Tempo de Amar: mais um caso de “desvio” de protagonismo
20/12/2017 às 10h00
Em algumas novelas é comum um personagem protagonista perder o seu espaço para um perfil coadjuvante, que seja mais atraente. Isto pode acontecer por falha no desenvolvimento do personagem, ou quando o desempenho do ator não é convincente, ou ainda quando o próprio perfil paralelo tem mais chance de conquistar o público. Ou tudo isso junto. E é isso o que acontece em Tempo de Amar, atual novela das seis.
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Como se sabe, Maria Vitória (Vitória Strada) e Inácio (Bruno Cabrerizo) se apaixonaram em Portugal, mas viveram uma série de desencontros e sofrimentos que os impediram de se reaproximar. Ela conheceu Vicente (Bruno Ferrari), que logo se encantou pela mocinha, enquanto o dito mocinho se deixou levar pelas intrigas da arrogante Lucinda (Andreia Horta), que o manipulou para conseguir se casar com ele após encontrá-lo ferido em uma rua.
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O brasileiro logo caiu nas graças do público, devido à sua personalidade agradável e pela forma como se encantou pela mocinha, disposto a viver esse amor – ao contrário do português, que praticamente se “esqueceu” da existência de Vitória e se deixa levar de forma passiva por todas as armações da atual mulher. Não à toa, Vicente vem “roubando” o protagonismo de Inácio a cada capítulo da trama de Alcides Nogueira.
Some-se a isso a gritante diferença entre os desempenhos de Bruno Ferrari e Bruno Cabrerizo. O primeiro, que começou sua carreira em Celebridade e na clássica temporada da Vagabanda, em Malhação (2004), voltou à Globo no ano passado após um período pela RecordTV e reafirma seu talento cênico ao lado de Vitória Strada, promissora revelação da novela. A segurança do par e a química mostrada em cena vêm encantando os telespectadores, que logo passaram a torcer para que Maria Vitória e Vicente fiquem juntos ao final da novela.
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Cabrerizo, por sua vez, não desfruta do mesmo prestígio. Lançado como revelação ao lado de Vitória, embora já tenha feito outros trabalhos na TV portuguesa, o intérprete de Inácio não consegue convencer. Sua inexpressividade salta aos olhos e torna ainda mais irritante um conjunto cansativo por si só, pois Inácio é passivo e sonso – o que vem rendendo apelidos jocosos, como “Inércio”.
A perda de protagonismo de um personagem não é uma novidade. Um caso conhecido é o de Viver a Vida (2009-10), de Manoel Carlos, que trouxe Taís Araújo como a primeira Helena negra de sua história. Apesar disso, o público não se identificou com o drama da personagem e o próprio desempenho apático de Taís não ajudou – ao contrário da modelo Luciana (Alinne Moraes), cuja saga após ficar tetraplégica conquistou o país e consolidou a carreira de Alinne.
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A própria novela das sete atual, Pega Pega, também traz perfis mais interessantes que os ditos protagonistas: Malagueta (Marcelo Serrado) e Maria Pia (Mariana Santos). O mentor do roubo do hotel Carioca Palace e a ex-assessora de Eric (Mateus Solano) se apaixonaram após ela descobrir sobre o crime e, recentemente, com a caçada ao ex-concierge, os dois ganharam um destaque merecido, brilhando nas sequências da prisão do rapaz. O perfil mais humanizado da dupla é infinitamente mais interessante que a constante hipocrisia de Eric e Luiza (Camila Queiroz), prejudicados ainda pelos fracos desempenhos de Solano e Queiroz e pela total falta de química.
Tempo de Amar está na metade de sua trajetória e Vicente cada dia mais ganha espaço e popularidade junto ao público. A torcida pelo par “Mavicente” (junção dos nomes do mocinho e de Maria Vitória) só cresce a cada capítulo, configurando mais um caso de “desvio de protagonismo” em detrimento de Inácio. Porém, o mote principal da novela é o esperado reencontro entre a mocinha e o português, como previsto na obra de Rubem Fonseca que originou a novela de Alcides Nogueira – e que ainda não ocorreu. Todavia, uma coisa é certa: do jeito que Inácio está, dificilmente o público engolirá que Maria Vitória deixe Vicente e volte para ele.