Flora ou Donatela, quem está dizendo a verdade? Relembre a história de A Favorita
25/05/2020 às 22h47
Duas mulheres. Uma dupla sertaneja. Um crime no passado. Duas versões de uma mesma história. Quem está dizendo a verdade?
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A Favorita, novela de João Emanuel Carneiro e direção de núcleo e geral de Ricardo Waddington, é uma trama cercada de mistério que, além de emocionar, trará à tona temas que, cada vez mais, parecem ser questionados pelo ser humano: ética, caráter e família. Num mundo onde as aparências enganam em quem se pode acreditar? Qual é a linha que separa o certo do errado? Até onde ir para conseguir o que quer? O que vale mais: o laço de sangue ou o de criação?
Na trama central, Flora (Patrícia Pillar) foi condenada a 18 anos de prisão pelo assassinato do marido de Donatela (Claudia Raia), sua antiga parceira na dupla sertaneja que formavam. Ao sair da prisão, vai lutar para provar sua inocência, acusando a ex-amiga do crime que ela já pagou. Donatela, por sua vez, foi quem criou Lara (Mariana Ximenes), a filha de Flora com seu marido morto e herdeira única de um império de papel e celulose.
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Confira os detalhes da trama:
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Flora e Donatela, melhores amigas
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Donatela (Claudia Raia) e Flora (Patrícia Pillar) cresceram juntas. Donatela perdeu os pais num acidente e acabou sendo adotada pela família de Flora. Melhores amigas desde a infância, as duas meninas tinham vocação para o canto, o que lhes garantiu um passaporte para uma nova vida. Quando começaram a chamar atenção se apresentando em escolas e festas de clubes foram descobertas pelo empresário Silveirinha (Ary Fontoura), um caça-talentos que tirou Flora e Donatela de casa e as levou para excursionar pelo Brasil afora. Silveirinha foi um misto de pai e carrasco. Explorava as garotas ficando com boa parte do cachê que recebiam, mas, em compensação, dava-lhes comida e todo o carinho que ele tinha para dar para alguém – que não era muito.
A dupla de música sertaneja formada por Flora e Donatela – “Faísca e Espoleta” – chegou a fazer um razoável sucesso na época, mas a carreira foi interrompida após uma turnê, em que as duas conheceram os amigos Marcelo e Dodi (Murilo Benício), de quem se tornaram noivas.
Donatela casou-se com Marcelo, filho do poderoso Gonçalo Fontini (Mauro Mendonça), dono de uma indústria de papel e celulose, e Flora tornou-se esposa de Dodi (Murilo Benício), um homem que veio de baixo e que trabalhava na firma do pai do amigo.
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O início da rivalidade
A felicidade de Donatela e Marcelo durou pouco. O primeiro filho do casal, Mateus, foi seqüestrado com seis meses de idade e nunca mais apareceu. Desde então, os dois passaram a se desentender com freqüência.
Flora, por sua vez, separou-se de Dodi, passou um tempo sozinha e, depois, teve um caso com Marcelo. Engravidou dele e deu à luz uma menina, Lara, o que agravou a crise entre Donatela e Marcelo e, principalmente, entre as duas amigas.
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Duas versões de uma mesma história
No auge da crise entre Flora e Donatela, Marcelo é assassinado. Ele foi morto com três tiros disparados do revólver que, segundo testemunhas, estava na mão de Flora. Pega em flagrante, foi presa e dramaticamente separada de sua filha Lara, na época, com três anos de idade.
Donatela (Claudia Raia) acha que Flora (Patrícia Pillar) esperou a vida inteira para destruir sua felicidade. Ingenuamente, deixara que a amiga, a quem considerava uma irmã, seguisse os seus passos. Depois de um tempo, entendeu que Flora se casou com Dodi só para poder ficar perto dela e de Marcelo. Na visão de Donatela, Flora fez tudo para atrapalhar seu casamento – seduziu seu marido e tratou logo de ficar grávida dele.
