Enquanto bonzinhos se ferram, vilões terminam O Rei do Gado impunes
23/02/2023 às 17h00
Longe do término, a terceira reprise de O Rei do Gado (1996) em Vale a Pena Ver de Novo ainda reserva muitas emoções. Os destinos de vários personagens prometem surpreender quem não lembra ou não conhece a novela de Benedito Ruy Barbosa.
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Até o fim da trama, tipos queridos do público vão padecer, enquanto outros ficarão impunes. Agentes da segurança e da justiça chegaram a protestar sobre os momentos finais do folhetim.
Criminosos impunes
Engana-se quem pensa que os vilões de O Rei do Gado pagarão pelos seus crimes. Geremias Berdinazi (Raul Cortez), que matou Fausto (Jairo Mattos), e Rafaela (Gloria Pires), que tentará dar fim ao suposto tio, vão terminar longe de qualquer punição…
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Os dois serão investigados pelo delegado Valdir (Tadeu Di Pietro), que não conseguirá provas suficientes para enquadrá-los.
Na época da exibição original, Benedito Ruy Barbosa explicou que o desfecho dos personagens era reflexo de um país onde os ricos sempre saem ilesos de suas maldades.
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“Nesse caso, o poder econômico e a amizade influenciaram. Essa impunidade não é novidade no Brasil. E agora todo mundo tem de ser punido nas novelas para não dar mau exemplo? Nem pensar! Na vida real isso não acontece. Por que novela tem de criar mundo cor-de-rosa? Procuro retratar o que acontece no cotidiano”, declarou o autor ao jornal Folha de São Paulo, de 2 de fevereiro de 1997.
Manobra no tribunal
Quem também escapa da cadeia é Marcos Mezenga (Fabio Assunção). Ele enterra o gigolô Ralf (Oscar Magrini) na areia da praia, ao encontra-lo machucado – em razão da surra aplicada pelos capangas de Orestes (Luiz Parreiras), marido de Suzane (Leila Lopes).
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Certo de que Ralf está morto, Marcos é surpreendido ao descobrir que o amante de Léia (Silvia Pfeifer) e Suzane morreu afogado. A maré subiu e ele, enterrado, não teve como reagir.
Em uma manobra no tribunal, o advogado do filho de Bruno Mezenga (Antonio Fagundes) consegue fazer com que ele seja condenado apenas por vilipêndio a cadáver. O crime acarreta em uma pena branda, que Marcos consegue pagar em liberdade.
Críticas de autoridades
Por conta destas situações, autoridades protestaram contra O Rei do Gado em matéria da Folha de São Paulo.
“A novela passa uma ideia de impunidade, o que não é condizente com a realidade. Temos casos de crimes impunes, mas temos muito mais casos de condenações”, destacou Eloísa Arruda, promotora do 5º Tribunal de Júri da Capital.
Eloísa salientou que, na época, 60% dos processos de homicídios terminavam em condenações.
O veículo também ouviu a delegada Elisabete Sato, da Divisão de Homicídios da Polícia Civil de São Paulo.
“A novela mostra que delegados são vaquinhas de presépio, manipulados por quem tem poder e dinheiro. Isso não é real”, disparou.
Despedida dos bonzinhos
Em contrapartida, O Rei do Gado puniu tipos queridos. O senador Caxias (Carlos Vereza) é assassinado numa emboscada preparada para ele e para Regino (Jackson Antunes), líder dos sem-terra.
Regino morre de forma parecida, ao ser surpreendido pelos jagunços de uma fazenda improdutiva na qual ele e seu grupo buscam assentamento.
Ao lado de Lupércio (Adenor de Souza) e Formiga (Cosme dos Santos), ele tenta resolver a situação pacificamente, mas acaba morrendo, agarrado à terra que sempre lutou para ter.
Após a morte de Caxias e do amigo, Chiquita (Arieta Corrêa), Bia (Mara Carvalho) e Jacira (Ana Beatriz Nogueira) assumem o comando do movimento.