Globo foi proibida de exibir crianças cheirando cola em novela

05/11/2022 às 16h15

Por: Fabio Marckezini
Imagem PreCarregada

A Próxima Vítima (1995), sucesso que a Globo disponibilizou recentemente no Globoplay, parou o país. Todo mundo buscava saber quem era o assassino da trama de Silvio de Abreu.

CONTINUA DEPOIS DA PUBLICIDADE

A produção, que também abordava temas polêmicos, teve uma cena cortada por falta de autorização judicial, já que envolvia o ator Patrick de Oliveira, na época, com 13 anos.

CONTINUA DEPOIS DA PUBLICIDADE

Sequência barrada na Justiça

A Próxima Vítima - Glória Menezes e Pedro Vasconcelos

Patrick deu vida a Arizinho, filho perdido de Quitéria (Vera Holtz) e Zé Bolacha (Lima Duarte), amparado pela socialite Júlia Braga (Glória Menezes). Em uma das cenas, o garoto cheirava cola ao lado de outras crianças.

LEIA TAMBÉM:

A emissora enviou o roteiro da sequência a 1ª Vara da Infância e da Juventude no Rio. A promotora Maria Lúcia Ceglia fez uma análise do texto e acabou rejeitando o script.

“Não tenho nenhum problema com as cenas em si. Só não concordo que sejam feitas por profissionais menores de 18 anos. Se a Globo usasse apenas atores mais velhos, tudo bem”, declarou a promotora em entrevista ao jornal Folha de São Paulo, em 5 de abril de 1995.

CONTINUA DEPOIS DA PUBLICIDADE

A decisão do autor

Silvio de Abreu

A Folha teve acesso ao roteiro da cena. Júlia encontrava Arizinho cheirando cola ao lado de outros garotos. No texto, a mulher buscava impedir que o menino fizesse uso da substância e acabava sendo ridicularizada por ele e pelo grupo. Júlia tirava o saco de cola da mão de Arizinho e começava a cheirar ao lado deles.

Assustado, o menino dizia que aquilo poderia fazer mal a ela, tomando o objeto de suas mãos. Júlia se levantava, afirmando que aquilo não fazia bem para ninguém. O menino retrucava, dizendo cheirar cola para espantar a fome.

Como a juíza de menores, responsável pela liberação da cena, não deu resposta positiva à Globo sobre a exibição, Silvio de Abreu decidiu deixar essa passagem de fora da novela.

“Lamento profundamente tudo isso. Minha intenção é denunciar o abandono das crianças brasileiras”, argumentou o autor.

“Quem se droga é o Arizinho, não o Patrick”

A Próxima Vítima - Lima Duarte, Patrick de Oliveira e Vera Holtz

O próprio Patrick foi contra o corte, afirmando que nada daquilo iria prejudicar a sua vida pessoal.

“Os meninos de rua vivem uma situação muito triste. É importante denunciá-la. Talvez as imagens sensibilizem os poderosos, os que têm força para tomar uma atitude contra a pobreza. Ninguém vai me confundir com um marginal que cheira cola. Sou um ator. Quem se droga é o Arizinho, não o Patrick”, afirmou o ator à Folha.

Tereza de Oliveira, mãe de Patrick, concordou com o filho e ressaltou que ele contava com todo o apoio da família.

“Meu filho tem uma família que o protege. Não se deixa influenciar à toa. Quando sai da Globo, esquece o que se passou nas gravações”, salientou ela.

“Acho muito forte uma novela mostrar crianças se drogando”

Patrick de Oliveira

Mas, para ela, a melhor coisa foi a Globo não ter exibido as cenas em que Arizinho cheirava cola:

“Parece contraditório – afinal, permiti que o Patrick vivesse o papel. Só que, no fundo, acho muito forte uma novela mostrar crianças se drogando”.

Patrick de Oliveira esteve presente em várias produções, como Despedida de Solteiro (1992), Fera Ferida (1993), Pecado Capital (1998) e A Muralha (2000).

Casado e pai de um filho, o ator está com 40 anos e é diretor da produtora Forever Filmes, especializada em trabalhos institucionais. Ele também responde pela direção do esportivo Os Donos da Bola, na Band Rio.

Utilizamos cookies como explicado em nossa Política de Privacidade, ao continuar em nosso site você aceita tais condições.