Nada feito: Globo negou último pedido de autora com câncer terminal
06/03/2024 às 17h40
Há pouco mais de 40 anos, em 19 de setembro de 1983, a Globo ressuscitava o horário das dez da noite para novelas com Eu Prometo, especialmente para abrigar Janete Clair, um dos maiores nomes da história da televisão brasileira. A trama contou com nomes como Francisco Cuoco, Dina Sfat, Renée de Vielmond e então novatos, como Malu Mader (foto abaixo).
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Sofrendo havia quatro anos com um câncer no intestino e vendo seu quadro agravado, Janete sabia que aquela seria sua última novela. Por isso mesmo, pediu para a emissora deixá-la produzir uma história para a faixa das oito, onde se consagrou com sucessos como Irmãos Coragem, Selva de Pedra, Pecado Capital, Pai Herói e muitos outros.
Mas a Globo também sabia da gravidade do estado de saúde da novelista e preferiu não arriscar. Conseguiu convencer Janete a aceitar o horário das dez, que não era usado desde 1977, e, posteriormente, colocou a novata Glória Perez como sua colaboradora.
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Nascia, assim, Eu Prometo, que infelizmente não teve a repercussão das novelas anteriores de Janete.
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“Uma boa novela, muita garra do elenco e da equipe, apesar da morte da autora. Infelizmente a repercussão não atingiu o nível apresentado e a ‘volta’ do horário das dez não surtiu efeito”, resumiu Ismael Fernandes no livro Memória da Telenovela Brasileira.
Crise política
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Em foco, a crise na vitoriosa carreira política de Lucas Cantomaia (Francisco Cuoco). Apaixonado por Kelly (Renée de Vielmond), Lucas abandona a esposa, Darlene (Dina Sfat), tornando-se alvo de críticas da opinião pública e de manobras escusas de seu genro e assessor, Albano (Ney Latorraca) – que explora, inclusive, a prisão de Justo (Marcos Paulo), condenado por homicídio.
Eu Prometo acabou sendo mesmo o último trabalho de Janete Clair, que morreu no dia 16 de novembro de 1983, aos 58 anos.
Ela fez até o capítulo 60 da história, que foi assumida por Glória Perez, com supervisão de texto do marido de Janete, Dias Gomes (1922-1999).
“Ela sabia que estava morrendo”
Ao projeto Memória Globo, Glória contou que Janete trabalhou até o último minuto.
“Ditava o capítulo que cabia a ela e eu apenas anotava. Ela sabia que estava morrendo (…) Como nos encontrávamos todos os dias, fui acompanhando passo a passo aquele piorar. Quando Janete achou que não chegaria ao fim da novela, ela me deu instruções de como queria que a história terminasse (…) todos os desfechos”, explicou.
Uma justa homenagem foi feita no último capítulo da produção, exibido em 17 de fevereiro de 1984. Foram mostradas imagens da novelista e fotos do elenco ao som da música “Eternamente”, cantada por Gal Costa, além de uma frase de autoria da Usineira de Sonhos, como era conhecida a autora.
“Eu gostaria que o ser humano acreditasse que existe uma força capaz de mudar sua vida. É bom confiar em si mesmo e esperar um novo amanhecer”.