“Não consigo mais dormir”: o homem que queria pedir perdão a Jô Soares
25/08/2022 às 19h15
Jô Soares, que nos deixou no último dia 5 de agosto, aos 84 anos, nunca escondeu que teve o privilégio de ser filho de um casal culto, liberal e divertido.
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Filho único do empresário paraibano Orlando Heitor Soares e da dona de casa Mercedes Pereira Leal, Jô veio ao mundo quando sua mãe tinha 40 anos de idade – um fato pouco comum na década de 1930. O garoto cresceu em uma casa com muitos livros, e desde pequeno já demonstrava que queria ser diplomata. Mudou-se para a Suíça e aprendeu seis idiomas, criando um verdadeiro amor pelo francês.
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Voltou para o Brasil e a carreira na diplomacia ficou para trás, quando ele mergulhou de cabeça no mundo artístico. O apoio dos pais foi total, e logo Jô se tornou uma figura conhecida no teatro, no cinema e na TV.
Uma perda trágica
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Em 1968, com apenas 30 anos, Jô sofreu uma perda dolorida. Sua mãe morreu de forma trágica:
“Mamãe morreu atropelada, num dia de chuva terrível. O motorista do táxi não teve a menor culpa. Ela tinha 70 anos. O motorista socorreu minha mãe e a levou para o hospital. Ele fez tudo certo. Só que ela teve uma fratura de base de crânio e não resistiu”, contou o humorista ao jornalista Marcelo Bonfá em 2015.
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Perdão
Em toda sua vida, Jô Soares sempre foi uma pessoa reservada, que pouco falava sobre sua vida pessoal, e se mantinha longe dos holofotes, diferente de seus colegas. Mas, nessa entrevista com Bonfá, ele revelou um fato emocionante que envolvia a morte de sua mãe: o reencontro com o taxista que atropelou Mercedes.
“Dez anos depois, eu peguei um táxi no Santos Dumont e, quando cheguei em casa, o motorista falou: ‘Eu preciso dizer uma coisa para o senhor. Fui eu que atropelei sua mãe. E desde esse dia, isso já faz dez anos, eu não consigo mais dormir. Só vou conseguir dormir no dia em que o senhor me disser que me perdoa’.
Respondi para ele: ‘Mas, meu filho, você está perdoado desde o dia que pegou a minha mãe, socorreu e ficou ao lado do meu pai até ela morrer. Você não teve culpa nenhuma. Eu te perdoo, você está mais que perdoado. Vai em paz’. Ele chorava e eu chorei muito também. O perdão para mim é a coisa mais importante no cristianismo”, desabafou.
Outro baque na vida de Jô
Outra perda que o apresentador sofreu foi em 2014, quando seu único filho, da relação com Therezinha Austregésilo – Rafael Soares – faleceu aos 50 anos, vítima de um câncer no cérebro. Rafa, como era carinhosamente chamado, nasceu com autismo.
Por muitos anos, Jô foi acusado de esconder o seu filho da imprensa, fato este que ele negou em entrevista ao programa Conversa com Bial em 2017.
“Eu jamais esconderia meu filho. Tinha orgulho do talento musical que ele tinha. Ele fez a música do meu show, tinha um dom, mas a incapacidade de produção era total. Uma capacidade para aguentar sofrimento. Ele ainda foi presenteado com câncer violento e quando começou a fazer o tratamento de quimioterapia, um enfermeiro, na hora de aplicar, errou e fez uma queimadura no Rafinha. Queimou o peito todo dele”, lamentou.
Em seu programa, depois da partida de seu filho, ele contou que Rafa era um ouvinte de primeira e que amava o rádio, tendo criado sua própria emissora em casa. Na ocasião, Jô dedicou o programa ao filho, confessando como tinha orgulho dele.