Como não amar Bebê a Bordo? 10 motivos para curtir a nova reprise do VIVA
15/01/2018 às 15h30
Bebê a Bordo já é, praticamente, balzaquiana. A novela de Carlos Lombardi completa 30 anos em junho. Mas quem ganha presente é o público: o VIVA resgata, a partir desta segunda-feira (15) – às 15h30 e 0h30 – esta divertida comédia sentimental, estrelada por Isabela Garcia, recém-saída da Globo, e Tony Ramos, no ar em Tempo de Amar, às 18h. Não acompanhei ‘Bebê’ em sua primeira exibição por contingências do destino: eu ainda era tão pequenino quanto Heleninha (Adriana Valbon / Beatriz Bertu), a tal criança a bordo. Também não me recordo de sua exibição em 1992, dentro da faixa Vale a Pena Ver de Novo, num compacto de 90 capítulos. Abaixo, listo 10 motivos que me deixaram “ansiosão” por este regresso!
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O grande barato do VIVA é “reativar memórias” através da reconfiguração de velhos conteúdos. Explico: a Bebê a Bordo que muita gente viu em 1988 não é a mesma de 1992, nem será idêntica à de agora, 2018. Somos “atingidos” pelas novelas de formas diferentes, de acordo com os estágios de nossas vidas, com os pensamentos daquele momento, da nossa forma de ver o mundo “ali e agora”. Aquela piada de Os Trapalhões (1977) pode não ter a mesma graça agora; assim como Laura (Vivianne Pasmanter) me pareceu bem mais ridícula nesta exibição de Por Amor (1997) finalizada em dezembro. ‘Bebê’, para mim, é inédita. Será que vou considera-la tão divertida quanto dizem alguns? Ou vai me parecer enfadonha, como classificam outros? Terei a oportunidade de avaliar. E quem já viu, a de reavaliar. Isso é ótimo!
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Fato é que a trama já tem um ponto a favor: Carlos Lombardi. Sou entusiasta do texto do autor: diálogos rápidos e precisos, pontuado por frases sarcásticas, nos momentos de tensão, de alegria ou emoção. Sou fã de carteirinha de sua forma peculiar de abordar conflitos familiares, sempre eixo de suas novelas: acho, por exemplo, que o melhor de Pé na Jaca (2006) eram as situações envolvendo Lance (Marcos Pasquim), seu pai, irmão, filhos e mulheres. Lombardi é, sem dúvida, um dos maiores roteiristas do país! Lamentavelmente, está fora do ar desde a estupenda Pecado Mortal (2013), folhetim da Record TV que, uma pena, quase ninguém viu – a emissora se esmerou em suas “tentativas” de esconder (o bom) produto. É fato, porém, que o autor não costuma manter o ritmo acelerado até o fim: quase sempre rola aquela barriguinha…
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Conhecido por entregar a atores tarimbados tipos incomuns em suas trajetórias artísticas, Lombardi contou aqui com Tony Ramos; para mim, o maior ator deste país! Unindo características suas com as de Roberto Talma, diretor executivo (o hoje chamado diretor artístico), ‘Lomba’ concebeu para Tony um tipo inseguro, irritadiço e atabalhoado. Evidente que o mestre desenvolveu Tonico Ladeira com a maestria que lhe é peculiar… Ainda, Isabela Garcia! Sempre uma grata presença, Isabela experimentava em Bebê a Bordo uma situação diferente em sua já extensa carreira, apesar da pouca idade: a do protagonismo. A atriz, novinha de tudo, conferiu à Ana a meiguice de uma meninota (inerente em seu perfil) e a força de uma mãe. Nada fácil, né? Só o casal protagonista já vale a novela toda, sim ou com certeza?
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No elenco de Bebê a Bordo também estão Maria Zilda Bethlem e Inês Ghalvão. Duas atrizes, que lástima, esquecidas pela TV. Maria Zilda, símbolo sexual nos anos 1980 – carregou durante toda Guerra dos Sexos (1983) a alcunha de “belas pernas” – vive Ângela, a solteirona reprimida que faz do lençol o seu melhor companheiro nos momentos em que se imagina protagonizando aventuras sexuais; já Inês, que se afastou da carreira para dedicar-se à vida doméstica, é Soninha, a ex-miss Osasco, que desconta nos bens materiais a frustração do casamento com Tonico. Era também o início da promissora carreira de Guilherme Fontes e Guilherme Leme, estouradíssimos em todo país como os irmãos Rei e Rico. E tem Nicette Bruno (Branca), tão carinha de vó, num tipo incomum: a mãe que abomina a maternidade.
