A segurança, o talento e a graciosidade das jovens atrizes de Orgulho e Paixão
09/05/2018 às 10h00
Marcos Bernstein está mesmo aproveitando bem a chance de apagar a má impressão de seu trabalho anterior, Além do Horizonte (2013-14). Orgulho e Paixão, atual novela das seis, tem agradado pela boa mescla de comédia, romances e ação, com tudo o que o horário pede. E um dos motivos do bom desempenho é a boa presença de suas principais figuras femininas, como Gabriela Duarte, Alessandra Negrini (estas duas já elogiadas anteriormente no TV História), Vera Holtz e, especialmente, as jovens atrizes que integram o eixo principal da trama.
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Nathalia Dill, Anaju Dorigon, Pamela Tomé, Chandelly Braz e Bruna Griphao (as cinco irmãs Benedito) e Agatha Moreira (a ricaça Ema Cavalcante) foram escolhidas para dar vida a mulheres de vivências tão diferentes e cujos caminhos e desatinos se complementam no enredo baseado nas obras da escritora inglesa Jane Austen. E todas elas, sem exceção, têm brilhado em vários momentos, mesclando força, doçura, segurança e verdade cênica.
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Elisabeta (Nathalia Dill), feminista por convicção, luta para romper os conceitos vigentes até então e fazer valer os seus sonhos. Tal visão se confronta com a chegada de Darcy (Thiago Lacerda), que carrega o machismo da cultura aristocrática da época. O contraponto entre os pensamentos deles é temperado pelo intenso amor que sentem um pelo outro, para desespero da arrivista Susana (Negrini), apaixonada pelo milionário.
A personalidade impetuosa da personagem, que por vezes entra em confronto com a mãe, Ofélia (Holtz), obcecada por casar as filhas, tem sido um presente e tanto para Nathalia Dill. A talentosa intérprete soube incorporar o perfil de seu papel com o objetivo de evitar deixar a jovem muito arrogante, embora às vezes enfie os pés pelas mãos. Também merece elogios sua intensa química com Thiago Lacerda – os dois já formaram um par em Alto Astral (2014-15), mas não com a mesma sintonia que apresentam hoje.
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Jane (Pamela Tomé) é a típica Cinderela. Sonhadora e romântica, descobriu o amor ao lado de Camilo (Maurício Destri), grande amigo de Darcy e filho da amarga fazendeira Julieta Bittencourt (Gabriela Duarte). Em meio ao jogo de intrigas da mãe, o rapaz mudou sua personalidade e não se furtou a enfrentá-la para garantir sua felicidade ao lado da jovem.
Um perfil difícil, que poderia cair na chatice a depender do desenvolvimento, mas que ganhou bons contornos e nuances pela delicada interpretação de Pamela, além do acerto de seu par com Maurício Destri. Vale lembrar que ela estava escalada para viver a Maria de Onde Nascem os Fortes, novela das 23h, mas foi remanejada para a trama das seis, enquanto Alice Wegmann herdou a protagonista do enredo de George Moura e Sérgio Goldenberg. Uma decisão justa.
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Cecília (Anaju Dorigon) é a mais caseira e seu maior interesse são os livros. Quase sem vaidades, a jovem desperta a paixão do mauricinho Rômulo (Marcos Pitombo), um rapaz totalmente diferente do seu universo, e logo se casam, sem imaginar que este romance está na mira de Fani (Tammy di Calafiori), misteriosa governanta da mansão de Tibúrcio, disposta a destruir a felicidade dos noivos para cumprir sua vingança.
A personagem marca a volta de Anaju à Globo, após uma passagem pela malfadada trama medieval Belaventura (2017-18), da RecordTV. A talentosa atriz também transparece delicadeza e segurança em sua interpretação e forma um arrebatador casal ao lado de Marcos Pitombo – inclusive, os dois emocionaram bastante nas recentes sequências do casamento de Rômulo e Cecília.
Mariana (Chandelly Braz) e Lídia (Bruna Griphao), em compensação, tem o entrecho menos atrativo da novela. Envolvidas em um desinteressante triângulo amoroso com o malandro Uirapuru (Bruno Gissoni), as duas já protagonizaram inúmeras brigas por causa do sedutor de araque. A primeira, inclusive, caiu na lábia do rapaz e sofreu ao descobrir toda a verdade sobre ele, enquanto este era desmascarado na frente de todos. Com isto, a irmã aproveitou a oportunidade para fugir com o espertalhão e tem causado a preocupação da família, com medo de que ela seja vítima do mesmo golpe.
Ainda assim, Chandelly e Bruna têm tido boas chances de brilhar. A primeira emocionou com a desilusão amorosa de sua personagem e protagonizou uma poética cena em que tentou se matar afogada, sendo salva por Coronel Brandão (Malvino Salvador), o Motoqueiro Vermelho, que é apaixonado por ela. A segunda, por sua vez, adotou um certeiro tom infantilizado para Lídia, que se acha sensual, mas é imatura demais pra isso. Outro surpreendente talento da atriz é sua versão para Erva Venenosa, clássico de Rita Lee, incluída na trilha sonora da trama.
Ema (Agatha Moreira) é a “casamenteira oficial” do Vale do Café. Neta do falido Afrânio, Barão de Ouro Verde (Ary Fontoura), nunca desconfiou da situação financeira da família até descobrir a verdade por meio de Julieta. Amorosa e amiga fiel de Elisabeta, já teve problemas com a amiga por causa do seu desejo de ver a felicidade dela ao lado de Darcy – como uma forma de esconder o sofrimento por sua história ao lado de Jorge (Murilo Rosa). Até o momento em que ela conheceu o jovem Ernesto (Rodrigo Simas), que vem aos poucos quebrando o gelo em seu coração, embora os dois não se deem conta.
O tom da personagem, nas chamadas iniciais e nos primeiros capítulos, dava a impressão de que o tom da atuação estaria muito efusivo e enérgico para o perfil mais romântico da personagem. Felizmente, essa impressão se quebrou em pouco tempo e Agatha Moreira emplacou mais um ótimo tipo para sua ainda curta – mas notável – carreira. Salta aos olhos também a química com Rodrigo Simas, seu parceiro dos tempos de Malhação – em contraponto à inexistente sintonia com Murilo Rosa. E a atriz emocionou no capítulo do último sábado, em excelentes sequências demonstrando a revolta de Ema ao descobrir a ruína da família.
Em conjunto com as seis principais personagens, outras três jovens vêm ganhando forma à medida que o enredo avança: Ludmila (Laila Zaid), mulher moderna, feminista e de grande afinidade com Elisabeta; a já citada Fani, que representará um grande tormento para Cecília e Rômulo; e Charlotte (Isabella Santoni), irmã de Darcy, que voltou ao país com o avô Lorde Williamson (Tarcísio Meira) para cicatrizar a decepção de também ter sido enganada por Uirapuru.
E verifica-se que também nestas três mulheres foram acertadas as escalações de suas intérpretes. Laila, em sua terceira parceria com o autor Marcos Bernstein, é um talento que fazia falta; Tammy, egressa da Record, destaca-se com a frieza amarga de sua Fani; e Santoni demonstra estar muito mais segura em cena, apagando de vez a apatia de sua personagem anterior, a irritante Letícia de A Lei do Amor.
Todo este conjunto de bons perfis, diferentes personalidades e jovens talentosas atrizes tem agregado ainda mais valor a Orgulho e Paixão. A força, a versatilidade e a competência destas mulheres funcionou perfeitamente e resulta em grandes cenas protagonizadas pelas mesmas. E ainda há muito mais por vir, deixando a esperança de que o bom nível apresentado se mantenha.