Feita às pressas, Tieta substituiu novela vetada por excesso de drama
23/05/2020 às 2h19
Um dos grandes sucessos da história da teledramaturgia da Rede Globo foi a adaptação de Tieta do Agreste, de Jorge Amado, em 1989. Produzida às pressas, Tieta entrou no lugar de Barriga de Aluguel, que seria a substituta de O Salvador da Pátria, mas teve sua produção suspensa por José Bonifácio de Oliveira Sobrinho, então diretor da emissora.
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Boni alegou que a trama tinha excesso de drama e queria uma história mais leve. Ironicamente, a novela de Glória Perez foi produzida no horário das seis em 1990, com grande sucesso.
Adaptar o romance era um sonho antigo do canal. A primeira tentativa de produção foi em 1986. Seria uma minissérie de Doc Comparato, mas, de acordo com o Jornal do Brasil de 14 de setembro de 1986, a procuradora do autor pediu US$ 160 mil pelos direitos e a emissora achou caro demais. Para efeito de comparação, por Tenda dos Milagres, produzida em 1985, foram desembolsados US$ 15 mil.
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O mesmo JB, em 7 de março de 1989, informou que a emissora adquiriu os direitos e que Betty Faria, que intermediou a negociação diretamente com Jorge Amado, viveria a personagem principal. Certa vez, o diretor Daniel Filho contou que encontrou o escritor em Paris, em 1974, quando escrevia a obra. Amado disse que, se um dia fosse adaptada para a televisão, queria ver a atriz como a personagem-título.
Com a novela, a Globo queria recuperar seu prestígio, abalado após problemas com a trama anterior, O Salvador da Pátria, que, apesar de alcançar médias de 60 pontos no Ibope, foi criticada até por Roberto Marinho.
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A trama estreou dia 14 de agosto de 1989 e, além da protagonista, trazia nomes do quilate de Joana Fomm, que viveu a impagável vilã Perpétua, Yoná Magalhães, Reginaldo Faria, José Mayer, Paulo Betti, Arlete Salles e Cássio Gabus Mendes, entre outros.
Mudanças na história
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Ao jornal O Dia de 9 de julho de 1989, Aguinaldo Silva contou que escreveu os seis primeiros capítulos sozinho, “porque era preciso encontrar a fórmula e a linha do texto. Do sétimo em diante é que eu, a Ana [Maria Moretzsohn] e o Ricardo [Linhares] passamos a dividir o trabalho”.
No livro, a história é contada pelos próprios personagens depois que Tieta volta a Santana do Agreste. Na novela, foi feito diferente. “As histórias acontecem mesmo até a volta de Tieta. Com isso ganhei 18 capítulos, o tempo que Betty Faria precisava para acabar O Salvador da Pátria. E só depois disso ela entra no ar”, disse.
À Folha de S. Paulo de 25 de junho de 1989, Silva contou que, ao contrário do livro, a heroína teria um final feliz. “Isso frustraria o público”, disse o autor. “Para alongar a história, ele fundiu personagens, criou outros e levantou núcleos apenas esboçados por Jorge Amado que, na opinião dele, vai ficar satisfeito com o resultado, mesmo com a mudança do final. “Jorge vai me desculpar, mas essa licença eu vou tomar. Até porque ele é talentoso demais para sentir ciúmes do meu final”, disse”.
Abertura
Outro marco de Tieta é a abertura, produzida por Hans Donner. “Quem já viu a abertura de Tieta garante que está uma maravilha. Na telinha, aparece uma mulher escultural, nua em pelo, encostada num coqueiro. De repente, um efeito especial distorce a imagem e a transforma numa serpente”, antecipou o Jornal do Brasil de 9 de agosto de 1989. A letra do tema de abertura é de Boni, que já havia feito isso em outras produções, como Que Rei Sou Eu? e Fantástico.
Exibida até 31 de março de 1990, com 196 capítulos, Tieta foi um grande sucesso de público e crítica, alcançado excelentes médias no Ibope – seus últimos capítulos ultrapassaram nada menos que a casa dos 70 pontos.