Em 1993, Aqui Agora chocou o público ao mostrar suicídio em rede nacional
02/05/2020 às 0h06
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Um suicídio exibido em rede nacional. No dia 5 de julho de 1993, essa foi a principal reportagem do Aqui Agora, telejornal do SBT exibido durante boa parte dos anos 1990 e que fez muito sucesso entre 1991 e 1993. Às 20h30 desse dia, foram exibidas as cenas do suicídio de Daniele Alves Lopes, que tinha 16 anos.
A jovem pulou, por volta das 11h, do sétimo andar de um prédio no centro de São Paulo, em queda livre de 25 metros. Ela, que era recepcionista, ficou 15 minutos sentada no beiral do prédio antes de se atirar. Socorrida por policiais, morreu a caminho do hospital.
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O porteiro do prédio onde Lopes se atirou chamou o Corpo de Bombeiros quando viu a atitude da garota. A equipe de reportagem do SBT, liderada pelo jornalista Sérgio Frias, chegou junto com eles, já que estavam na região central de São Paulo quando receberam um chamado urgente do jornalismo da emissora, que havia escutado sobre a ocorrência na frequência de rádio.
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“Ela pulou, ai meu Deus”, disse Frias no momento da queda, que foi sucedida por um forte estrondo. As imagens foram gravadas pelo cinegrafista José Meraio.
Na Folha de S. Paulo de 6 de julho de 1993, reportagem detalhou o acontecido. Vânia Maria Duarte de Oliveira, 15 anos, amiga de Daniele, disse que a causa foi um amor frustrado. A garota vivia há três anos uma paixão não correspondida por um rapaz de 19 anos. Lopes não deixou nenhum bilhete de despedida.
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Audiência subiu 33,5%
A exibição do suicídio aumentou a audiência do Aqui Agora em 33,5%, de acordo com o Ibope. Os 10 minutos de reportagem tiveram audiência média de 20 pontos na Grande São Paulo, correspondendo, na época, a 800 mil domicílios sintonizados. O telejornal ainda ia bem no Ibope e alcançava, geralmente, 15 pontos.
Evidentemente, a repercussão do caso, na mesma matéria da Folha, foi muito negativa. Em entrevista à Folha, Maria Baccega, professora da Escola de Comunicações da USP, disse que a reportagem foi uma exploração da atração pelo mórbido. “O SBT misturou realidade com ficção. Não sabemos se a menina se suicidou porque queria morrer ou porque iria sair na televisão”, disse.
Já o psicanalista Jurandir Freire Costa disse que ficou horrorizado e que o Aqui Agora trabalhava com dissimulação. “Eles se apresentam cheios de bons sentimentos, se horrorizam junto com o público, mas são abutres”, ressaltou.
O então diretor nacional de jornalismo do SBT, Marcos Wilson, também falou sobre o caso, dizendo se tratar de um flagrante da cidade. “Nós tivemos a preocupação de avisar o telespectador que as imagens eram fortes, pedimos para as crianças não assistirem e mostramos que o suicídio nunca é a saída. A saída é a vida”, disse.
Alguns dias depois, na mesma Folha, Wilson disse que a exibição foi “uma decisão editorial”, mas reafirmou que não houve abuso. “Abuso teria sido reprisa as imagens em câmera lenta”, ponderou.
Os pais de Lopes processaram o SBT, recebendo uma indenização milionária da emissora por danos morais.
Outros casos de suicídio na TV
Outros casos de suicídio mostrados na televisão já levantaram debates sobre os limites desse tipo de cobertura. São exemplos os incêndios dos edifícios Joelma, em 1974, em São Paulo (SP), e Andorinha, em 1986, no Rio de Janeiro (SP). É lembrada até hoje a reportagem de Leila Cordeiro quando algumas pessoas se atiraram desse prédio.
Um caso famoso no mundo todo foi o suicídio de Budd Dwyer, que era secretário do Tesouro do Estado da Pensilvânia, nos Estados Unidos e foi acusado de receber suborno. Ele, que jurava inocência, se matou durante coletiva de imprensa em 22 de janeiro de 1987, com um tiro na boca.
Emissoras do mundo todo receberam as imagens na íntegra, mas abordaram o caso de diferentes formas. Nos Estados Unidos, nenhuma delas exibiu o vídeo por inteiro. No Brasil, por exemplo, a Rede Globo mostrou o caso no Jornal Nacional, mas a imagem foi congelada quando Dwyer colocou o revólver na boca, sendo ouvido apenas o barulho do tiro.
À revista Veja de 14 de julho de 1993, o então diretor de jornalismo da Globo, Alberico de Souza Cruz, explicou: “Para informar aquele suicídio não precisamos chocar os telespectadores. Como regra geral, não sonegamos a notícia, mas evitamos cenas gratuitas”.