Novela das oito fez sucesso, mas autor detestou: “Era uma bobagem”

Apesar do grande sucesso junto ao público, Louco Amor não deixou boas recordações para o autor, o saudoso Gilberto Braga. A novela passou por alguns contratempos, da estreia ao último capítulo.

A trama partia do romance de Patrícia (Bruna Lombardi) e Luís Carlos (Fábio Jr), a herdeira do patrão e o filho da empregada. O desfecho, porém, contou com Luís ao lado de outra mulher, Cláudia (Gloria Pires).

Folhetim irresistível

Na década de 1970, Patrícia e Luís Carlos renderam-se à paixão. A moça era fruto do primeiro casamento do embaixador André Dumont (Mauro Mendonça); o rapaz dividia o quarto da empregada com a mãe, Isolda (Nicette Bruno). O romance incomodava Renata (Tereza Rachel), a madrasta de Patrícia, tão ambiciosa quanto arrogante.

No dia do 17° aniversário da jovem, Renata obrigou Luís a trabalhar como manobrista e o proibiu de participar da festa. Humilhado, ele soltou os cães da mansão, que invadiram a recepção e atacaram o embaixador. Após o incidente, toda a família seguiu para o exterior, dando fim ao namoro.

Eis que, em 1983, Patrícia retorna ao Brasil, trazendo o pequeno João (Eduardo de Micheli) a tiracolo, sem revelar quem é o pai da criança. Luís Carlos, embora formado em Comunicação Social, está trabalhando em uma sapataria. O inevitável reencontro acaba por reacender a paixão…

Troca de bebês agitou enredo

Patrícia quer viver ao lado de Luís, mas se nega a abrir mão do luxo em que foi criada. Ele, por sua vez, além da desconfiança sobre a ligação com João, encontra apoio em Cláudia. Os dois, que foram colegas de faculdade, voltam a conviver quando Luís Carlos é contratado pela revista Stampa, onde Cláudia trabalha.

O destino, porém, encarrega-se de pregar várias peças em Renata. Após a morte de André, ela se vê obrigada a adular o cunhado Edgar (José Lewgoy), de olho na herança dele. Só que o velhinho aparentemente esclerosado surpreende a todos quando se casa com a manicure Gisela (Lady Francisco).

Cansada das humilhações de Renata, especialmente após envolver-se com o filho dela, Lipe (Lauro Corona), Cláudia decide investigá-la. A jornalista descobre que a vilã, na verdade, chama-se Agetilde Rocha e que foi a responsável pela morte do irmão de André e Edgar.

Tempos depois, Isolda revela a todos que Renata é a verdadeira mãe de Luís Carlo. A empregada trocou o bebê dela pelo seu, para garantir boas condições ao filho, Márcio (Carlos Alberto Riccelli), ainda que criado pela embaixatriz “em segredo”. A história ganha contornos dramáticos quando Márcio morre na explosão de uma lancha.

Por fim, Luís e Cláudia ficam juntos, cuidando do filho dele, João. Já Patrícia vai trabalhar numa joalheria, à espera de dias melhores, assim como Renata, que, completamente falida, se muda para Teresópolis e passa a atuar como gerente de uma pensão local.

“Uma bobagem de novela”

Louco Amor estreou em 11 de abril de 1983 com a missão de recuperar a audiência perdida com a reprise de O Casarão (1976) – programa para cobrir o buraco aberto às 20h com o término precipitado de Sol de Verão (1982), por conta da morte do protagonista Jardel Filho.

Apesar do sucesso popular, Gilberto Braga não gostou nadinha da trama. Em depoimento ao livro Autores, Histórias da Teledramaturgia, do projeto Memória Globo, ele declarou:

“‘Louco Amor’ era uma bobagem de novela. Grande sucesso popular e sem prestígio nas classes A e B, o que mais fez a minha carreira. O único personagem que prestava era o do José Lewgoy, o Edgar Dumont, que era muito divertido. ‘Louco Amor’ é a pior novela que fiz, de longe. Escrevi por honra da firma”.

Outra declaração polêmica dada à mesma publicação foi sobre a insatisfação do autor com o trabalho de Bruna Lombardi:

“Houve erros de escalação. O escritor depende muito do elenco. Não gostei de trabalhar com a Bruna Lombardi. Ela não deu certo comigo. Não que seja má atriz, só não é da minha praia”.

Fim de casamento e treta nos bastidores

Louco Amor também coincidiu com o fim do casamento de Fábio Jr e Gloria Pires. Eles iniciaram o relacionamento em 1979, durante a novela Cabocla; da união, nasceu a atriz e cantora Cleo.

O descontentamento de Reginaldo Faria com seu personagem – Guilherme, editor da Stampa –, e os ataques de estrelismo de Lady Francisco também viraram notícia. Os jornais e revista da época repercutiram uma suposta “greve de silêncio” na sala de maquiagem por conta da postura inadequada da atriz.

Lady também não se entendia com seu parceiro de cena, José Lewgoy. Coube aos dois, porém, a conclusão do folhetim: após dançar um tango, o casal voltou-se para a câmera e, em close, Edgar exclamou seu bordão: “E eu não sei?”.

Louco Amor nunca foi reprisada pela Globo. O resgate pelo Canal Viva, ou através da plataforma de streaming Globoplay, é possível. Em 2010, o texto foi adaptado para o mercado internacional; a TV Azteca produziu, em parceria com o canal brasileiro, a versão batizada Entre el Amor y el Deseo.