Tá pegando fogo, bicho: Globo queimou em 1976, perdeu arquivos e se virou para continuar no ar
20/08/2020 às 0h39
No dia 4 de junho de 1976, durante a transmissão do Jornal Hoje, de repente a Rede Globo simplesmente saiu do ar. O motivo? Um incêndio de grandes proporções havia começado em sua sede, no Jardim Botânico, no Rio de Janeiro (RJ). O fogo, originado a partir de um curto circuito, se alastrou através dos dutos e atingiu boa parte das instalações da emissora.
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Rapidamente o sinal da emissora voltou, passando a ser gerado diretamente da capital paulista. No mesmo dia, os então apresentadores Cid Moreira e Sérgio Chapelin, bem como boa parte da equipe responsável pelo Jornal Nacional, seguiram para a cidade em jatos fretados.
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No livro “Boa Noite”, de Fátima Sampaio Moreira (Prumo, 2010), Cid Moreira abordou o acontecimento. “Duas horas depois do incêndio, Alice-Maria [então editora-chefe] foi para São Paulo disposta a garantir a exibição do JN. Ela foi munida com um rolo de filme com as imagens do próprio incêndio. Um pouco mais tarde, fomos eu e o Sérgio, juntamente com os editores de imagens, também para Sampa”, contou.
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Durante cerca de 90 dias, tempo que levou para reformar e equipar novamente todo o prédio da emissora no Rio de Janeiro, o JN foi transmitido de São Paulo. “Eu e o Sérgio tínhamos que viajar de ponte aérea todos os dias, então passamos mais uma vez por poucas e boas. Além de ter de organizar todos os nossos compromissos particulares com antecedência para chegar em tempo hábil no estúdio, ainda era preciso contar com o aeroporto sem problemas de neblina, que era o motivo que dificultava as chegadas e partidas”, explicou o locutor no livro.
Novelas também não foram prejudicadas
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Com duração de quatro horas, o incêndio causou um prejuízo de 170 milhões de cruzeiros – os equipamentos que não foram consumidos pelo fogo acabaram perdidos por causa da água jogada pelos bombeiros ou da fumaça.
A Folha de S. Paulo de 5 de junho de 1976 trouxe grande cobertura do acontecimento, informando que o prédio e os equipamentos estavam cobertos por um seguro igualmente milionário.
As atividades no Rio de Janeiro não foram completamente paralisadas. Em tempo recorde, foi montada uma miniestação no hall de entrada de um dos prédios, com equipamentos não atingidos e outros que vieram de Brasília e São Paulo.
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A grande preocupação do público ficou por conta das novelas: elas seriam prejudicadas? A resposta veio em seguida: não houve nenhum problema. Apenas três capítulos de Vejo a Lua no Céu, um de O Feijão e o Sonho e um de Anjo Mau, tramas exibidas naquela época, se perderam.
As gravações passaram a ser feitas em outros estúdios do Rio de Janeiro, como o da TV Educativa e o da Cinédia. A edição foi feita em equipamentos da mesma TV Educativa, além da TV Gazeta, de São Paulo, e a TV Gaúcha, atual RBS, de Porto Alegre (RS).
Arquivo prejudicado
Ainda de acordo com a Folha, 600 fitas de vídeo do arquivo foram salvas, mas muitas outras, bem como rolos de filmes, foram destruídos, resultando em perdas irreparáveis para a história da emissora e da televisão brasileira como um todo.
Alguns exemplos são os casos especiais em preto e branco, bem como capítulos de novelas como Irmãos Coragem e O Espigão. Se não existem muitas imagens da emissora até 1975, muito se deve a esse incêndio.
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Além dos funcionários, artistas como Jô Soares, Mário Lago, Tarcísio Meira, entre outros, auxiliaram a remover fitas e outros itens. No final das contas, as perdas foram somente materiais, mas algo sério com o elenco da emissora poderia ter acontecido.
No momento em que o fogo começava, alguém avisou no estúdio onde eram gravadas cenas da novela Anjo Mau que poderia estar ocorrendo um incêndio. O diretor Régis Cardoso pensou que se tratava de uma brincadeira e respondeu: “Deixa esquentar mais”. Em pouco tempo, com a fumaça, todos deixaram o local.
Dois dias depois, foi rezada uma missa na sede em agradecimento pela não existência de vítimas fatais.