Fuzuê acerta com reedição dos anos 80 e elementos de Vai na Fé
15/08/2023 às 11h24
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A segunda-feira (14) foi de estreia na Globo. Fuzuê substituiu Vai na Fé às sete com uma missão ingrata: ter um desempenho, no mínimo, igual ao da novela de Rosane Svartman, que saiu de cena com 23,3 pontos de média-geral, a maior desde a retomada dos folhetins inéditos após a pandemia. Quanto Mais Vida, Melhor (2021) e Cara e Coragem (2022) saíram de cena com 20,5 e 20,7 pontos, respectivamente.
Além dos números, Vai na Fé foi bem em repercussão. Personagens e situações dominaram as redes sociais e cenas se tornaram virais no TikTok, um dos grandes concorrentes da TV aberta hoje em dia. Os debates promovidos pela trama também chegaram aos noticiários.
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Tamanho sucesso aumenta, obviamente, a responsabilidade da sucessora. Gustavo Reiz, estreante na casa, propôs o caminho inverso: Fuzuê envereda pela comédia escrachada que marcou o horário nos anos 1980 e 1990, estilo que destoa do de Vai na Fé e das outras produções recentes da faixa, o do humor comedido.
Resgate
Gustavo é um “novelista noveleiro”, como o próprio se definiu em entrevistas antes do lançamento. As referências de Fuzuê são claras. Obras de Cassiano Gabus Mendes, Silvio de Abreu, Carlos Lombardi e Miguel Falabella compõem a base da atual empreitada da Globo na faixa das sete.
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O acerto de Reiz está em promover a volta do estilo desses autores ao horário, em consonância com os enredos adotados pelo canal nos últimos anos: o das figuras batalhadoras, sempre às voltas com lições de vida e pautas sociais – uma evolução de outro marco da faixa, as comédias românticas dos primeiros anos da década de 1970.
Em Fuzuê, a heroína Luna (Giovana Cordeiro) busca pela mãe desaparecida, uma motivação tão nobre quanto a de Sol (Sheron Menezzes), protagonista de Vai na Fé. Luna, porém, é mais jovem e mais reativa. Ela remete a Ana Machadão (Debora Bloch), de Cambalacho (1986), e Babalu (Letícia Spiller), de Quatro por Quatro (1994).
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O caráter de Miguel (Nicolas Prattes) se assemelha ao de Ben (Samuel de Assis). Mas o rapaz, embora bonito, é tímido e retraído. Uma reedição de galãs comuns às sete: o super Téo (Marcos Frota) de Vereda Tropical (1984), o Gustavo (Wagner Moura) de A Lua me Disse (2005), o Arthur Fortuna de Pé na Jaca (2006)…
Passado e presente em Fuzuê
Logo, a nova aposta da Globo tem o melhor dos dois mundos, digamos. Os tipos carismáticos e engajados permanecem dentro de uma embalagem que não utilizavam há tempos.
A tal embalagem inclui outro elemento comum à faixa. A busca de Preciosa Montebello (Marina Ruy Barbosa) por um tesouro faz lembrar a caçada às estátuas de cupido recheadas de dinheiro em Jogo da Vida (1981), e do enigma tatuado no bumbum de uma noviça que levava aos diamantes de O Mapa da Mina (1993).
O tumulto da loja Fuzuê, por sua vez, repete a loucura da feira livre de Sassaricando (1987), da Frango com Tudo Dentro de A Lua me Disse ou da Luxus de Cobras & Lagartos (2006).
Aliás, o plano sequência que levou a festa da rua para o interior do imóvel foi criativo, fazendo jus ao histórico do diretor artístico Fabricio Mamberti – discípulo de Jorge Fernando, um dos nomes que fizeram a fama do horário. No geral, o primeiro capítulo foi ágil, mas sem correria nas introduções de tramas e personagens.
Bom começo
A qualidade do texto e da direção se alia ao elenco repleto de bons valores. Giovana Cordeiro e Nicolas Prattes vêm dos personagens mais representativos de suas carreiras até aqui, Xaviera de Mar do Sertão e Diego de Todas as Flores. Os antagonistas Preciosa e Heitor se amparam na química de Marina Ruy Barbosa e Felipe Simas, comprovada em Totalmente Demais (2015).
Ainda, Lilia Cabral, desta vez discretíssima, como Bebel; o emocionado Nero de Edson Celulari, de volta às novelas após o genial Dom Sabino, de O Tempo Não Para (2018); e Fernanda Rodrigues, que, após anos de tipos cândidos, parte para uma nova experimentação com a efusiva Alícia – a atriz vem da vilã Fabiana, outra experiência inédita, de O Outro Lado do Paraíso (2017).
Fuzuê é novela para noveleiro matar a saudade do que a Globo já apresentou às sete e para o público comum, que não se interessa pelas referências, embarcar em clichês e conflitos já testados e aprovados.