Mesmo perdendo espaço, Ritinha, de A Força do Querer, tinha que ser de Isis Valverde
20/01/2021 às 1h12
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Em 2017, quando Glória Perez apresentou A Força do Querer para a imprensa, fez questão de dizer que sua história teria um rodízio de protagonismo. Em cada momento do enredo, uma personagem iria se destacar.
E o folhetim é protagonizado por três ótimas personagens, interpretadas por excelentes e lindas atrizes: Paolla Oliveira (Jeiza), Juliana Paes (Bibi) e Isis Valverde (Ritinha). O trio honrou a confiança da autora e a egoísta Sereia ganhou uma intérprete que dominou a essência do papel assim que surgiu em cena.
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A faceira menina de Parazinho foi a responsável pela movimentação das primeiras semanas da novela. Tudo era voltado para a sedutora Ritinha, que não pensou duas vezes antes de jogar charme para o imaturo Ruy (Fiuk), mesmo estando noiva do machista Zeca (Marco Pigossi), com o intuito de conseguir vir para o Rio de Janeiro e conhecer a cidade grande.
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Além de só pensar em si mesma, a personagem sempre teve como principal característica sua paixão pelas águas e a bela cauda de sereia que usa quando está nadando, representando uma espécie de liberdade.
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O perfil de Ritinha tem um quê de místico, muito em função da própria lenda da sereia (figura mitológica que simboliza a sedução mortal, sempre tendo os homens como vítimas) e também da previsão que um índio fez para Zeca e Ruy, logo após terem sido salvos de um afogamento ainda crianças, alertando sobre um misterioso perigo que vinha das águas.
A novela não teve nada de realismo fantástico (ainda bem, pois não cabia no contexto), mas ficava evidente a intenção da autora com essa personagem, ainda que de forma mais subliminar.
A escolha de Isis Valverde foi certeira. Difícil imaginar outra atriz vivendo tão bem essa menina, cujas ações estão sempre entre a ingenuidade e a malícia. Ela consegue despertar ódio e simpatia pela sereia, dependendo do momento.
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Ritinha não é uma má pessoa, mas tem claros desvios de caráter e se mostra sonsa, se aproveitando dos outros quando lhe convém. Afinal, a menina manipula Ruy e Zeca com tranquilidade e já traiu os dois, assim como enganou a família do atual marido, omitindo que Ruyzinho é filho do ex.
Porém, há uma certa pureza em torno da sereia, principalmente em torno dos preconceitos que assolam a sociedade. Tanto que não ficou nada incomodada ou surpresa quando descobriu que Ivana (Carol Duarte) se enxerga como homem, por exemplo. Pelo contrário, conseguiu entender e tratou com naturalidade.
A atriz emprestou seu carisma para o papel e se destaca em todas as cenas, fazendo ainda uma deliciosa dupla com Zezé Polessa, intérprete da interesseira Edinalva. A parceria bem-sucedida delas, inclusive, já pôde ser observada em Beleza Pura (2008), folhetim da saudosa Andrea Maltarolli, onde também foram mãe e filha. Isis protagoniza momentos impagáveis ao lado de Zezé e o bordão Lasquei-me funcionou desde o começo.
Dandara Mariana (Marilda) também participou de engraçadas situações com a colega. E vale destacar a ótima sintonia observada ao lado de Marco Pigossi, sendo necessário citar a densa e dramática sequência em que Ritinha seduziu Zeca na cadeia, após uma intensa discussão. Show dos atores. Os embates da sereia com Joyce também merecem menção, assim como o instante em que as duas se uniram pela primeira vez, surrando Irene (Débora Falabella).
Pena que a personagem tenha perdido importância ao longo do enredo, enquanto Jeiza e Bibi só cresciam. Durante um bom tempo, a policial e a bandida pareciam mais protagonistas do que Ritinha. Apesar do rodízio de protagonismo anunciado por Glória realmente ser observado na trama, ficou evidente que a sereia perdeu espaço, ficando sem rumo, ao contrário das outras duas.
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Tanto que a autora precisou inseri-la em um drama da Joyce para destacá-la nesse período. Na reta final, a menina ganhou destaque novamente, em virtude da reaproximação com Zeca e da iminência da descoberta do verdadeiro pai de Ruyzinho, havendo até uma tragédia, com o caminhoneiro sendo atingido por um tiro disparado por Ruy.
Isis Valverde, que já viveu outra ‘sereia’ na primorosa minissérie O Canto da Sereia, de 2013, merece todos os elogios pelo seu desempenho em A Força do Querer e a trajetória de Ritinha, embora bem irregular, proporcionou para a atriz bons momentos, mesclando situações cômicas com momentos mais dramáticos, sempre tendo uma boa dose de ardileza e inocência nas atitudes dessa sereia que nunca passa despercebida.