Internet, cigano Igor e mais: novela cheia de novidades estreava há 25 anos

06/11/2020 às 3h00

Por: Duh Secco
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Exibida pelo canal Viva em 2018, Explode Coração reavivou boas lembranças no público que a acompanhou entre novembro de 1995 e maio de 1996, bem como atiçou a curiosidade dos telespectadores que, por conta da idade ou qualquer outro motivo, não conferiram a novela em sua apresentação original. Depois de rever (e melhor compreender) a trama, vamos listar 10 bons motivos que comprovam que trata-se de uma ótima novela.

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Há os que apontam O Clone (2001) como o “nascimento” de uma “identidade novelística” para Gloria Perez. Ledo engano. Foi com Explode Coração que a autora passou a apostar no contraponto de culturas. A diferença para o clássico da década seguinte está na opção pelos ciganos daqui mesmo, evitando a ponte aérea Brasil – país “exótico”. Evidente que a caracterização deixou o povo “diferente” um tantinho estereotipado; o texto, porém, embora foque justamente no “incomum”, faz questão de tornar os ciganos críveis e, por isto, tão interessantes. A aposta no casal Dara (Tereza Seiblitz) – apaixonada por esse povo, mas inconformada com as tradições – e Júlio Falcão (Edson Celulari) – um homem distante de sua essência – consistiu num acerto e tanto; especialmente por conta dela, mocinha “afrontosa”, como só Gloria sabe fazer.

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O meio pelo qual Dara e Júlio se conhecem, através de uma embrionária internet, mudou muito de 1995 para cá. É curioso constatar que a trama de Explode Coração, naquele tempo, era considerada inverossímil. ICQ, Orkut, MSN, Facebook, WhatsApp e Stories depois, estamos aqui, sem a certeza de onde a tal rede mundial de computadores ainda pode chegar.

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É curioso acompanhar a reação dos personagens às máquinas – Odaísa (Isadora Ribeiro) trata por “bicho” – bem como a antecipação de Hans Donner à tecnologia do touch screen e do iPad, presentes na abertura, com direito a “download” de Ana Furtado! Curiosamente, o visual dos personagens não difere tanto assim do que vemos hoje. Ninguém mais usa o cabelo de Yone (Deborah Evelyn), claro, mas em termos de moda, ‘Explode’ até que tá bem moderninha…

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Moderninha também é a produção! Primeira novela totalmente gravada no antigo Projac (hoje, Estúdios Globo), Explode Coração soa atual por conta de suas imagens. Há mais luz e cor do que em cartazes exibidos no mesmo ano ou no anterior, já vistas no VIVA – como História de Amor (1995), A Próxima Vítima (1995) e A Viagem (1994). Talvez por conta da “modernidade” dos estúdios, a equipe liderada pelo diretor-geral Dennis Carvalho se permitiu cenários maiores – embora a sala da casa de Júlio pareça pequena diante do apartamento de Dara. O folhetim é de um tempo em que se preservava certa “veracidade” nos ambientes. Como exemplo, a lanchonete de Lucineide (Regina Maria Dourado), com cara de estabelecimento do subúrbio – hoje, até o mais simples dos botecos aparece entulhado de produtos da Globo Marcas.

Concebida às pressas para cobrir o buraco deixado pela suspensa Mar Morto e a adiada O Rei do Gado (1996), Explode Coração conta com uma escalação um tanto quanto atípica. Tereza Seiblitz já havia se destacado em Pedra Sobre Pedra (1992) e Renascer (1993), mas ainda não tinha status de protagonista – aliás, ótima à frente do elenco.

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Cássio Gabus Mendes já era uma estrela quando topou viver o nerd Edu, certamente pela amizade com Dennis, na correria para fechar o time; talvez, caso também de Deborah Evelyn, Débora Duarte (Marisa) e Herson Capri (Ivan). Bom ver Daniel Dantas num tipo arrivista, Tadeu; assim como Françoise Forton e os ares de vilã de Eugênia. O tom choroso de Maria Luísa Mendonça é incômodo, mas a atriz transitou bem entre a perturbada Letícia, de Engraçadinha (1995), para a ciumenta Vera.

