Rejeitada pelo público, novela com Vera Fischer enterrou faixa da Globo
26/01/2022 às 20h00
Atualmente, quando pensamos em novelas da Rede Globo, citamos tramas das seis, das sete e das nove (até alguns anos atrás, das oito). Mas, nos anos 1970, existia um quarto horário, às dez da noite, que teve algumas produções de sucesso e outras que não alcançaram a repercussão desejada.
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Entre as obras que foram bem, podemos registrar Bandeira 2 (1972) e O Bem-Amado (1973). Essa última, que eternizou o personagem Odorico Paraguaçu (Paulo Gracindo), foi a primeira novela a cores da televisão brasileira. Também se destacaram Gabriela (1975) e Saramandaia (1976).
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A faixa ainda registrou experimentações, como O Rebu (1974), onde toda a ação se passou em uma única noite e o público tinha que descobrir quem morreu, quem matou e porque matou; e O Grito (1975), que surpreendeu o público ao mostrar acontecimentos de apenas uma semana, mas tinha um ar soturno e depressivo.
Depois de Saramandaia, que muitos se lembram até os dias de hoje por causa da explosão de Dona Redonda (Wilza Carla), o horário das dez foi interrompido entre 31 de dezembro de 1976 e 27 de junho de 1977.
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A partir daí, nenhuma novela apresentada na faixa foi bem no Ibope. Nina (1977), com Regina Duarte e Antônio Fagundes, teve que passar por mudanças para tentar cativar o público; O Pulo do Gato (1978), estrelada por Jorge Dória, passou despercebida, e sua sucessora, Sinal de Alerta acabou enterrando o horário de vez.
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Na história de Dias Gomes, que entrou no ar em 31 de julho de 1978 e teve apenas 116 capítulos, Tião Borges (Paulo Gracindo) enriqueceu de maneira brusca. Seu principal negócio, a empresa Fertilit, de fertilizantes e inseticidas, polui o bairro onde está instalada e provoca a revolta dos moradores da região.
No elenco, além de Gracindo, nomes como Jardel Filho, Vera Fischer, Yoná Magalhães, Carlos Eduardo Dolabella, Renata Sorrah e Milton Gonçalves, entre muitos outros.
Além da trama não ter chamado a atenção do público, a política atrapalhou bastante. Entre setembro e novembro daquele ano, foi exibido o horário eleitoral gratuito, que obrigou a Globo a jogar a produção para a faixa das 23 horas, o que matou a novela de vez.
Quando terminou a propaganda e Sinal de Alerta voltou ao seu horário habitual, a emissora exibiu um compacto de 10 capítulos para mostrar tudo que havia acontecido, mas nem isso adiantou. Walter George Durst foi chamado para auxiliar Dias Gomes e colaborou nos 30 capítulos finais da trama, que terminou em 26 de janeiro de 1979.
Nem tema de abertura tinha: Sinal de Alerta inovou ao mostrar animações apenas com sons e ruídos, para simbolizar o caos urbano.
Confira:
No livro Memória da Telenovela Brasileira, o especialista Ismael Fernandes enumerou diversos problemas da novela.
“O maior deles: Paulo Gracindo como capitão de indústria, mas ao estilo dos seus coronéis já conhecidos. Ou serão as sufocantes cenas da vila esfumaçada (que Dias queria editadas em preto e branco)? Além do mais, personagens como Consuelo (Isabel Ribeiro), que liderava movimentos contra a poluição, ou Vera (Bete Mendes), operária da fábrica, ficariam melhor em uma Fertilit do ABC (parque industrial paulista) que em praças cariocas”, escreveu.
Com a baixa audiência para os padrões globais e a repercussão inexistente, a emissora desistiu de produzir tramas inéditas para a faixa das dez. Assim que terminou Sinal de Alerta, Gabriela foi exibida novamente.
Depois disso, o canal reservou o horário para séries brasileiras, como Malu Mulher, Plantão de Polícia e Carga Pesada, e, posteriormente, as minisséries, nos anos 1980.
Ainda em 1983, houve uma última tentativa, também em vão. Foi produzida e exibida Eu Prometo, última novela de Janete Clair, mas a trama igualmente não foi bem nos números, sepultando qualquer ideia de nova fixação do quarto horário de novelas da Rede Globo.