Para Donatela, o desejo de Flora, na verdade, sempre foi pegar o seu lugar. Ela acha que, quando Flora percebeu que Marcelo nunca iria se separar dela, resolveu matá-lo. Donatela afirma que Flora premeditou o assassinato, mas que nada saiu como previsto. No dia do crime, Donatela saiu de casa, mas logo voltou porque se lembrou que tinha marcado hora com Cilene (Elizangela), sua manicure. Quando chegou em casa, flagrou Flora atirando em Marcelo, o que foi confirmado por Cilene, única testemunha do caso. Na versão de Donatela, depois de atirar em Marcelo, Flora ainda ia atirar nela. Para se defender, iniciou uma briga com a rival e quem pôs fim à luta foi Cilene, que conseguiu imobilizar Flora. Como, na briga, as duas seguraram a arma, o revólver ficou com as impressões digitais de ambas, mas o depoimento de Cilene bastou para condenar Flora pelo assassinato de Marcelo.
Segundo Flora (Patrícia Pillar), Donatela (Claudia Raia), quando criança, a fascinava por ser perversa e muito inteligente. A amiga, contudo, sempre seguiu seus passos e desejou tudo o que era dela, a começar pelos meninos. Para Flora, Donatela sempre dava um jeito de namorar os garotos que davam em cima dela. A mesma história, inclusive, se repetiu anos depois, quando Flora conheceu Marcelo. Donatela, ao notar que a amiga se interessou pelo jovem milionário, tratou de se insinuar para ele, deixando Dodi como a única opção para Flora. Apesar de saber que os casais estavam trocados, Flora acabou namorando Dodi, um rapaz lindo, mas, ao contrário de Marcelo, pobre. Flora, porém, afirma que a condição financeira de Dodi nunca foi um problema, já que ela nunca gostou de gente rica. O que a incomodou, na realidade, foi ter descoberto muito tempo depois, quando já estava casada com Dodi – e Donatela com Marcelo -, que sua amiga era muito mais do que uma “conhecida” de seu marido.
A versão de Flora é que Donatela e Dodi sempre foram amantes e tanto ela como Marcelo foram vítimas de um golpe minuciosamente planejado e muito bem sucedido. Donatela teria dado em cima de Marcelo já com o intuito de se casar com o jovem milionário, enquanto Dodi conquistaria Flora para se manter próximo à amante e ao dinheiro que ela passaria a ter. Além disso, o filho seqüestrado de Donatela e Marcelo, na verdade, seria filho de Dodi. Para que Marcelo não descobrisse a verdade, o casal deu um jeito de sumir com a criança. Como a verdade veio à tona, Flora e Marcelo se aproximaram e redescobriram o amor que teve que ser sublimado por causa das circunstâncias. Quando Donatela descobriu que Marcelo iria se separar dela e que perderia todo o dinheiro que sempre quis, resolveu agir. Junto com Dodi, premeditou o assassinato de Marcelo e, segundo Flora, deu um jeito para que ela estivesse na casa de Marcelo no momento do crime, tendo plantado inclusive testemunhas falsas para incriminá-la.
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Rumos diferentes
Unidas no passado, Donatela e Flora tomaram rumos completamente diferentes. Mesmo achando que não conseguiria se erguer de novo – já que teve um filho seqüestrado aos seis meses de idade, foi traída pela amiga e ficou viúva e sozinha no mundo -, Donatela resolveu levar a vida adiante. Na dor, se aproximou de Dodi e, um ano depois, se casou com ele. Penalizada com o destino da filha do homem que mais amou na vida, Donatela resolveu criar Lara, mesmo sabendo que algumas pessoas a acusavam de ter adotado a filha da assassina de Marcelo somente por ela ser a única herdeira de um império.
Certa de que ela e Dodi foram vítimas de Flora, Donatela se considera uma sobrevivente. Dezoito anos depois da morte de Marcelo, vive com Dodi e Lara no rancho dos pais de seu marido falecido, Gonçalo (Mauro Mendonça) e Irene (Glória Menezes). Não se considera feliz, nem infeliz. Possui um casamento de altos e baixos com Dodi, porém vive com carinho e cumplicidade. Cuida de Lara com extremo zelo e preocupação e afirma que ama a filha mais do que tudo na vida. Acha que o destino, de alguma maneira, devolveu o filho que tiraram dela. Tem uma ótima relação com Gonçalo, já que o magnata tornou-se eternamente grato por Donatela ter se disposto a criar sua neta, filha da amante e assassina do marido. Ele considerou a iniciativa de Donatela um gesto sublime, que demonstra um altruísmo extraordinário. Irene, ao contrário, sempre teve reservas em relação à Donatela e, principalmente, a Dodi. Irene era da opinião que Lara deveria ter sido educada por preceptores, longe do Brasil. Ela nunca concordou com o fato de a neta ter ido morar com Donatela, já que acredita que a esposa de seu filho teria todas as razões para odiar a criança. Afinal, a garota é o resultado do adultério do marido dela, que foi a causa de sua trágica morte.
