Chica Xavier, que nos deixou hoje, foi um ícone da representatividade de sua raça nas artes

08/08/2020 às 12h57

Por: Nilson Xavier
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Chica Xavier em Esperança (Reprodução / Web)

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Mal nos recuperamos da perda de Gésio Amadeu, falecido na quarta-feira (5), chega a notícia da morte da atriz Chica Xavier (pelo G1), em decorrência de um câncer, no Rio de Janeiro (RJ), na madrugada deste sábado (8). Ela tinha 88 anos.

Conhecida do grande público pelos papeis em inúmeras novelas, Chica já atuava no teatro antes de entrar para a televisão e tornou-se um ícone da representatividade de sua raça nas artes.

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A atriz marcou várias gerações de telemaníacos por ter sido figura constante em novelas por mais de 50 anos. Apesar de, na maioria das vezes relegada a papeis coadjuvantes, geralmente de empregadas, Chica Xavier não passava despercebida e se mantinha longe do estereótipo da “nanny” (a empregada bonachona que faz parte da família) ou da Mamãe Dolores (a figura maternal subserviente e passiva).

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Chica Xavier tinha uma presença marcante em cena, o que dava margem para que suas personagens se impusessem na narrativa, como a empregada Marlene, de Dancin’ Days (1978), que discutia com o patrão Alberico (Mário Lago); a empregada Filó de Marron-Glacé (1979), que, com a amiga e patroa Clô (Yara Côrtes), se tratavam por igual (porque a patroa já fora pobre, como ela); e a cozinheira Inácia, de Renascer (1993), com autoridade para mandar nos filhos do patrão, o coronel Zé Inocêncio (Antônio Fagundes).

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Chica nasceu Francisca Xavier Queiroz de Jesus, em Salvador (BA), em 22 de janeiro de 1932. Seu primeiro emprego foi aos 14 anos, como aprendiz de encadernadora na Imprensa Oficial do Estado da Bahia. Em 1953, foi para o Rio de Janeiro e começou a estudar teatro. Em 1956, estreou profissionalmente com a peça Orfeu da Conceição. Em 1962, estreou no cinema, no filme “Assalto ao Trem Pagador”.

Desde 1956, era casada com o também ator Clementino Kelé (92 anos) – foram 64 anos de união, comemorados no último dia 7 de julho. Os dois se conheceram e começaram a namorar em Salvador e se mudaram juntos para o Rio. Tiveram três filhos, Clementino Jr., Christina e Izabela. A neta Luana Xavier é atriz. O neto Ernesto Xavier também já atuou.

Foram quase 50 papeis na televisão, desde 1968. Além dos já citados, destacaram-se Lázara, de O Grito (1975), Denise, de Louco Amor (1983), Judite, de Amor com Amor se Paga (1984), Virgínia, de Sinhá Moça (1986), Júlia, de Fera Radical (1988), Zilá, de Pátria Minha (1994), Rosália, de Força de um Desejo (1999-2000), Dionísia, de A Lua Me Disse (2005) e Mãe Setembrina, de Duas Caras (2007-2008). A mãe de santo Magé Bassã, da minissérie Tenda dos Milagres (1985), foi o papel que Chica mais gostou de interpretar na TV.

Em 1999, a atriz lançou o livro “Chica Xavier Canta sua Prosa” (Topbooks), de cantigas e rezas compostas por ela ao longo de 30 anos para louvar seus santos de fé, com prefácio do amigo Miguel Falabella e ilustrado pela filha Izabela. Chica era ialorixá da Irmandade Cercado do Boiadeiro, localizada em Sepetiba, Zona Oeste do Rio de Janeiro.

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Em 2011, Chica Xavier ganhou um centro cultural com seu nome, no Projeto Social No Palco da Vida, coordenado pelo ator Wal Schneider, que mantém o acervo de sua carreira no teatro, TV e cinema. Em 2013, teve sua biografia – “Chica Xavier: Mãe do Brasil” (Editora Eldorado) – publicada com texto da escritora Teresa Montero.

Com pesar faço essa síntese da carreira de Chica Xavier, atriz que sempre passou altivez com suas personagens em novelas. Adorava a Filó de Marron-Glacé, que marcou minha infância. Aliás, Chica marcou a infância de muita gente. Outra perda irreparável neste 2020.

SOBRE O AUTOR
Desde criança, Nilson Xavier é um fã de televisão: aos 10 anos já catalogava de forma sistemática tudo o que assistia, inclusive as novelas. Pesquisar elencos e curiosidades sobre esse universo tornou-se um hobby. Com a Internet, seus registros novelísticos migraram para a rede: no ano de 2000, lançou o site Teledramaturgia, cuja repercussão o levou a publicar, em 2007, o Almanaque da Telenovela Brasileira.

SOBRE A COLUNA
Um espaço para análise e reflexão sobre a produção dramatúrgica em nossa TV. Seja com a seriedade que o tema exige, ou com uma pitada de humor e deboche, o que também leva à reflexão.

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