Ontem, dia 21 de novembro, o SBT demitiu Moacyr Franco. Podemos dizer que a emissora demitiu um cantor, um apresentador, um humorista, um ator, um compositor. E todos eles se encontram em Moacyr. Entretanto, nós, espectadores, não devemos aceitar sua demissão.

A carreira de Moacyr começou bem cedo, aos 17 anos. Ele ganhou um concurso de melhor cantor da Rádio Clube de Ribeirão Preto, interior de São Paulo. Nesta ocasião, além de ter a chance de mostrar o seu talento musical, conheceu o redator Aloisio Silva, amigo de Manoel de Nobrega.

De cantor de rádio, foi para a televisão e virou um integrante da Praça da Alegria, da TV Paulista, no final dos anos 50.

Moacyr interpretava o personagem Mendigo, que fez um grande sucesso com um simples bordão: “me dá um dinheiro aí?”. A frase ficou tão popular que se transformou em uma marchinha de carnaval, sendo lembrada até hoje.

A carreira na televisão e na música andavam lado a lado. Muitas canções estiveram nas paradas de sucesso: Suave é a noite, Pedágio e Eu Nunca Mais vou te Esquecer embalaram a vida dos brasileiros naquela década.

Em 1971, Franco foi para a Rede Globo e ali apresentou o Moacyr Franco Especial, primeiro programa de variedades apresentado por ele, tendo grande sucesso e revelando muitos artistas. No ano seguinte o programa foi reformulado e virou Moacyr Franco Show, tornando-se um programa semanal.

Com a saída de Silvio Santos da Globo, uma parte do domingo ficou com Moacyr, que, ao lado de Pepita Rodrigues, revelava talentos na atração Moacyr TV. Anônimos interpretavam cenas de novelas com atores consagrados e, aquele que se saísse melhor, levava um carro zero km.

Infelizmente, devido a um aneurisma, Moacyr ficou um tempo afastado da televisão, mas, mesmo longe dos holofotes, sua música de carnaval, Turbilhão, foi o grande sucesso de 1978.

Após se recuperar, assim que o SBT entrou no ar, em agosto de 1981, o artista se tornou uma das principais estrelas da nova emissora. Moacyr Franco Show seguia o mesmo roteiro de sua época da Globo e mostrava toda sua versatilidade.

Essa versatilidade ficou mais evidente quando Moacyr assumiu um programa que não era seu, o A Mulher é um Show, comandado por J. Silvestre, uma das estrelas da TVS, saiu brigado da emissora, largando tudo de última hora.

Silvio apresentou algumas edições e deixou Moacyr no comando, mostrando que sabia levar um programa diferente daquele que apresentava.

No meio da década de 1980, Moacyr decidiu sair do SBT para se tornar deputado federal por São Paulo e, nesse período, até apresentou a Praça Brasil, comandada pelo seu amigo Carlos Alberto de Nobrega, na Bandeirantes.

Entre idas e vindas da TV, compôs canções que viraram grandes sucessos na voz de outros cantores: Ainda ontem chorei de saudade, Se eu não puder te esquecer, Dia de formatura, entre outras.

Em 1997, Moacyr retornou ao SBT trazendo um programa idealizado por ele mesmo: Concurso de Parodias. Na atração, populares subiam ao palco para mostrarem suas versões bem humoradas de clássicos da nossa música.

De 1997 até 2017, Moacyr fez muito no SBT: trabalhou em 1999 com Gorete Milagres no humorístico Ô…Coitado, ficando apenas uma temporada após desentendimentos com a atriz; em 2000, sob a direção de Wilton Franco, apresentou Pequenos Brilhantes, uma versão do Gente Inocente da Globo; estrelou o humorístico Meu Cunhado, ao lado de Ronald Golias, produção exibida em 2004, mas gravada em 2000 – Silvio deixou na gaveta e fez com que muitos episódios perdessem o sentido.

Foi na Praça é Nossa que criou um grande personagem de muito sucesso: Jeca Gay. O bordão “Chique no úrtimo!” fez sucesso e até uma música sobre o personagem foi lançada.

Moacyr foi desligado do SBT depois de 20 anos de trabalho. A emissora foi duramente criticada nas redes sociais por essa decisão.

Porém, a televisão de Silvio Santos é uma empresa como outra qualquer e demitiu muitos funcionários esse ano, assim como o setor automobilístico, o setor imobiliário, o setor bancário… Sabemos que hoje, no Brasil, mais se demite do que se admite.

A carta de demissão que Moacyr recebeu também foi recebida por milhões de brasileiros ao longo do ano e todos nós estamos sujeitos a isso, mas não devemos demitir Moacyr Franco e muitos menos esquecer sua história brilhante na televisão, no rádio e no cinema.

A carta de recomendação desse grande artista é o carinho e respeito do público. O seu talento jamais será desligado, seja qual for a empresa.


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Fábio Marckezini é jornalista e apaixonado por televisão desde criança. Mantém o canal Arquivo Marckezini, no YouTube, em prol da preservação da memória do veículo. Escreve para o TV História desde 2017 Leia todos os textos do autor