Flora, por sua vez, foi condenada a 18 anos de prisão pelo assassinato de Marcelo. Considera que Donatela lhe tirou tudo o que tinha: Marcelo, sua promessa de felicidade e Lara, sua única filha que, do ponto de vista de Flora, chama a verdadeira assassina do pai de “mãe”. Ela sempre afirmou que foi presa por um crime que não cometeu. Ficou trancada numa cela escura para ser esquecida para sempre e morrer. Duas coisas, porém, a mantiveram viva – Lara, que estava crescendo longe dela, e um desejo enorme de justiça e também de vingança. A única pessoa com quem Flora acredita poder contar é Irene, já que aposta que a avó de Lara sempre desconfiou da história de Donatela.
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Lara
Por mais que nos últimos 18 anos as vidas de Donatela e Flora tenham seguido caminhos opostos, elas ainda possuem algo em comum: Lara.
Com a saída de Flora da prisão, Lara mais do que nunca se torna o alvo de disputa entre as duas mulheres que, um dia, foram amigas. Enquanto a missão da vida de Flora será se reaproximar da filha, Donatela fará de tudo para impedir que isso aconteça.
Disposta a evitar a qualquer custo que Flora se aproxime da filha, Donatela fica em seu encalço desde o momento em que ela sai da prisão. Além de contratar detetives, se alia a Pedro (Genezio de Barros), pai de Flora, alerta a todos em casa, inclusive Lara, sobre o perigo que a mãe biológica representa e chega até a procurar a própria Flora e lhe oferecer dinheiro para desaparecer. Para Donatela, Flora é uma psicopata perigosíssima e, por isso, Lara tem que ser mantida fora de seu alcance.
Flora, por sua vez, quer ver Lara de qualquer jeito. Para realizar este desejo, tentará se aproximar, primeiro, de Irene, apostando que esta pode vir a ser sua grande aliada.
Alheia ao que cada mãe deseja, Lara segue com sua rotina. Apesar de ser a única herdeira de uma grande fortuna, leva uma vida simples. Estuda Geologia, lidera movimentos estudantis na faculdade e namora Cassiano (Thiago Rodrigues), operário da fábrica de seu avô.
Com Donatela, vive às turras, apesar de todo o amor que uma sente pela outra. Ao contrário da mãe adotiva, vaidosa e consumista, Lara se recusa a usar maquiagem e roupa de grife. Muitas vezes se sente sufocada com a super proteção da mãe, mas, apesar das brigas, ama Donatela acima de tudo e se comove quando percebe que, por trás daquela fortaleza exterior, há uma mulher frágil que, com medo de perdê-la, chora e pede colo.
Já com Flora, Lara não tem nenhuma relação. Como Donatela fez questão de não preservar a imagem de Flora, Lara cresceu sem referências da mãe biológica. Por isso, a notícia da saída da assassina de seu pai da prisão inicialmente não lhe afeta. Afirma que, se sua mãe verdadeira vier a seu encontro, a dispensará pois uma não tem o que dizer à outra. Mas a constante preocupação de Donatela com a possível aproximação de Flora começa a fazer Lara se questionar. Se Flora procurá-la, ela deve dar alguma chance para a assassina de seu pai se explicar?
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Dodi e Zé Bob, outros pontos em comum
Não é só Lara que Donatela e Flora têm em comum. Dodi (Murilo Benício) foi casado com Flora, mas, depois dela tê-lo traído e matado seu melhor amigo, ele se aproximou de Donatela. Na dor, os dois se uniram e, um ano após a morte de Marcelo, se casaram. Com esta nova situação, Dodi, que antes era apenas um funcionário da fábrica de Gonçalo, passou a ocupar um alto cargo na empresa e a morar, junto com Lara e Donatela, numa casa colada à do patrão, dentro do rancho dos Fontini.
Aparentemente, está tudo certo entre Donatela e Dodi. Apesar do eterno conflito com Lara, que não suporta a maneira autoritária como ele trata os empregados, ele é um marido carinhoso. Reservado e misterioso, porém, Dodi parece ser cada vez mais incompreensível. Donatela sabe que o casamento com ela foi um grande negócio para ele. O que ela parece não saber – ou faz vista grossa – é que Dodi desvia altas somas de dinheiro da empresa Fontini e a trai de forma sistemática. Dodi também não conta com a simpatia de Irene, esposa do patrão, que nunca aprovou a amizade de seu filho falecido com o rapaz inquietante.
