Remake de Pantanal na Globo precisará de muitas adaptações

17/10/2021 às 21h20

Por: Nilson Xavier
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Que Pantanal é uma beleza de novela, não resta dúvida. As paisagens naturais somadas à estética, à direção e elenco e à força da trama de Benedito Ruy Barbosa conquistaram a audiência em 1990, afinal tudo ali era novidade naquele momento. Entretanto, esse sucesso se repetiria hoje, em que o público tem outras demandas e o frescor de Pantanal virou lugar comum na TV brasileira?

A Globo está produzindo o remake da novela que tanto lhe deu dor de cabeça no passado. Benedito, diretores e atores entusiasmados. Quando foi feito o anúncio da novidade, o público festejou e encheu as redes sociais com apostas sobre a nova Juma Marruá, o novo Jove e o Velho do Rio.

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É bom lembrar que um remake, por mais que se respeite o texto original, é uma outra novela, feita em momento e realidade diferentes, que abraça um público parcialmente novo, que não conheceu a produção original.

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Porém, longas cenas contemplativas de voos de tuiuiús ao som de músicas instrumentais cativariam o novíssimo telespectador de 2020, acostumado ao ritmo frenético que a TV atingiu, influenciada por videogames e séries estrangeiras das últimas décadas?

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Naquele ano, a divulgação do Pantanal pela TV Manchete fez o brasileiro descobrir um novo destino turístico. Se o bioma já não podia ser chamado de virgem naquela época, imagina hoje em que sua exploração atingiu níveis alarmantes, preocupando toda a sociedade.

Suas belezas naturais por si só já não encantam mais o público de televisão, que acostumou-se aos canais de natureza da TV a cabo popularizados a partir da década de 1990.

O erotismo foi outro chamariz poderoso para a novela da Manchete. Os banhos de rio dos atores e atrizes nus seduziram até quem era alheio ao gênero. Vivíamos uma época mais permissiva para a televisão, em que Isadora Ribeiro desfilava de seios à mostra na abertura de Tieta. Hoje, tudo isso é impensável na novela das nove da Globo. Talvez seja possível, mas não da forma acintosa como nos bons tempos da Manchete.

O diretor Jayme Monjardim repetiu a fotografia cinematográfica de Pantanal em várias outras produções.

Atualmente, é mais fácil conseguir os mesmos efeitos plásticos (e superá-los) com os recursos tecnológicos que dispomos. O HDTV fez o cinema chegar à televisão, abrindo um leque enorme de possibilidades estéticas, enquanto a tecnologia moderna imprime um hiper-realismo que era impensável em 1990.

Se a equação fotografia de cinema, belezas naturais das imagens e ritmo contemplativo deixaram de ser novidades e não são mais suficientes para conquistar o público, resta o texto e a direção fazerem o diferencial. O próprio Benedito repetiu vários dos ingredientes de narrativa de Pantanal em suas duas novelas seguintes: Renascer (1993) e O Rei do Gado (1996).

Claro que uma empresa como a Globo não coloca nada no ar sem antecipadamente estudar e analisar, sem decantar todas as possibilidades. As variáveis que descrevi certamente foram levantadas e levadas em consideração. Cabe a Bruno Luperi (foto abaixo), neto de Benedito que assina o remake, as adaptações para tornar a obra original digerível ao público atual.

Apesar dos questionamentos e das incógnitas, enxergo em Pantanal uma função mais nobre que a mera celebração de um marco da nossa TV: o alerta ao desrespeito com o meio ambiente em tempos de recordes de queimadas e desmatamento.

Por meio de suas histórias repletas de amores exacerbados e fantasia escapista, Benedito Ruy Barbosa nunca deixou de criticar o que deve ser criticado ou apontar as feridas. Pantanal, a novela, chegará em um momento propício.

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