Novela transformou vida de família em pesadelo: “Nunca vi nada igual”

13/11/2022 às 12h45

Por: Thell de Castro
Imagem PreCarregada

A vida de uma família do Rio de Janeiro mudou radicalmente quando Ana Paula (Cláudia Abreu) deu um número de telefone no capítulo de 31 de agosto de 1988 de Fera Radical, novela produzida naquele ano pela Rede Globo.

CONTINUA DEPOIS DA PUBLICIDADE

Na trama, a personagem foi sequestrada por Vitor (Reinaldo Gonzaga), que pede o número do telefone de sua casa. Ela responde: 322-0001.

CONTINUA DEPOIS DA PUBLICIDADE

“O inferno da família Predovic fica ali no cantinho da sala, perto do sofá. Cercado de tapetes persas, todo branco, estilo moderno, lá está ele, incômodo e barulhento, sobre a mesa de mármore”, destacou matéria de Marceu Vieira no Jornal do Brasil de 10 de setembro do mesmo ano.

“A Cláudia está?”

LEIA TAMBÉM:

Desde a exibição da cena, Janko e Doli Predovic, que moravam em São Conrado, bairro nobre da Zona Sul do Rio de Janeiro, mal conseguiam dormir. Diariamente, por um bom tempo, receberam centenas de chamadas, inclusive interurbanos a cobrar, numa época que nem todo mundo tinha telefone em casa.

Todos queriam falar com alguém da “família Flores” ou com Cláudia, personagem de Malu Mader, que era a protagonista e fazia muito sucesso na novela.

CONTINUA DEPOIS DA PUBLICIDADE

“Eu sou quase cidadão mundial e nunca vi nada parecido em qualquer lugar do Planeta”, esbravejou Janko ao JB.

“Isso reflete os abusos da Rede Globo, dona de enorme poder sobre os brasileiros, que simplesmente se calam e não reagem. Alguém tinha de começar esta briga. Que comece então por mim”, completou o iugoslavo naturalizado sueco, que tinha 47 anos na época.

Doli, nascida no Brasil, estava tão revoltada quanto seu companheiro.

“Reinam a falta de respeito e a impunidade neste país, onde os poderosos é que fazem as regras. Em lugares civilizados, isso é crime previsto em lei. Mas aqui não existe lei contra o poder”, destacou.

Os filhos do casal, Janko Jr. e Mariana, na época, respectivamente, com sete e cinco anos, também se incomodavam com as ligações. A menina, inclusive, pedia para a mãe desligar o aparelho antes de ir dormir.

Chamadas a cobrar

Segundo a reportagem do JB, o pico dos telefonemas acontecia no exato momento em que a novela entrava no ar, às 17h55. Segundo a emissora, nada menos que 1,2 milhão de pessoas sintonizavam Fera Radical diariamente apenas no Rio de Janeiro.

“Em São Paulo, de onde chegam dezenas de chamadas a cobrar à procura de Cláudia, este número é ainda maior: 1,5 milhão a cada capítulo”, enumerou o texto.

A matéria também destacou que o casal procurou o departamento jurídico da Globo, que foi sucinto: “resumiram que os números de telefone utilizados pela emissora são escolhidos aleatoriamente pelos autores e que, por isso, nada pode ser feito”.

“A TV Globo está roubando uma propriedade minha”, reclamou Janko. “Mandei carta a todos os jornais e não me esqueci de enviar uma cópia ao Roberto Marinho”, continuou.

“Tomamos conhecimento do uso do nosso número porque, de uma hora para outra, o telefone não parou de tocar. A partir disso descobrir quem era Cláudia foi fácil”, completou, explicando que nunca tinha visto a novela.

Fera Radical teve 203 capítulos e foi exibida pela Globo entre 28 de março e 18 de novembro de 1988. A trama foi exibida pelo canal Viva em 2018 e está disponível no Globoplay.

Utilizamos cookies como explicado em nossa Política de Privacidade, ao continuar em nosso site você aceita tais condições.