Show de jornalismo e muitas reprises: como a pandemia afetou a TV em 2020

30/12/2020 às 0h15

Por: Nilson Xavier
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A minha retrospectiva do ano bate com a da maioria de meus colegas de profissão. Então, tentarei um olhar mais particular sobre a TV de 2020. Bem particular.

Consenso que 2020 é um ano para esquecer. Inclusive para a TV, ante as dificuldades para a produção de programas por causa da pandemia de Covid-19.

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O jornalismo deu show – com a Globo, Globonews e CNN – mantendo o público informado sobre tudo relacionado à pandemia. A cobertura jornalística da doença foi o grande destaque na TV brasileira em 2020.

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Realities shows também conseguiram se manter, mas os que merecem menção foram A Fazenda e a edição histórica do BBB, uma catarse coletiva poucas vezes vista na TV brasileira. Muito impulsionadas pela situação de quarentena, diga-se de passagem – mas sem desmerecer os ótimos elencos de participantes e seus roteiros, essenciais para o sucesso que obtiveram.

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Novelas x cobertura de televisão

Sem novelas inéditas, perde também a cobertura de televisão. É uma cadeia em que todos estão unidos. Se um ganha, ganha-se de todo lado. E é inversamente proporcional. Se a novela faz sucesso, todos querem ler sobre. E quem escreve terá sempre assunto, porque tudo que se publica chama audiência.

Eu achava que o pior cenário para quem escreve sobre TV fosse uma novela de baixa audiência e repercussão (tipo O Sétimo Guardião e A Lei do Amor). Nestes casos, nada do que você escreve desperta no público a vontade de ler. A audiência na TV é proporcional nas colunas de televisão.

Aí veio a pandemia e a interrupção de novelas inéditas. Não há cenário pior. Você vai publicar o quê? Análises de novelas já exibidas, talvez? Requentar aquela pauta que já foi gasta na época em que passou a novela?

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Reprises de novelas

No início da quarentena, com as ruas desertas e a maioria da população obrigada a ficar em casa, a Globo nadou de braçada nas escolhas de suas reprises, pelo menos nas faixas das sete e nove da noite, de maior audiência. Na verdade, escolha de novela para reexibição é uma incógnita. Novo Mundo, às seis, foi um sucesso quando exibida em 2017, mas desapontou na reapresentação. A explicação mais plausível foi que a novela estava ainda muito fresca na lembrança do público.

O sucesso da reprise de Fina Estampa pode ser explicado pelo longo tempo entre a exibição original e o repeteco (de 7 a 8 anos). Outra explicação é a sua proposta: o mero escapismo e fuga da realidade, com pouca verossimilhança, em um momento em que o público queria apenas desopilar. Talvez isso explique também o porquê do desempenho “quase morno” de A Força do Querer hoje, considerada uma das melhores novelas da década, mas muito recente e com uma pegada mais realista.

Brilhou de fato Totalmente Demais, novela leve do horário das sete, originalmente exibida entre 2015 e 2016, que repetiu sua força em 2020. Na sequência, Haja Coração (de 2016), outra trama que fez algum sucesso em sua época, mas com uma história fraca demais para o público querer ver novamente agora.

O SBT conseguiu se manter quarentena adentro com Poliana inédita, por um tempo (até julho), já que as gravações da novela, como de praxe na emissora, estavam muito adiantadas. A Record seguiu a Globo com paralisação, reprise e posterior retorno das gravações, mas foi a única emissora a apresentar em 2020 capítulos inéditos pós-paralisação (de Amor Sem Igual). A Globo preferiu esperar 2021 enquanto o SBT desistiu.

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Outros programas

Programas com auditório, como o Domingão do Faustão e a nova temporada do Que História é Essa, Porchat (na TV a cabo), bem que tentaram, mas suas plateias fazem muita falta, imprescindíveis que são para transmitir ao público de casa o calor do palco. Por outro lado, Pedro Bial e Serginho Groissman, com convidados remotos e sem plateia, foram bem com pautas e entrevistas interessantes. Destaque para os convidados de Bial sobre os 70 anos da televisão.

Por falar nos 70 anos, a TV Cultura apresentou o melhor especial para celebrar a efeméride: a série documental Os Campeões de Audiência, em três episódios semanais exibidos em setembro.

O Globoplay seguiu lançando séries que já estavam prontas (Hebe, Desalma, As Five, Arcanjo Renegado, Todas as Mulheres do Mundo) e séries idealizadas durante a quarentena (Sinta-se em Casa e Dário de um Confinado). Porém, a melhor série nacional do ano não é do Grupo Globo: Bom dia Verônica, da Zola Filmes/Netflix.

Destaco as melhores produções de dramaturgia de 2020, em minha opinião: as novelas Éramos Seis (a metade final) e Amor de Mãe (a primeira parte); a série Bom Dia Verônica e a temporada especial Sob Pressão Plantão Covid; os documentários Em Nome de Deus e Emicida AmarElo, É Tudo Pra Ontem (Laboratório Fantasma/Netflix); e os especiais Falas Negras e Gilda, Lúcia e o Bode.

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Com exceção dessas pérolas, 2020 na TV foi para mim um ano esquecível, pelo pouco conteúdo que produzi por causa da falta de novelas inéditas. Não tive vontade de rever nenhuma das opções que as emissoras disponibilizaram em reprise, com exceção, claro, de algumas antigonas no Globoplay e canal Viva.

Para finalizar, um adendo sobre Amor de Mãe: lamento muito que a excelente novela de Manuela Dias tenha sido a produção mais prejudicada com a pandemia e aguardo ansioso pelo desfecho de Lurdes e Domênico. “Como esta noite findará…”

SOBRE O AUTOR
Desde criança, Nilson Xavier é um fã de televisão: aos 10 anos já catalogava de forma sistemática tudo o que assistia, inclusive as novelas. Pesquisar elencos e curiosidades sobre esse universo tornou-se um hobby. Com a Internet, seus registros novelísticos migraram para a rede: no ano de 2000, lançou o site Teledramaturgia, cuja repercussão o levou a publicar, em 2007, o Almanaque da Telenovela Brasileira.

SOBRE A COLUNA
Um espaço para análise e reflexão sobre a produção dramatúrgica em nossa TV. Seja com a seriedade que o tema exige, ou com uma pitada de humor e deboche, o que também leva à reflexão.

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