Zé Bob (Carmo Dalla Vecchia) é outro denominador em comum entre Flora e Donatela. O jornalista investigativo sempre foi um enrolado com as mulheres. Teve todas e não teve nenhuma. Ostenta o título de solteirão mais requisitado da praça e tem prestígio no meio jornalístico. Mas, no íntimo, amarga uma terrível solidão e um sentimento de derrota. Trabalha no jornal “O Paulistano” junto com Maíra (Juliana Paes). Está sempre brigando com sua editora, Tuca (Rosi Campos), para publicar suas matérias que denunciam as falcatruas do político Romildo Rosa (Milton Gonçalves). Sua única companheira é a fiel cadela Wilma
Zé Bob conhece Flora por acaso. Com o intuito de ajudar aquela mulher que atropelou sem querer, se aproxima dela e se sente extremamente atraído. Como um bom jornalista investigativo, fica intrigado com o fato de a mulher não revelar nada sobre seu passado. Flora, por sua vez, apesar de achar que não se interessaria por mais ninguém, se surpreende ao perceber que gostou do jornalista. Porém, todo cuidado é pouco e Flora, para se preservar, apresenta-se para Zé Bob com o nome de Sandra Maia.
Como o destino parece insistir em colocar Donatela e Flora frente à frente, com Zé Bob não poderia deixar de ser diferente. O jornalista, assim como aconteceu com Flora, conhece Donatela por acaso. Os dois, no entanto, se estranham desde o primeiro momento. Zé Bob considera Donatela uma “perua fútil” e ela o acha insuportável. Embora vivam trocando farpas, os dois sentem uma forte atração mútua e, muitas vezes, não conseguem resistir a ela.
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Cilene, a única testemunha
Cilene (Elizangela), a única testemunha do assassinato de Marcelo – e peça decisiva na condenação de Flora -, chegou à cidade passando fome. Conseguiu sobreviver fazendo unha de madame, mas acabou com fama de vidente, devido às previsões que fazia para as clientes. Através de uma delas, Donatela (Claudia Raia), Cilene acabou se aproximando de Marcelo, Dodi (Murilo Benício), Flora (Patrícia Pillar) e Silveirinha (Ary Fontoura), atualmente mordomo de Donatela, e com quem ela teve um longo e conturbado caso de amor.
Consta que Cilene teria engravidado de Silveirinha, que se revelou um desastre de marido e rompeu com ela logo depois do nascimento da criança, deixando-a sem dinheiro algum, nem lugar para morar. Embora tenha pensado em encaminhar a criança para um orfanato, Cilene desistiu da idéia ao se apaixonar pelo menino, a quem batizou com nome de cometa: Halley (Cauã Reymond), seu objeto de adoração e razão da sua vida.
Como não tinha idéia de como ganhar dinheiro para sobreviver e muito menos para criar uma criança, Cilene passou a usar seus controvertidos dons mediúnicos e tornou-se uma conhecida vidente. Paralelamente, abriu um negócio agenciando acompanhantes para seus clientes endinheirados.
Cilene é justa e profissional. É profundamente respeitada pelos seus clientes, que têm com ela garantia de segurança e sigilo absoluto, e também por suas “meninas”- Manu (Emanuelle Araújo), Sharon (Giovanna Ewbank), Luma (Thiare) e Melissa (Raquel Galvão) -, às quais defende com veemência em caso de abuso.
Halley (Cauã Reymond) é a alegria da vida de Cilene, mas também uma fonte constante de preocupações. Ela procurou dar ao filho uma educação rígida, baseada na moral e nos bons costumes, mas nada adiantou. Desde cedo, o garoto revelou uma tendência ao desvio. Foi expulso de diversas escolas e nunca conseguiu completar os estudos. Sempre metido em confusões, Halley cresceu e é hoje um sedutor. Com os dois pés na malandragem, além de profundamente ambicioso e carismático, é um mentiroso compulsivo e obcecado com a idéia de enriquecer a qualquer custo. Engana fácil jovens ricos, como Orlandinho (Iran Malfitano). Para ele, a melhor parte da casa de Cilene é onde ficam as “meninas”. Mesmo a vidente proibindo as meninas de se aproximarem de seu filho, o rapaz dá um jeito de transgredir a regra.
