Maior polêmica do Fantástico rendeu demissões e caça às bruxas na Globo
06/08/2023 às 16h12
O Fantástico está comemorando 50 anos no ar neste domingo (6). E, se por um lado o programa reúne cenas memoráveis de sucesso, por outro guarda histórias que gostaria de esquecer. Uma matéria polêmica rendeu demissões, caça às bruxas e até ameaça de morte para membros da emissora.
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De tantos nomes que passaram pela revista eletrônica, um deles é Drauzio Varella, que fez inúmeros quadros sobre saúde e comportamento no dominical.
Em março de 2020, porém, o doutor se envolveu em uma grande polêmica.
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O abraço e a sentença
O Fantástico exibiu uma reportagem que contava a trajetória de detentas transexuais e suas histórias de vida. Drauzio, que fazia as entrevistas, conheceu Suzy, que está detida na Penitenciária José Parada Neto, em Guarulhos (SP).
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Ao contar sua história e a rotina dentro da prisão, o médico ficou comovido e deu um abraço na detenta no final da matéria.
O público se emocionou com a imagem e o gesto de empatia de Drauzio, mas, no dia seguinte, a imprensa divulgou que Suzy foi condenada pelo estupro e assassinato de uma criança de nove anos.
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A explicação
A comoção se tornou revolta, e Drauzio Varella recebeu uma enxurrada de críticas de todos os lados. O médico foi até a internet falar sobre o ocorrido.
“Na matéria em questão, o foco eram as condições em que vivem as transexuais presas. As estatísticas oficiais indicam que a imensa maioria delas está detida por roubo ou furto. A maneira pela qual Suzy foi apresentada deu a entender que ela fazia parte desse grupo majoritário. Por isso eu entendo a frustração de quem se decepcionou”, disse Drauzio, que pediu desculpas ao pai do menino.
Já a Globo não perdoou o erro da produção, que não fez uma pesquisa detalhada: profissionais foram demitidos.
Assumindo a culpa
Em entrevista ao UOL, em agosto deste ano, Drauzio assumiu a culpa pela reportagem.
“O erro foi meu, totalmente meu. Eu trabalho em cadeia há mais de 30 anos e nunca na minha vida eu abracei um preso. Não faz parte do relacionamento que eu tenho com eles”, afirmou.
“Mas ali no Fantástico eu estava como repórter, na verdade. Estava como jornalista, falando daquela realidade. E naquele momento, aquela pessoa que eu não sabia o que tinha feito, que é um princípio básico que eu sempre utilizei e que aprendi com os carcereiros mais velhos, era de que você não pergunta o que a pessoa [presa]”, continuou.
Drauzio afirma que a emoção foi maior que a razão, e toda aquela cena foi criada de forma espontânea.
“Eu me comovi com aquela pessoa que me olhou de um jeito tão desprotegido, tão triste, que me deu vontade de dar um abraço nela, que não fazia parte do script nenhum, nem caberia”, falou.
Ameaças
Mesmo com todas as explicações, o médico sofreu uma dura perseguição e foi ameaçado de morte.
“E toda essa confusão que foi armada, todos os problemas que enfrentamos, e eu pessoalmente, ameaças de morte, etc. Hoje, quando eu olho para trás, eu lamento o que aconteceu, é claro. Mas isso foi gerado por um abraço […] Isso que é a tristeza, gerar uma coisa tão violenta assim, porque você deu um abraço em uma pessoa”, afirmou.
A família do garoto foi à Justiça e processou a Globo e Drauzio, que chegaram a ser condenados a pagar uma indenização de 150 mil reais. Segundo o Notícias da TV, a emissora recorreu e a decisão foi reformada, livrando os réus de pagarem a multa. O processo ainda corre no STJ.