Há também novatos promissores! A começar por Rodrigo Santoro, óbvio, remanescente de Olho no Olho (1993) e Pátria Minha (1994). Da primeira, veio Felipe Folgosi (Vladimir), bom ator lamentavelmente relegado a papeis menores; da segunda, Cássia Linhares (Natasha), na mesmíssima situação. Ainda, Roberta Índio do Brasil, em sua última novela; a jovenzinha promissora, que havia se destacado em A Viagem, como a musicista Sofia, se afastou do vídeo para se dedicar à carreira em ciências econômicas e à família. Também a estreia de Leandra Leal, na Globo e em horário nobre! Nestes primeiros capítulos, Ianca incomoda por estar sempre se esgoelando… O tom, contudo, é corrigido no decorrer da narrativa. E a personagem ganha relevância, assim como Leandra ganhou importância no cenário artístico brasileiro.

Em contraponto a tantos talentos, Ricardo Macchi. Definitivamente, o intérprete do Cigano Igor passa longe de um desempenho, no mínimo, satisfatório. Robótico, o ator só não incomoda quando está em cena apenas como adereço, galopando ou “testemunhando” acontecimentos na tenda dos ciganos. Mas, justiça seja feita: Macchi melhora consideravelmente da metade para o final de Explode Coração – em parte, auxiliado por Gracindo Jr, que se integra à direção e ao elenco, como o malandro Geraldo. Neste período – tome spoiler! – a torcida se divide entre Júlio e Igor, os candidatos ao coração de Dara. Tarde demais para os críticos e para boa parcela do público: o Cigano virou sinônimo de atuação ruim, do “rostinho bonito, sem nenhum talento”. Quem sabe agora, nesta reprise, a audiência não o redima.

Dando suporte aos novinhos, bons ou ruins, uma turma de veteranos da melhor qualidade! Os personagens, aliás, parecem pequenos para o talento da trupe; todos, porém, conseguiram em Explode Coração mais uma chance de brilhar: Paulo José e Eliane Giardini, o casal Jairo e Lola, pais que ora protegem, ora se opõem a Dara; Nívea Maria, como a ambiciosa Alícia, e Reginaldo Faria, seu marido César, enfrentando Renée de Vielmond (que falta faz!), a Beth – ex dele e namorada do filho dela, Serginho; Zezé Polessa como a esnobe Mila e Cláudio Cavalcanti, o capacho Tolentino. Ainda, Laura Cardoso como a “bába” dos ciganos, Soraya; Elias Gleizer, o vovô que se aventura na faculdade, Augusto; Stenio Garcia, grande demais para o pequeno Pepe; e os bissextos Ivan de Albuquerque (Mío) e Ester Góes (Luzia).

Evidente que Explode Coração traz os coadjuvantes comuns às obras de Gloria Perez, como Eri Johnson (o mesmo de sempre, atendendo por Adilson Gaivota) e Guilherme Karan (Bebeto). Contudo, há tipos muito mais interessantes nos núcleos periféricos, que, de tão bons, quase tomaram a novela no laço! Caso de Lucineide (Regina Maria Dourado), do “Stop, Salgadinho!”, jeitinho “meigo” de silenciar o marido, Salgadinho (Rogério Cardoso, numa curiosa incursão por novelas).

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Floriano Peixoto pareceu desconfortável no início, com o cabelão e o vestuário de sua Sarita Vitti; logo, porém, já dominou a personagem. E Isadora Ribeiro, tão subjugada por ter emergido como modelo, na pele da mãe Odaísa, desemparada pelo namorado malandro (Gaivota) e alvejada pelo desaparecimento do filho, Gugu (Luís Cláudio Jr).

Aliás, o engajamento na busca por crianças desaparecidas constituiu-se num dos melhores merchandisings sociais da ficção, não só pela forma como o tema foi inserido na narrativa, como pelo efeito da abordagem na “vida real”, com a localização de muitos pequenos.

Diferente de outras seleções da mesma época, a trilha nacional de Explode Coração não conta com nenhum grande hit – embora o repertório, com Marina Lima, Marisa Monte e Milton Nascimento, seja da melhor qualidade. Já o internacional conta com duas canções que marcaram a novela e o período: ‘Estoy enamorado’, dos latinos Donato & Estéfano, executada exaustivamente nas cenas de Dara e Igor, “contemplada” com uma versão brazuca, da dupla João Paulo & Daniel. E ‘Macarena’, do grupo espanhol Los del Río, no caminho inverso de ‘Enamorado’: estourou nas paradas e acabou na novela! Também, uma trilha complementar, ‘Coração Cigano’, talvez mais eficiente do que os discos “oficiais”. É só tocar ‘Che Chovorriho’, do grupo Encanto Cigano, para Dara se materializar nas lembranças, tal qual Ana Furtado…

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