Ah, e a saudade? O VIVA me mostrou o quanto sempre fui devotado a Sebastião Vasconcelos, seu Floriano e Zé Esteves, pai de Ruth e Raquel (Glória Pires) e de Tieta (Betty Faria) – respectivamente, em Mulheres de Areia (1993) e, claro, Tieta (1989). Tal e qual Nicette, Sebastião aqui não paga de paizão: o ex-presidiário Tico pouco se interessa pelos filhos Rei, Rico e Tonhão (José de Abreu). Dentre outros nomes – relembre todos aqui – Bebê a Bordo conta ainda com Dina Sfat, em seu último trabalho. Vai ser a chance de conhecer melhor o trabalho desta atriz, de olhar tão penetrante! Como Laura – a mãe de Ana; avó de Heleninha -, Dina desenvolveu uma feliz parceria com Ary Fontoura (maravilhoso!), o Nero, e Leina Krespi (Vespúcia), tão importante na minha infância: era a mãe de Xuxa no filme Lua de Cristal (1990)!
Também a oportunidade de curtir o trabalho de atores e atrizes que a TV, lamentavelmente, esqueceu. É o caso, por exemplo, de Maria Zilda Bethlem, Inês Ghalvão, Guilherme Leme, Patrícya Travassos (Ester, irmã de Tonico), Débora Duarte (Mendonça, chefe do protagonista), Paulo Guarnieri (Nicolau, enteado de Laura). Ainda, a beleza de Sylvia Bandeira (Dinha), vista recentemente em Sol Nascente (2016); e a juventude de Carla Marins (Sininho), que está no ar em Apocalipse, da Record TV. Dois grandes talentos que acumularam seguidos trabalhos nos anos 1980 e 1990 e que, uma lástima, viram suas aparições ratearem nas décadas seguintes. E, é claro, Isabela Garcia. A atriz deixou a Globo, onde estava desde a mais tenra infância, recentemente. Fica a torcida para que ela, assim como os outros, não suma.
É claro que não poderia deixar de citar Heleninha, fio condutor de toda a trama. E não falo de uma Heleninha, mas dos cinco bebês que deram vida à pequena estrela de Bebê a Bordo – com destaque para Beatriz Bertu, a última neném e a mais famosa delas. Sou apaixonado por filmes de criancinhas; isto inclui, claro, Olha Quem Está Falando (1989) e Ninguém Segura Esse Bebê (1994), dois dos meus clássicos da Sessão da Tarde preferidos. Logo, uma novela com este título e com um bebê no centro da trama não pode ser menos do que muito fofa! Ou seja: essa profusão de mamadeiras, fraldas e chupetas tem tudo para atingir em cheio a galera que prestigiou, por exemplo, A Gata Comeu (1985), exibida pelo VIVA no mesmo horário – e que também contemplava os pequeninos (saudade, Clube dos Curumins!).
E por falar em antecessoras… Bebê a Bordo bebe na fonte de liberdade em que Tieta (1989) saciou a sede de seu público. A trama não tem pudores ao debater desejo, relações sexuais, relacionamentos amorosos. Os irmãos Rei e Rico tornaram popular a expressão “levar os coelhos”, uma referência ao ato sexual; já Sininho (Carla Marins) fazia bom uso da oportunidade de “experimentar” mais de um homem, o que fora negado à sua avó, Walkiria (Márcia Real), de moral rígida. Até mesmo a protagonista, Ana, engravidou sem saber de quem, após transar, na penumbra, com um homem fantasiado de Papai Noel, que ela julgava ser o marido Zezinho (Léo Jaime). Com tanto debate acerca do amor e do sexo, logo surgiu a sexóloga Fânia (Deborah Evelyn), que estudava o comportamento dos danadinhos Rei e Rico.
‘Quando faz amor… Se olha no espelho…’. Sim, também rolava aquela “namoradinha” básica na trilha sonora. Versão do Yahoo para o hit ‘Love Bits’, da banda inglesa Def Leppard, ‘Mordida de Amor’ marcou o repertório de Bebê a Bordo e o ano de 1988. Os rapazes do grupo batiam ponto em programas como Xou da Xuxa (1986) e Globo de Ouro (1972). Mas este não foi o único “hino” da trilha, que contou ainda com ‘O Beco’, dos Paralamas do Sucesso; ‘De Igual pra Igual’, com José Augusto; uma regravação de ‘Preciso Dizer Que Te Amo’, clássico de Cazuza, na voz de Marina; e mais uma incursão da atriz Carla Daniel na música, com a deliciosa ‘Rendez Vous’. Na seleção internacional, destaque para a “melô do papel” – ‘Build’, dos Housemartins; ainda, Depeche Mode, Elton John, Foreigner e Gloria Estefan & Miami Sound Machine.
As músicas traduzem uma determinada época tão bem quanto as roupas! E o figurino de Bebê a Bordo é um caso à parte: as bandanas foram da cabeça de Rei e Rico para os cocurutos de todo país! O blusão de couro, meio gasto, que Ana usou em muitos capítulos também ganhou as ruas. Também não houve quem não aderisse às jaquetas jeans de Rico. Era tempo de roupas um, dois ou muitos números maiores – todo mundo parecia mais magro, verdade. Por essas e muitas outras, vale a pena embarcar no túnel do tempo que o VIVA instala hoje com a reexibição de Bebê a Bordo. Qualquer novela, de qualquer época, quando “resgatada”, merece atenção. Não poderia ser diferente com ‘Bebê’, que, além de tudo, ostentou uma invejável média de audiência, repercutiu nas ruas e fez história na televisão brasileira!