Nunca reprisada: Globo prepara volta da última novela das oito de Janete Clair

Atualmente, algumas novelas de Janete Clair podem ser conferidas pelos assinantes do Globoplay, como Pecado Capital (1975), O Astro (1977) e Pai Herói (1979). Das tramas que sobreviveram, ainda faltam entrar alguns de seus maiores sucessos, como Irmãos Coragem (1970) e Selva de Pedra (1972).

No entanto, a Globo prepara o resgate da última novela das oito escrita pela autora. A trama, que nunca foi reprisada, foi produzida um ano antes da morte dela.

Dupla

Estamos falando de Sétimo Sentido, exibida entre março e outubro de 1982. A novela, que teve 166 capítulos, foi estrelada por Regina Duarte e Francisco Cuoco, dupla que brilhou em Selva de Pedra, dez anos antes.

A atriz vivia a paranormal Luana Camará, que encarnava o espírito da atriz italiana Priscila Capricce. Já o galã deu vida à Tião Bento, enquanto Carlos Alberto Riccelli foi Rudi.

Natália do Valle, Cláudio Cavalcanti, Eva Todor e Armando Bógus, entre outros, completaram o elenco, que ainda contou com Nicette Bruno pela primeira vez numa produção da emissora.

Esquecida

Esquecida pela Globo, a produção não conquistou os recordes de audiência que outras obras da autora conquistaram. A primeira metade transcorreu morna; os números subiram quando Priscila entrou em cena.

“Infelizmente, desta vez, Janete não foi a fundo nas tramas paralelas, centrando todos os seus trunfos nas presenças de Luana, Priscila, Tião Bento e Rudi”, descreveu Ismael Fernandes no livro Memória da Telenovela Brasileira.

Como não poderia deixar de ser, Sétimo Sentido sofreu com inúmeros cortes impostos pela Censura Federal.

A autora chegou a comentar que a trama ficou “sem pé nem cabeça”. Um exemplo: Luana e Rudi não podiam se beijar porque ele já era casado na história. Sem saber disso, o público achou que faltou romance na produção.

Em outra polêmica, estudiosos da doutrina espírita alegaram que era impossível que um espírito se apossasse de uma pessoa como Priscila fazia com Luana na trama.

Despedida

Quando faltavam apenas 40 capítulos para a novela terminar, Janete Clair teve que passar por uma cirurgia.

Na surdina, a Globo providenciou um substituto: Silvio de Abreu, que terminou de escrever a história. A parceria funcionou da seguinte forma: ele fazia um capítulo, levava para Janete, que corrigia e alterava o que achava necessário. Assim foi até o penúltimo capítulo.

“É de praxe entre os autores de novela escrever sozinho o capítulo final, fechar a seu gosto aquela obra que teve início em sua cabeça. Porém, em um ato de generosidade e gratidão, Janete disse a Silvio que eles dividiriam a escrita do fim da novela”, informou Fábio Costa em seu livro “Novela, a Obra Aberta e Seus Problemas”.

A autora acabou morrendo no ano seguinte, em 16 de novembro de 1983, aos 58 anos, enquanto escrevia Eu Prometo junto com Glória Perez.

Ela pediu a faixa das oito para a Globo, mas a Globo acabou ressuscitando a faixa das dez para acolher a trama, que acabou sendo concluída pela jovem autora.