Laços de Família teve a melhor Helena, mas Capitu foi a verdadeira protagonista

01/04/2021 às 13h00

Por: Sergio Santos
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As novelas de Manoel Carlos têm algumas peculiaridades e uma delas é a ausência da figura da mocinha. O autor ficou marcado pela criação de suas protagonistas, todas chamadas de Helena. E os enredos sempre são movidos por elas, com raras exceções. Mas nunca foram as clássicas heroínas românticas. São perfis mais maduros e repleto de controvérsias.

Laços de Família, que está terminando mais uma passagem pelo Vale a Pena Ver de Novo, apresenta a melhor Helena, interpretada magistralmente por Vera Fisher. O irônico é que na história há, sim, uma mocinha: a Capitu (Giovanna Antonelli).

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A personagem é de um núcleo secundário da história, mas é possível constatar que representa a figura da mocinha sofredora, ainda que Maneco sempre tenha fugido do clichê em seus dramas centrais. O próprio nome da personagem já é bem característico. Capitu recebeu o nome do pai, Pascoal (saudoso Leonardo Villar), em virtude do clássico Dom Casmurro, de Machado de Assis.

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Se no romance o leitor fica eternamente na dúvida sobre a traição ou não de Capitu (afinal, ela traiu ou não Bentinho?), na novela há também a controvérsia sobre a imagem da menina que esconde de todos ser uma garota de programa.

Muitos que convivem com Capitu ficam na dúvida: ela é prostituta? O questionamento interno de cada personagem não deixa de ser uma boa referência ao livro de Machado. No entanto, a construção do papel é toda voltada para a mocinha tradicional. A prostituição, embora seja um pouco ‘glamourizada’ no enredo em virtude da ambientação na zona sul do Rio de Janeiro – o tradicional bairro do Leblon -, o sofrimento de Capitu com seu trabalho é visto sempre, principalmente através da figura aterrorizante de Orlando (Henrique Pagnoncelli), um cliente que se transforma em perseguidor. Ela ainda enfrenta as chantagens do ex, Maurinho (Luiz Nicolau), e o ódio de Clara (Regiane Alves), esposa do seu amor de infância, o íntegro Fred (Luigi Barricelli).

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A saga da prostituta, que trabalha para sustentar o filho e seus pais idosos, envolve o telespectador com facilidade. Ainda há uma bonita aproximação entre Capitu e Paulo (Flávio Silvino), iniciando uma relação de amor platônico da parte dele. Também ocorre uma boa inserção da personagem no núcleo principal através da amizade com Helena, muito em virtude da paixão por Fred. Os dois cresceram juntos e a protagonista a conhece desde criança. As cenas com Vera Fisher não são muitas, mas sempre atrativas.

É inegável a importância de Capitu na carreira de Giovanna Antonelli. Foi um verdadeiro divisor de águas. Graças a ela que a atriz ganhou sua primeira protagonista e em pleno horário nobre no ano seguinte: a Jade, de O Clone (2001). Mas a verdade é que a garota de programa foi o papel mais denso da intérprete até hoje, com todo respeito aos fãs da vilã Bárbara (Da Cor do Pecado) e da delegada Helô (Salve Jorge).

O fato de não ser sido um perfil central em nada afetou o destaque. Foram muitas sequências tensas e brilhantemente defendidas por Giovanna. Uma das melhores foi o momento em que Capitu contou aos pais que era prostituta. Aliás, que ótima sua parceria com os grandes Leonardo Villar e Walderez de Barros. Sua química com Luigi Barricelli é outro êxito da novela.

Laços de Família fez sucesso novamente no Vale a Pena Ver de Novo e um dos bons motivos para rever esse clássico de Manoel Carlos foi o belo desenvolvimento de Capitu, a mocinha que comovia o público com sua avalanche de dramas.

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