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Império Fontini
O império construído por Gonçalo (Mauro Mendonça), na concepção de Irene (Glória Menezes), em nada contribuiu para a felicidade da família. Todo o dinheiro proveniente da indústria de papel e celulose, que Gonçalo fez render quando Irene herdou a fábrica da família, não impediu, por exemplo, que Marcelo, filho do casal, fosse assassinado e o neto seqüestrado.
Para Irene, a maior alegria que todo este dinheiro proporcionou foi o patrocínio da escola de canto em Triunfo, cidade onde fica localizada a vila operária da indústria Fontini. Lá, ela dá aulas para crianças carentes. Esta foi a forma que ela encontrou para se redimir da culpa de ter se tornado uma mulher tão rica, justo ela que fora uma militante de esquerda na juventude.
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Irene, Gonçalo e Copola
Irene (Glória Menezes) conheceu Gonçalo (Mauro Mendonça) numa passeata de trabalhadores há quarenta anos atrás. Nessa época, ele era um jovem operário envolvido no movimento trabalhista. Ao lado de Copola (Tarcísio Meira), outro jovem operário, Gonçalo liderava o movimento e enfrentava os patrões sem medo.
Copola (Tarcísio Meira) e Gonçalo (Mauro Mendonça) eram grandes amigos e líderes do movimento trabalhista. Ambos eram apaixonados por Irene, mas ela engravidou de Gonçalo e acabou se casando com ele. Até hoje Irene se pergunta se fez a escolha certa, já que seu coração lhe dizia para ir em outra direção. O fato é que Copola também seguiu com sua vida e está casado há quarenta anos com Iolanda (Suzana Faini).
Atualmente, os dois amigos estão em lados opostos. Copola, aposentado, continua defendendo as causas trabalhistas, enquanto Gonçalo é dono da empresa e, segundo Copola, “traiu seus ideais”.
O namoro de Lara (Mariana Ximenes), neta de Gonçalo e Irene, e Cassiano (Thiago Rodrigues), neto de Copola e Iolanda, remeterá estes casais ao passado. O dono da empresa Fontini, assim como Iolanda, não verá com bons olhos o namoro da neta com o operário de sua fábrica. Já Irene e Copola não só aprovarão, como incentivarão o amor dos jovens que os faz lembrar de sua própria história.
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Família Copola
Copola abriu uma pequena biblioteca na garagem da sua casa em Triunfo. Com as doações de livros da vizinhança, atualmente a biblioteca serve de ponto de encontro para a comunidade. Muita gente passa pela garagem para ler um livro ou, à noite, para um recital de poesia ou para escutar uma música ao vivo. A agitação nos fundos da casa é motivo de briga constante de Copola com Iolanda, sua esposa.
Neurótica e hipocondríaca, Iolanda vive reclamando de doenças que afirma ter, mas que nunca são comprovadas nos exames. Apesar do temperamento difícil, ela é companheira fiel de Copola há mais de quarenta anos e mãe de suas três filhas – a primogênita Catarina (Lilá Cabral), Lorena (Gisele Fróes) e Cida (Claudia Ohana).
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As três filhas
Copola orgulha-se de ter dado uma casa de presente para cada uma de suas três filhas na vila que foi construída pela indústria Fontini para abrigar os funcionários mais graduados da firma. Catarina, Lorena e Cida são fortemente ligadas e donas de personalidades totalmente diversas.
Catarina é um prodígio como dona de casa, além de uma mãe exemplar para seus dois filhos, Mariana (Clarice Falcão) e Domenico (Eduardo Mello), dois jovens rebeldes que fazem da vida da mãe um inferno. Ela abdicou de sua vocação de astrônoma para casar-se com Leonardo (Jackson Antunes) e ser dona de casa. Nunca culpou o marido por ter se anulado para cuidar da casa e dos filhos e, resignada com a sua experiência medíocre, Catarina faz vista grossa para os casos extraconjugais de Leonardo. Ela ainda acredita naquele projeto de família em que ela investiu sua vida. Suporta as grosserias do marido, que a trata como mais uma funcionária da firma, e ainda agüenta seus dois filhos, que aprontam confusões pavorosas e não reconhecem a autoridade da mãe. Para o marido, só interessa que o jantar seja posto na mesa com pontualidade e que suas roupas estejam esmeradamente limpas e passadas sem vincos.
