Há 45 anos, novela da Globo ficou marcada por fato pitoresco na estreia

07/06/2021 às 2h45

Por: Thell de Castro
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Há 45 anos, em 7 de junho de 1976, um fato pitoresco ficou marcado na história da Globo. A emissora estreava a novela das oito O Casarão, de Lauro César Muniz, mas o público não entendeu a complexa história. Diante da reclamação de inúmeros telespectadores por telefone, o primeiro capítulo foi reprisado no mesmo dia, às 23 horas.

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Em uma época de experimentação na televisão brasileira – em 1974, por exemplo, toda a trama de O Rebu se passava em um único dia –, O Casarão foi uma tentativa de inovação no gênero feita pelo autor.

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A saga da família do cafeicultor Deodato Leme (Oswaldo Loureiro) acontecia em três tempos distintos, com diferentes atores interpretando os mesmos personagens, apresentados simultaneamente. O primeiro momento acontecia entre 1900 e 1910; a fase seguinte, vinha de 1926 a 1936; e a última se passava quarenta anos depois, em 1976.

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Todas as fases foram marcadas pela presença do casarão da família que dava título à obra. Dessa forma, a residência sofreu com a ação do tempo, obrigando a emissora a desenvolver três diferentes fachadas, mostrando seu início, o auge e a decadência, quando foi demolido para dar lugar à uma ferrovia. Com a solução, era possível gravar num mesmo dia cenas passadas em tempos diferentes.

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Em entrevista ao Jornal do Brasil algumas semanas antes da estreia, o diretor Daniel Filho explicava que a trama se concentraria 60% na época atual, 30% na segunda e 10% na primeira, sem uso do processo de flashback. “Acho que é a primeira vez que mudaremos de tempo sem ser pela memória do personagem. No mesmo capítulo, apresentaremos as três fases, tendo como base a atual e as outras duas, para explicitar acontecimentos”, destacou.

Na mesma entrevista, Muniz já previa dificuldades no entendimento do público. “Um objeto que for novo na primeira fase estará em uso na segunda e, na terceira, vamos encontrá-lo abandonado em algum lugar da casa. Será um exercício para o telespectador. Ele vai sentir a mudança do tempo, através dos costumes da época. Nos dez primeiros capítulos pode ser um pouco difícil, mas é estimulante”, enfatizou.

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Após a estreia, em 19 de junho de 1976, a crítica Maria Helena Dutra contou no mesmo JB o que estava acontecendo com parte do público. “Um veterano ator da Rede Globo perguntou à dona do bar em frente à estação se ela estava gostando de O Casarão. “Não, porque não estou entendendo nada”, foi a pronta resposta. “Mas tem que prestar atenção para entender”, aconselhou o ator. E foi surpreendido com outra resposta que encerrou o diálogo: “Se é para prestar atenção, eu leio um livro””.

Alguns meses depois, no entanto, o público parecia ter se acostumado. Em 8 de setembro de 1976, em entrevista à revista Amiga, o autor novamente falou sobre o assunto. “Devo admitir que as duas primeiras semanas foram de grandes expectativas e dúvidas. Ao fim da terceira semana, já se delineava que o público estava se entrosando bem com a narrativa em três épocas. Na quarta semana, as dúvidas se dissiparam inteiramente quando a Divisão de Análise e Pesquisa da TV Globo saiu à campo para uma pesquisa”, informou.

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Além desses fatos, O Casarão ficou marcada pela inovação e por uma das cenas mais bonitas da história da teledramaturgia brasileira.

No último dos 168 capítulos, exibido em 11 de dezembro daquele ano, os personagens João Maciel e Carolina, que eram apaixonados em 1926 e vividos, respectivamente, por Gracindo Júnior e Sandra Barsotti, podem finalmente viver seu amor em 1976, interpretados por Paulo Gracindo e Yara Cortez. Ao chegar à Confeitaria Colombo, onde foi gravada a cena, Carolina pergunta se está atrasada. João responde: “Só 40 anos”.

Ao livro “A Seguir, Cenas do Próximo Capítulo”, de Cintia Lopes e André Bernardo, Lauro César Muniz contou que foi proposto um remake da trama, mas a ideia foi prontamente abortada. “Certa vez, durante uma reunião na Globo, alguém sugeriu fazer um remake de O Casarão. Na mesma hora, o Daniel Filho respondeu: “Não! O Casarão é um cult, e, em cult, a gente não mexe”. Essas foram as palavras dele”.

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