O dia em que Chacrinha foi preso em flagrante logo após seu programa ao vivo

30/07/2021 às 9h16

Por: Thell de Castro
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Um dos maiores apresentadores da história da televisão brasileira, Abelardo Barbosa, o Chacrinha (1917-1988), se envolveu em diversas confusões ao longo de sua carreira. Numa delas, em 1980, foi preso em flagrante logo após um programa ao vivo na Band, acusado de desacato à autoridade por uma censora do regime militar.

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Tudo aconteceu no dia 1º de julho daquele ano, quando Chacrinha comandava mais um programa diretamente do Teatro Bandeirantes. Antes de entrar no ar, diversas pessoas estranhas estavam nos bastidores, deixando-o irritado.

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De acordo com o Jornal do Brasil de 3 de julho, “Abelardo Barbosa expulsou todos, entre os quais uma mulher de estatura média, de óculos, que mais tarde disse ser da Censura Federal. Diante da alegação, ela foi autorizada a permanecer nos bastidores”.

Mas a história não terminava aí. Assim que terminou a exibição do programa, um exausto Chacrinha, com a roupa extravagante que vestia, após duas horas e meia no ar, recebeu voz de prisão em flagrante por agentes da Polícia Federal.

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“Levado às instalações do Departamento de Polícia Federal, na Rua Xavier de Toledo, o artista foi autuado por desacato à autoridade”, informou o jornal, completando que ele teve que pagar uma fiança estipulada em 10 mil cruzeiros e foi enquadrado no artigo 331 do Código Penal. Além disso, o apresentador teve uma crise emocional e teve que receber oxigênio às pressas.

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Ainda de acordo com o JB, a censora, “que procurou fugir de toda a forma a qualquer contato com a imprensa”, alegou no seu depoimento que fora ao local para verificar as roupas das dançarinas do programa, chamadas de chacretes, “que estavam um tanto abusivas”. Após depor, ela saiu do local escondida no banco traseiro de uma Brasília.

Rigidez da Censura

No dia 11 de julho, o jornal voltou ao assunto. Chacrinha fez uma reunião com o Conselho Superior de Censura, “onde ouviu um discurso de exaltação ao seu talento e buzinou um conselheiro do qual discordou, durante reunião em que denunciou sua prisão em São Paulo”.

Na ocasião, Chacrinha, de paletó branco, camisa gola rolê preta e boné amarelo, leu uma carta de quatro laudas datilografadas e completou sua denúncia com detalhes sobre seu incidente.

“Disse que foi preso por 10 agentes federais e mais um delegado, depois de apresentar seu programa na TV Bandeirantes. Depôs durante cinco horas e se achou vítima de discriminação pela Policia Federal, desde quando era diretor do DPF o General Antônio Bandeira”, informou o jornal.

Meses depois, no dia 2 de novembro, no mesmo Jornal do Brasil, Chacrinha voltou ao assunto. Disse que tudo começou porque a censora não se identificou. “Eu não poderia imaginar que fosse censora”, explicou.

“A Censura é mais rígida comigo e o que mais a preocupa as chacretes. Respeito a Censura e faço o programa com medo, coagido. Pior que a falta de critérios e a desigualdade é que se eu reclamar que no programa X se faz uma coisa proibida, no meu, o chefe da Censura responde que o censor daquela emissora é Y. E é preciso acabar com este negócio de ser Censura de Rio, de São Paulo, quando existe a Federal, para acabar com estes critérios particulares. Mas agora, ela sossegou comigo”, completou.

Em 1982, Chacrinha saiu da Bandeirantes e retornou à Globo, exatamente 10 anos após uma grande confusão com José Bonifácio de Oliveira Sobrinho, o Boni, que o tirou do ar. O apresentador ficou no canal até sua morte, em 1988, comandando seu programa nas tardes de sábado.

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