Lorena (Gisele Fróes), a filha do meio, é dona de uma personalidade dominadora. Casada com Átila (Chico Diaz), costuma impor sua vontade sobre o marido, que já se acostumou com o fato de a esposa ter sempre a última palavra em casa. Os dois são apaixonados e pais de Cassiano (Thiago Rodrigues).
Cida (Claudia Ohana), a caçula, nunca se casou. Ela acaba se sabotando ao demonstrar uma expectativa exagerada e uma ansiedade e carência gigantescas. Além disso, tem um temperamento forte e independente e é uma das raras mulheres motoristas de caminhão – o que também ajuda a afastar possíveis pretendentes. Iolanda se opõe à profissão da filha, que se arrisca dirigindo um caminhão pelas estradas à noite, mas Cida adora o que faz. A boléia de seu caminhão é seu refúgio.
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Romildo Rosa e família
Romildo Rosa (Milton Gonçalves) é o principal alvo de Zé Bob. O jornalista está sempre atento às ações do político. Para ajudá-lo nesta empreitada, ele conta com o apoio de Alicia (Taís Araújo), filha de Romildo. Apaixonada por Zé Bob, a moça, toda vez que se sente contrariada pelo pai, não só ameaça denunciar suas falcatruas, como trata de avisar o jornalista sobre seus passos. Zé Bob, porém, não dá a mínima para Alicia. O que lhe interessa mesmo é a vida de Romildo.
Romildo nunca conheceu o pai e perdeu a mãe cedo. Na infância, trabalhou numa carvoaria de sol a sol, em regime de semi-escravidão. Sua inteligência o beneficiou: um encarregado da firma, ao perceber que ele havia aprendido a ler sozinho e sabia recitar poemas de Castro Alves, o tirou da carvoaria e o levou para um internato, mudando para sempre sua sorte. Aos 14 anos, era poliglota e, mais tarde, se tornou jornalista. A carreira parlamentar surgiu em sua vida depois que entrevistou um político.
Em seus comícios, como deputado estadual, costuma dizer que chegou ao poder para lutar pelos direitos dos negros sem posses como ele. Mas atualmente Romildo pode ser tudo, menos sem posses. É um homem profundamente sofisticado e erudito.
Romildo não obteve o mesmo sucesso na sua vida pessoal. Perdeu sua mulher há alguns anos de uma forma trágica e teve que criar sozinho seus dois filhos, Alicia (Taís Araújo) e Eduardo, o Diduzinho (Fabrício Boliveira). Sempre às voltas com os negócios e a política, Romildo nunca teve a menor condição de dar atenção aos filhos, que acabaram se tornando dois parasitas desajustados, cada um a sua maneira.
Alicia (Taís Araújo) herdou a inteligência e o refinamento do pai, mas, em compensação, é autodestrutiva e dada a um escândalo, o que faz dela uma fonte constante de preocupações para Romildo. Única pessoa capaz de enfrentar o pai, Alicia tem algum talento como artista plástica e teria tudo para dar certo na vida, se não tivesse optado por ser infeliz. Consciente de sua beleza e de seu poder de sedução, usa e abusa dos homens. Aliás, nenhum homem é bom o suficiente para ela. A única exceção é o incorruptível Zé Bob, inimigo mortal de Romildo, e por quem Alicia fará de tudo. Talvez por ser ele o único homem de quem ela escuta “não” ou por ser o único que não tem medo de enfrentar o pai dela.
Diduzinho (Fabrício Boliveira) é um caso perdido. Não terminou os estudos e nunca conseguiu permanecer mais de uma semana nos empregos que o pai lhe arrumou. Sempre gastou fortunas em jóias e presentes para as mulheres que se aproximaram dele. Romildo reconhece que seu filho é um desastre, mas ainda assim acalenta o sonho de que ele se torne também um político. Ao contrário de Romildo, Didu tem bom coração, é generoso e afetivo.
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A paixão de Romildo
Ao contrário do que parece a princípio, Romildo não é um homem incapaz de amar. Há muitos anos, ele é apaixonado por Arlete (Angela Vieira), secretária de Gonçalo (Mauro Mendonça).
Arlete, um dia, amou profundamente Romildo, então um homem casado, inteligente e vivaz, com quem ela teve um longo caso. No entanto, por ser profundamente ética, ela se decepcionou com Romildo quando percebeu que ele era capaz de qualquer coisa pelo poder e dinheiro. Quando Arlete se afastou, Romildo, fora de si, tentou de todas as maneiras forçá-la a ficar com ele.
