Em Terra e Paixão, autor repete na Globo o que já fez na Manchete
22/02/2023 às 10h45
Em Terra e Paixão, novela que substituirá Travessia no horário nobre da Globo e será estrelada por nomes como Tony Ramos (foto abaixo), Walcyr Carrasco trará um núcleo formado por personagens indígenas.
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Para que o autor não cometa erros nesta abordagem, a emissora conta com a ajuda do escritor indígena Daniel Munduruku, que atua como consultor na obra.
Trata-se da mesma medida adotada pela extinta TV Manchete em uma trama escrita pelo mesmo Carrasco.
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Na minissérie O Guarani (1991), o autor também contava com um consultor indígena para evitar qualquer distorção entre os personagens que representavam os povos originários do Brasil.
Romance de José de Alencar
Em 1991, a TV Manchete lançou a minissérie O Guarani. A trama marcou a estreia de Angélica, então apresentadora da casa, como atriz, dando vida à protagonista Cecília. Seu par romântico era o indígena Peri, interpretado por Leonardo Brício.
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O Guarani era uma adaptação de Walcyr Carrasco do livro homônimo de José de Alencar. Em 35 capítulos, a produção registrou ótima audiência para os padrões da Manchete e reuniu um grande elenco, com nomes como Carlos Eduardo Dolabella, Darlene Gloria, Fernando Eiras, Luigi Baricelli e Monique Evans, entre outros.
Para orientar Carrasco na abordagem dos personagens indígenas, a produção de O Guarani contava com o auxílio de Karaí Mirin, líder dos guarani. A presença do consultor permitiu que alguns dos mitos que cercam os povos indígenas fossem evitados na minissérie.
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Antropofagia
De acordo com a Folha de S. Paulo, em matéria publicada em 18 de agosto de 1991, o indígena Karaí Mirin evitou que O Guarani exibisse uma cena de antropofagia, ou seja, o ato de se comer carne humana.
A sequência faz parte do romance de José de Alencar e, a princípio, havia sido mantida por Walcyr Carrasco em sua adaptação. No entanto, Mirin solicitou que a cena em questão fosse limada do enredo.
“A antropofagia é uma das formas de mostrar que o índio é selvagem. Não há antropofagia entre nós. Para nós, antropofagia é degeneração”, explicou Karaí Mirin, historiador e professor formado pela Universidade Gama Filho, no Rio de Janeiro.
Na mesma matéria, Mirin explicou que todos os assuntos referentes à cultura indígena estavam sendo tratados com respeito na minissérie. O consultor, inclusive, revelou que precisou destruir um cenário que retratava uma casa indígena por não concordar com algumas “baixarias”.
“Era tudo inventado. Não se parecia com nada do que tinha desenhado para eles. Eles disseram que não tinham recursos para fazer como deviam. Então, eu e outros guaranis destruímos e reconstruímos, com o mesmo material”, contou.
Terra e Paixão
Os povos indígenas também serão retratados em Terra e Paixão (ex-Terra Vermelha e Terra Bruta), próxima novela das nove da Globo. A trama se passa numa cidade fictícia do interior do Mato Grosso do Sul e tem o mundo do agronegócio como pano de fundo.
No enredo, a mocinha Aline (Bárbara Reis) vai prosperar com as terras herdadas de seu marido, morto por conta de grilagem. Ela vai despertar a fúria dos poderosos do agronegócio da região, como Antonio La Selva (Tony Ramos). Mas, em sua luta, contará com a ajuda de descendentes dos povos originários, como Rudá Paraguaçu (Mapu Huni Kui).
Para evitar erros quanto aos hábitos culturais destes personagens, a Globo contratou o escritor indígena Daniel Munduruku. O profissional dará suporte ao autor para traçar os conflitos dramatúrgicos entre indígenas e interesses agrários.