Amor Perfeito pode se dar mal ao repetir erro de Mar do Sertão
05/04/2023 às 18h03
CONTINUA DEPOIS DA PUBLICIDADE
Com Júlio Fischer e Elisio Lopes Jr., Duca Rachid assina Amor Perfeito, atual novela das seis da Globo. A trama, até aqui, contou com capítulos encantadores e eletrizantes ao mesmo tempo. Tudo acontece com tamanha rapidez que é até complicado imaginar onde a história vai parar.
Reprodução / GloboEm poucos capítulos, já tivemos assassinato, prisão, gravidez, filho desaparecido, saída da cadeia, vingança da mocinha contra a vilã e até herdeiro encontrado. E se passaram apenas pouco mais de duas semanas de novela no ar. A impressão que dá é que, se continuar assim, Amor Perfeito se esgotará em breve.
CONTINUA DEPOIS DA PUBLICIDADE
Porém, esta “pressa” é bastante recorrente na obra de Duca Rachid, que assinou várias novelas das seis em parceria com Thelma Guedes. A dupla produziu grandes sucessos no horário, mas todos foram bastante criticados por conta do rápido esgotamento das narrativas.
Histórico
Após serem lançadas como autoras titulares no comando do remake de O Profeta (2006), Duca Rachid e Thelma Guedes emplacaram Cama de Gato (2009), primeira obra original delas. A história de Gustavo (Marcos Palmeira) e Rose (Camila Pitanga) foi bastante elogiada pela agilidade, já que as tramas se encerravam rapidamente.
LEIA TAMBÉM:
● Não merecia: rumo de personagem desrespeita atriz de Mania de Você
● Sucesso da reprise de Alma Gêmea mostra que Globo não aprendeu a lição
● Reviravolta: Globo muda rumo da maior tradição do Natal brasileiro
Toda a saga do mocinho, que perde tudo e passa por alguns perrengues para voltar e se vingar da vilã, Verônica (Paolla Oliveira), aconteceu antes da novela chegar à metade. Depois disso, a história se resumiu à megera tentando separar o casal principal.
Em seguida, Duca Rachid e Thelma Guedes assinaram Cordel Encantado (2011), o maior sucesso da dupla. A trama encantou o público com sua graciosa mistura de cordel e conto de fadas. No entanto, num determinado momento, o enredo se esgotou.
CONTINUA DEPOIS DA PUBLICIDADE
A novela, basicamente, acompanhava a história de uma princesa de um reino distante que ficou perdida no sertão brasileiro. Porém, assim que Aurora/Açucena (Bianca Bin) foi encontrada pelo rei Augusto (Carmo Dalla Vecchia), a trama se esvaziou. Mais uma vez, boa parte do folhetim ficou resumida às armações do vilão Timóteo (Bruno Gagliasso), que sequestrava Açucena toda semana.
Erro que se repete
Joia Rara (2013) e Órfãos da Terra (2019) padeceram do mesmo mal. Esta última, aliás, teve uma primeira fase aclamada pelo público, ao narrar a tensa história envolvendo Aziz (Herson Capri), Soraia (Letícia Sabatella) e Dalila (Alice Wegmann). O personagem de Herson, inclusive, era um grande vilão, um dos melhores tipos já vividos pelo ator nos últimos anos.
Porém, estes tipos compunham apenas uma espécie de prólogo de Órfãos da Terra. Aziz morreu ainda no início da história. Depois disso, a trama se resumiu à vilã Dalila, sua filha, tentando vingar a morte do pai, prejudicando os mocinhos Laila (Julia Dalavia) e Jamil (Renato Góes). Caiu na previsibilidade.
Amor Perfeito, pelo visto, vai pelo mesmo caminho. Duca Rachid, Júlio Fischer e Elisio Lopes Jr. têm em mãos uma história muito boa. Bem folhetinesca, com bons personagens, tudo muito bem armado. Porém, eles correm o risco de jogar tudo no lixo por conta da pressa com que tocam o enredo.
Problemas
Toda a trama envolvendo Marê (Camila Queiroz) e Gilda (Mariana Ximenes) que constava na sinopse divulgada já está praticamente resolvida, em duas semanas de novela no ar. A mocinha já passou pelo calvário, já deu a volta por cima e já se vingou da vilã. O que vem depois?
Toda a armação sobre a mocinha, que a fez se perder do filho e amargar anos na cadeia, poderia ter rendido bem mais se não fosse contada com tanta rapidez. Até aqui, Amor Perfeito parece confundir agilidade com pressa, o que é um erro. Uma história pode ser ágil, mas sem atropelar a si mesma.
Isso gera um efeito colateral grave: com tanta rapidez, não sobra tempo para que o público se envolva com os personagens e as situações. Um exemplo claro disso é o núcleo dos padres que criam Marcelino (Levi Asaf). São vários religiosos, todos de características distintas, mas isso não é explorado na trama. Falta tempo.
Armadilha
Se seguir neste ritmo, Amor Perfeito corre o risco de cair na armadilha já vista em Cordel Encantado, Órfãos da Terra e outras novelas de Duca Rachid. Ou seja, a trama inicial se esgotará e, depois disso, só se verá a vilã lançando novas artimanhas para acabar com a mocinha.
Vale salientar que Duca Rachid não é a única a repetir esse erro. Mário Teixeira, em Mar do Sertão, passou pela mesma situação. O autor esgotou muito rápido a história inicial envolvendo Candoca (Isadora Cruz), Zé Paulino (Sergio Guizé) e Tertulinho (Renato Góes) e, depois disso, passou o folhetim todo se apoiando no humor e nos personagens coadjuvantes. Erro que Teixeira cometeu também em I Love Paraisópolis (2015) e O Tempo Não Para (2018).
Será uma pena se isso vier a acontecer também em Amor Perfeito. A história é muito boa e não merecia ser queimada tão rapidamente por conta de uma pressa inexplicável.