Ele até hoje tenta conquistar Arlete, mas o poder e a fortuna dele não são atrativos para ela. Muito pelo contrário. Arlete esconde que ainda ama Romildo e sempre que ele faz uma investida para se aproximar, é rechaçado. Os dois possuem um elo muito forte que os une: Damião (Malvino Salvador). Romildo sabe que Damião é seu filho, mas, em consideração a Arlete, cumpre a promessa que fez a ela: a de nunca revelar isso a ninguém, nem jamais tentar se aproximar de seu filho bastardo.
Damião não sabe que é filho de Romildo Rosa, um dos homens que ele mais despreza e odeia e a quem costuma chamar de corrupto. Ele trabalha na firma de Gonçalo Fontini e tornou-se o principal líder do sindicato. Muito influenciado por seu grande amigo e mentor Copola (Tarcísio Meira), Damião é um jovem idealista e carismático, cheio de ideais revolucionários. Mesmo sem muita instrução, tem fama de ser bom com as mulheres e talento como orador espontâneo – talvez uma herança genética de seu pai biológico. Filho único, ele é o xodó de Arlete, que sente um imenso orgulho do filho por ele ser idealista e íntegro como ela.
Líder das causas trabalhistas, Damião é uma fonte de problemas para Gonçalo Fontini (Mauro Mendonça), que hesita sempre em demitir o valentão filho de sua estimada secretária.
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Rita, a mãe solteira
Rita (Christine Fernandes) sempre foi louca por Zé Bob (Carmo Dalla Vecchia). Acabou engravidando dele, mas nunca revelou isso ao jornalista. Mãe solteira, se esforça para criar a filha Camila (Hanna Romanazzi), mas acha que o mundo foi injusto com ela. Trabalha na agência de publicidade de Gurgel (Mário Gomes), mas o salário não é suficiente para morar sozinha. Rita tem que se conformar em viver com a mãe, Dulce (Selma Egrei), uma funcionária pública aposentada, e a filha, num pequeno apartamento de fundos. Para melhorar seu padrão de vida, sua mãe insiste que ela deve procurar o pai de Camila e pedir pensão. Enquanto não toma esta decisão, é obrigada a passar por situações inusitadas para ajudar o patrão na idealização das campanhas de seus clientes, como a do filho de Romildo, Didu (Fabrício Boliveira), que é louco por ela.
Amelinha e Gurgel
Amelinha (Bel Kutner) e Gurgel (Mário Gomes) dizem que são filhos de família tradicional, mas é mentira. O que une o casal é uma louca ambição de chegar ao topo da sociedade através do atalho mais curto possível. Amelinha é colunista social e Gurgel, proprietário de uma pequena agência de propaganda especializada em campanhas eleitorais. Mas, até hoje, nenhum dos candidatos para os quais Gurgel fez campanha conseguiu se eleger. Apesar do fracasso, ele ainda consegue atrair alguns clientes, como Didu, filho de Romildo Rosa. Amelinha, por sua vez, sempre preocupada em subir na vida, não dá conta de cuidar dos dois filhos pequenos, Tiago (Renan Mayer) e Carolina (Sofia Terra).
Os retirantes
Edivaldo (Nelson Xavier) e suas filhas Greice (Roberta Gualda) e Maria do Céu (Deborah Seco) vivem em condições miseráveis num barraco de uma favela. Com uma promessa feita por Romildo Rosa de uma casa própria, Edivaldo, um homem ignorante e endurecido pela vida, resolve se mudar com as filhas para a cidade disposto a ter uma vida mais digna.
Ao contrário de Greice, tranquila e conformada com a dura realidade de favelada, Maria do Céu sonha com uma vida melhor e está disposta a fazer qualquer coisa para mudar o seu triste destino.
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Rosana, uma mulher e seus dois amores
No passado, Rosana (Giulia Gam) era uma moça linda, irreverente e musa inspiradora de muitas canções de amor e de dor de cotovelo. Provocadora e controvertida, causava escândalo porque era mulher de dois homens. O primeiro era o ídolo pop Augusto César (José Mayer), que causava frenesi nos anos 80 cantando baladas e o segundo, o líder estudantil Elias Filho (Leonardo Medeiros), bonitão e conhecido na cidade pela militância política. Augusto e Elias disputavam Rosana, o que causava revolta entre as demais garotas que se perguntavam o que ela tinha de tão especial.
