Rejeição e mudança de horário: 10 curiosidades de sucesso que estreava em 1990
20/08/2021 às 12h00
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“Mãe, para todos os povos, em todos os tempos, foi sempre a pessoa que porta a barriga. Hoje, a gravidez e o parto podem não coincidir com a maternidade. Então me perguntava: como será viver isso? Carregar uma barriga nove meses, sentir as dores do parto e não ser a mãe de verdade? Ou ser a mãe de verdade sem passar pela gravidez e pelo parto?”.
Com essa premissa, Glória Perez (em depoimento ao livro “A seguir, cenas do próximo capítulo”, de André Bernardo e Cintia Lopes) explica como surgiu a ideia de escrever a novela Barriga de Aluguel, um de seus maiores sucessos, que terminava há exatamente 30 anos, no dia 31 de maio de 1991.
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Abaixo, 10 curiosidades sobre a novela:
1 – Ficção científica
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Tudo começou no ano de 1985, quando Glória Perez, ao ler um artigo médico, interessou-se pela possibilidade de uma mulher gerar o filho da outra em sua própria barriga, ao separar o útero do óvulo. Na época, tal ideia soava como ficção científica. Glória foi pesquisar sobre o tema já imaginando os conflitos dramáticos que tal situação poderia causar. A novelista ficou sabendo que em São Paulo tal experiência já era feita em uma clínica de reprodução humana.
2 – Sinopse rejeitada
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Em meados dos anos 1980, o assunto “barriga de aluguel” ainda não era explorado pela mídia. Munida de uma história com base científica, Glória Perez apresentou então a sinopse da novela à Globo. A história foi não só rejeitada como também tachada de “maluca”. Desgostosa com a situação, Glória deixou sua ideia de lado e aceitou escrever uma novela em outra emissora (Carmem, para a TV Manchete).
3 – Sinopse aprovada
Cinco anos depois, o desenvolvimento de um feto no útero de outra mulher (que não fosse aquele que o gerou) já era uma realidade conhecida. A sinopse de Barriga de Aluguel foi finalmente aprovada pela Globo. A novela estreou às 18 horas do dia 20 de agosto de 1990, e tornou-se um dos maiores sucessos da emissora.
4 – Mudança de horário
A Globo inicialmente pensou em veicular Barriga de Aluguel às 20 horas. No início de 1989, a sinopse estava em discussão praticamente aprovada para substituir O Salvador da Pátria. “Tinha tudo pronto. Elenco contratado e cidade cenográfica erguida. O planejamento era iniciar as gravações dentro de vinte dias, no máximo trinta”, revelou Reynaldo Boury, o diretor então escalado para este projeto, a Flávio Ricco e José Armando Vannucci, para o livro “Biografia da Televisão Brasileira”.
Entretanto, veio uma ordem de Boni (José Bonifácio de Oliveira Sobrinho) para mudar tudo, alegando que esta não era uma trama para o horário das oito, mas para às seis. Foi quando ele sugeriu a Boury a adaptação do romance “Tieta do Agreste”, de Jorge Amado, que acabou substituindo O Salvador da Pátria. Barriga de Aluguel só foi estrear no ano seguinte (1990), às 18 horas, agora sob a batuta do diretor Wolf Maya.
Lamenta-se que Barriga de Aluguel não tenha sido exibida originalmente no horário nobre, mais condizente com sua proposta. E que não tenha sido gravada em 1985, quando Glória Perez a apresentou à Globo pela primeira vez. Teria sido a primeira obra dramatúrgica a tratar deste tema no mundo.
5 – Julgamento embasado na realidade
Na história, depois do nascimento da criança, as mães Ana (Cássia Kiss), a biológica, e Clara (Cláudia Abreu), a de aluguel, disputaram a maternidade e a questão foi levada aos tribunais. Para estabelecer a decisão final sobre quem tinha o direito de ficar com a criança, Glória Perez recorreu à assessoria de três juízes e pediu-lhes que deixassem uma brecha nas sentenças para justificar, no roteiro, o encaminhamento do processo em três instâncias da Justiça.
Na primeira instância, Clara ganhou a guarda do bebê. No entanto, Ana recorreu e o Superior Tribunal de Justiça reconheceu que ela era a mãe biológica da criança. Marcou-se um terceiro julgamento, porém a novela terminou antes, deixando o telespectador sem a resposta. Na cena final, as duas mães estavam de mãos dadas com o filho, decididas a encontrar uma solução para a situação, independentemente da decisão final da Justiça.
6 – Depoimentos reais
A repercussão de Barriga de Aluguel foi tanta que o público passou a discutir os direitos das duas mães. A autora criou na novela uma repórter que ia às ruas colher depoimentos do público, que opinava sobre qual das mães deveria ficar com o bebê no final. Também foram entrevistados médicos, psicólogos, religiosos e personalidades populares.
7 – Quarta novela mais longa
Uma novela longa para os padrões da Globo, Barriga de Aluguel foi espichada por causa do sucesso que vinha fazendo e por causa do atraso da produção seguinte para o horário, Salomé. Dos 189 capítulos inicialmente previstos, a autora escreveu mais 54, totalizando 243. (“Novela, a Obra Aberta e Seus Problemas”, Fábio Costa).
Empatada com a versão original de Selva de Pedra (1972), Barriga de Aluguel é a quarta novela mais longa da emissora, ficando atrás de O Homem que Deve Morrer (1971-1972, 258 capítulos), Irmãos Coragem (1970-1971, 328), e A Grande Mentira (1968-1969, 341).
8 – Merchandising médico
Foi a primeira vez que Glória Perez uniu ficção e realidade em um tema médico. Em sua novela seguinte, De Corpo e Alma (1992), a autora tratou de transplante de órgãos, e em O Clone (2001/2202), abordou clonagem humana. Tratou ainda de esquizofrenia em Caminho das Índias (2009) e transexualidade em A Força do Querer (2017).
9 – O elenco
Barriga de Aluguel foi a quinta novela de Cláudia Abreu e sua personagem, Clara, foi a consagração da atriz na televisão. As nuances de sua interpretação aliadas ao texto deram margem a um trabalho realista primoroso. Outro destaque foi Humberto Martins, como o caminhoneiro João, namorado de Clara no início, um homem bruto, mas romântico, apaixonado pela moça, apesar de não ser correspondido e não aceitar as atitudes dela.
Foi a primeira novela na Globo dos atores Victor Fasano, Jairo Mattos, Tereza Seiblitz, Marcelo Saback, Renato Rabelo e Daniella Perez (filha da autora Glória Perez).
10 – Trilha sonora
Na trilha sonora, a música “Nuvem de Lágrimas”, interpretada por Fafá de Belém, tema do personagem de Humberto Martins, tornou-se um grande sucesso nacional. Assim como o meloso tema de abertura, “Aguenta Coração”, na voz do cantor José Augusto.