ANÁLISE

Sucesso da reprise de Alma Gêmea mostra que Globo não aprendeu a lição

15/11/2024 às 17h41

Por: André Santana
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Priscila Fantin e Eduardo Moscovis em Alma Gêmea

Enquanto a reprise de Alma Gêmea conquista excelentes resultados no final das tardes da Globo, a inédita Mania de Você afugentou o público e virou saco de pancadas da trama das sete, Volta por Cima.

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Uma rápida comparação entre as duas novelas, que, registre-se, não têm nada a ver entre si, mostra alguns itens que estão em falta na produção escrita por João Emanuel Carneiro e sobram na obra de Walcyr Carrasco.

Fica a impressão que a Globo não aprendeu uma importante lição que foi dada pelo recente sucesso de tramas como Alma Gêmea, O Cravo e a Rosa, Chocolate com Pimenta e Mulheres de Areia: o público sente falta de um novelão tradicional.

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Trama consistente

Com uma trama de reencarnação, Alma Gêmea traz uma história consistente, com o bem e o mal bem definido, sem querer reinventar a roda.

Luna (Liliana Castro) é tragicamente assassinada no início da história, mas reencarna quase instantaneamente como Serena (Priscila Fantin). Ao crescer, a heroína encontra Rafael (Eduardo Moscovis), sua alma gêmea.

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Mesclando espiritismo, misticismo e fantasia, Alma Gêmea chega a uma receita que agrada bastante ao público de novelas. A trama tem uma atmosfera de conto de fadas, que parece bem adequada à faixa das 18 horas.

Mas nada impediria a novela de ser exibida na faixa das sete, ou até mesmo, às nove.

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O espiritismo, aliás, costuma agradar o fã de novelas. Tanto que tramas como A Viagem (1994) e Escrito nas Estrelas (2010) também fizeram (e continuam fazendo) muito sucesso.

História atemporal

Adriana Esteves (Catarina) e Eduardo Moscovis (Petruchio) em O Cravo e a Rosa
Adriana Esteves (Catarina) e Eduardo Moscovis (Petruchio) em O Cravo e a Rosa

Em suas obras na faixa das seis da Globo, Walcyr Carrasco consagrou os romances de época açucarados, o que se mostrou uma fórmula imbatível. O Cravo e a Rosa (2000), Chocolate com Pimenta (2003) e Êta Mundo Bom! (2016) também bebem desta fonte.

A receita funciona porque o contexto de época permite recursos folhetinescos mais clássicos, como uma carta perdida ou um mal-entendido agravado pela distância. Além disso, permite que a narrativa seja mais ingênua.

Tudo isso faz com que a história funcione em qualquer época que seja exibida. Como não há elementos contemporâneos e nem um diálogo explícito com a data em que a novela foi realizada, a trama pode ser exibida e reexibida sem causar estranheza.

Personagens marcantes

Fernanda Souza em Alma Gêmea
Fernanda Souza em Alma Gêmea

Outra característica de Walcyr Carrasco em suas novelas das seis é a aposta em tipos carismáticos, divertidos e que geram imediata empatia junto ao público. Há uma gama de personagens em Alma Gêmea que dão sustentação à história.

Tipos como Mirna (Fernanda Souza) ou Crispim (Emilio Orciollo Netto), ou ainda Divina (Neusa Maria Faro), Osvaldo (Fulvio Stefanini) e Olívia (Drica Moraes), vivem situações que funcionam como esquetes dentro da trama. O público se envolve com as gags e repete os bordões dos personagens.

Estes personagens funcionam como curingas dentro da narrativa. Quando a trama principal se esgota, o autor joga luz sobre os coadjuvantes, que garantem a diversão mesmo quando a história não está lá essas coisas.

Por isso, Alma Gêmea ultrapassa os 200 capítulos sem cansar o público.

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