. Em vez de procurar o produtor da novela e dizer ‘Desculpa, tem três ou quatro cenas que não tenho condição de fazer’, eu me desdobrava para gravar.
Mas não conseguia e explodia. Saía do estúdio gritando, chorando, totalmente enlouquecida. Para a equipe, eu era a doida da Cássia, a pessoa difícil. (…) Era raro eu ter essas explosões. Mas os colegas me olhavam atravessado”.
Porto dos Milagres ainda foi criticada por parte de movimentos negros da Bahia e de outros estados, pelo número reduzido de atores negros no elenco de uma novela ambientada na Bahia (como aconteceu em Segundo Sol, lembra?); e sofreu uma campanha negativa por parte de católicos e evangélicos que não gostaram de ver na trama a forte presença do candomblé e do culto a Iemanjá. Os autores foram obrigados a diminuir este particular na novela.
AQUI tem tudo sobre Porto dos Milagres: trama, elenco, personagens, trilha sonora e muitas curiosidades.