Rosana era uma alma livre: tinha dois namorados, morava sozinha, escrevia poemas e ganhava dinheiro fazendo fotos para publicidade. Ainda jovem, engravidou. Augusto e Elias brigavam pela paternidade da criança, mas, para Rosana, não importava quem era o pai. Achava melhor que o menino tivesse dois pais ao invés de um. Augusto queria que o bebê se chamasse Shiva e Elias teimava em colocar o nome de Lenin. O jeito foi batizar a criança de Shiva Lenin (Miguel Rômulo).
Elias Filho via em Rosana uma futura líder política. Afinal, era ela que sempre estava ao lado dele nas assembléias e passeatas. Augusto César, por sua vez, mudou-se para um sítio, onde fez uma casa em forma de pirâmide. Dizia estar à espera da chegada do disco voador que iria levá-lo, junto com Shiva Lenin e Rosana, para um planeta mais seguro, já que a Terra seria devastada na passagem do milênio – dia do juízo final. Evidentemente Elias Filho não teria direito a nenhum assento na nave espacial.
Corria na cidade o boato que Augusto César tinha ficado doido. Por conta de suas crenças esotéricas, ele começou a se isolar: já não comparecia aos próprios shows, deixando auditórios lotados a sua espera, e passava os dias meditando em posição de lótus esperando entrar em contato com habitantes de outros planetas. Além disso, acreditava verdadeiramente que Rosana era uma alma iluminada enviada dos céus, capaz de fazer a comunicação entre os seres da Terra e os de outro planeta.
Augusto César costumava levar Rosana em peregrinações por locais desertos, segundo ele, pontos do território brasileiro ideais para contatos com extraterrestres. Numa dessas peregrinações, no entanto, foi que se deu, segundo Augusto César, “o milagre”. Na versão dele, Rosana foi levada da Terra por um disco voador. Já Elias aposta que Rosana morreu.
Eles não sabem realmente o que aconteceu. De fato houve um incêndio provocado por um raio naquele dia e Rosana, depois disso, nunca mais foi vista por ninguém. Shiva Lenin cresceu e, hoje, é um adolescente rebelde, que foi criado entre a casa piramidal de Augusto César e o apartamento de Elias.
Shiva Lenin é motivo de disputa entre seus dois pais, mas a verdade é que o menino não se deixa influenciar nem por Augusto, nem por Elias. Dono de personalidade própria, Shiva rejeita tanto o esoterismo de um, quanto o marxismo do outro. Seu sonho é se tornar um homem rico e careta, tanto assim que deseja mudar seu nome para Carlos Eduardo.
Augusto César disse adeus ao show business e costuma fugir dos repórteres que batem a sua porta para fazer alguma matéria sobre os anos 80. Transformou-se numa curiosidade excêntrica, uma espécie de lenda que só fala sobre discos voadores e se alimenta dos legumes e frutas que cultiva na sua horta. Ele acredita piamente que Rosana foi levada embora do planeta em uma missão importante, mas que um dia voltará para ele e Shiva Lenin. Por isso, permaneceu todos esses anos fiel a sua musa inspiradora. Toda essa fidelidade, porém, causa grande contrariedade nas muitas mulheres que o admiram. A mais empenhada de suas pretendentes é Maíra (Juliana Paes), a jornalista de “O Paulistano”, alguns anos mais nova e fã do roqueiro dos anos 80.
Elias, por sua vez, tornou-se o dentista da cidade e casou-se com Dedina (Helena Ranaldi), por quem é loucamente apaixonado.
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Rosana é Diva
O que o pobre Augusto César não poderia imaginar é que Rosana, naquela peregrinação, o largou para fugir com Pepe Molina (Jean Pierre Noher), o guitarrista de sua banda.
Como Rosana não agüentava mais Augusto César, nem Elias, aceitou fazer uma longa viagem com Pepe pela América do Sul e abandonou tudo, inclusive o filho. Mas Rosana se arrependeu amargamente do gesto irresponsável de sua juventude e, dali para frente, sua vida não deu mais certo. Rosana passou a se chamar Diva Palhares nos sets de cinema, onde trabalhava como maquiadora, se envolveu com vários homens e acabou sendo presa sob acusação de envolvimento numa quadrilha internacional. Para seu azar, o destino a trouxe justamente à cidade onde estava enterrado o seu passado.