Revolução no humor e remake infeliz: 10 curiosidades de Guerra dos Sexos

11/11/2024 às 14h11

Por: Nilson Xavier
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Nilson Xavier

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O Globoplay disponibilizou, nessa segunda-feira (4), um dos maiores clássicos da teledramaturgia brasileira: a novela Guerra dos Sexos, de Silvio de Abreu, dirigida por Jorge Fernando e Guel Arraes, que acabou por influenciar o humor na TV brasileira nos anos 1980.

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Confira 10 curiosidades sobre a produção.

Revolução no humor

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Com esta novela, Silvio de Abreu firmou seu estilo de comédia escrachada, perpetuado em outros trabalhos, em que a inspiração vinha das chanchadas nacionais e dos clássicos do cinema americano (especialmente das comédias dos anos 1930).

A cena do café da manhã em que Fernanda Montenegro e Paulo Autran jogam comida um no outro tornou-se uma das mais icônicas da história da nossa televisão.

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Guerra dos Sexos revolucionou o humor na TV brasileira e serviu de embrião para o diretor Guel Arraes comandar programas como Armação Ilimitada (1985-1987) e TV Pirata (1988).

O autor comentou sobre o humor em sua novela:

“Guerra dos Sexos não era uma comédia elegante, era uma chanchada, um pastelão, que se tornou importante na televisão numa época em que o importante era fazer novela política, com grandes sagas históricas. Na medida em que você coloca atores da grandeza de um Paulo Autran e uma Fernanda Montenegro levando torta na cara, levar torta na cara passa a ser uma coisa importante e possível na telenovela, mesmo que, a princípio, isso espante todo mundo”.

Novela premiada

Guerra dos Sexos foi o grande sucesso da televisão no ano de 1983. A novela recebeu diversos prêmios da APCA (Associação Paulista de Críticos de Arte): melhor novela, melhor texto (Silvio de Abreu), melhor direção (Jorge Fernando e Guel Arraes), melhores atores (Paulo Autran e Mário Gomes), e melhores atrizes (Fernanda Montenegro e Yara Amaral).

Também foi premiada com o Troféu Imprensa: melhor novela, ator (Paulo Autran) e atriz (Fernanda Montenegro).

Alto risco

O autor reconheceu que foi arriscado apostar em uma novela embasada unicamente na comédia, sem uma linha dramática central forte. Silvio de Abreu explicou ao livro “Autores, Histórias da Teledramaturgia”, do Projeto Memória Globo:

“Em Guerra dos Sexos, tinha um bando de gente louca brigando por uma posição profissional. (…) Primeiro eu achava que poderia assustar a audiência, mas imaginei que, se eu tivesse o aval de atores importantes, que o público respeitasse e de quem gostasse, ele iria digerir tudo melhor. Então convidei Fernanda Montenegro, que adorou a ideia (…) e Paulo Autran, que jamais havia trabalhado com a Fernanda. (…) Falei com Glória Menezes e com Tarcísio Meira, que também toparam. Pensei: ‘Os maiores mitos do teatro reunidos com os maiores mitos da televisão. Vou ter o aval do público”.

Quebra da quarta parede

A narrativa da novela subvertia a linguagem tradicional ao colocar os personagens interagindo com o telespectador, olhando para a câmera e dialogando com o público – recurso conhecido em dramaturgia como “quebra da quarta parede”.

Silvio de Abreu já o usara, ainda que timidamente, em sua novela anterior, Jogo da Vida (1981-1982).

Comédia cínica e nonsense

Tarcísio Meira e Glória Menezes contracenaram a princípio como inimigos, e não como casal romântico como o público estava acostumado a ver. O Felipe de Tarcísio era um tipo infantil, bobalhão, e, pela primeira vez em uma novela, o público viu o ator em um papel cômico. Uma das sequências mais lembradas é a que Tarcísio tira as roupas e passeia de cueca pelo shopping center.

O tom de comédia nonsense e cinismo era geral. A vilã Veruska (Sônia Clara), em uma sequência de perseguição, para subir ao topo de um prédio onde um helicóptero a esperava, dá um rodopio e se transforma… na Mulher Maravilha!

Nieta (Yara Amaral) achava Felipe muito parecido com aquele galã de novelas… o Tarcísio Meira.

Referências a outras novelas

Noveleira de carteirinhas, a personagem Nieta citou várias novelas no decorrer da trama, como a estreia, na época, de Eu Prometo, de Janete Clair. Nessa cena, Otávio visita Nieta e ela o convida a assistir à novela. Pergunta se ele gosta das tramas da Janete Clair e ele responde que até se lembrava de um personagem italiano que costumava ter um saco de gelo na cabeça e que tomava banho de touca. Nieta lembra logo: “É o Baldaracci de Pai Herói!”, interpretado pelo próprio Paulo Autran.

Em uma de suas armações, Nieta busca inspiração em um plano arquitetado por Renata Dumont, a personagem vilã de Tereza Rachel na novela das oito da época, Louco Amor. Querendo separar Roberta de Nando (Mário Gomes), Nieta põe uma mulher a fingir que está se afogando na praia, para que Nando faça respiração boca a boca, enquanto fotos comprometedoras eram tiradas. Porém, o rolo de filme fica estragado e nenhuma foto é aproveitada. Não surtindo o efeito esperado, Nieta exclama: “Mas deu certo com a Renata Dumont!”

A estreia da nova novela das oito, Champagne, também foi anunciada por Nieta: “de Cassiano Gabus Mendes, autor de novelas de grande sucesso, muito gostosas, para fazer a gente morrer de rir!”

Jogo da Vida, novela anterior de Silvio, também foi citada, ainda que indiretamente. Em uma cena com Nando (Mário Gomes), Charlô lhe diz que conheceu um padeiro, seu Vieira, cujo filho era bonito, bem parecido com ele. Ela referia-se ao personagem Jerônimo, interpretado pelo próprio Mário Gomes em Jogo da Vida. Seu Vieira era o personagem de Gianfrancesco Guarnieri nesta novela.

Homenagem ao cinema

O clima de Guerra dos Sexos era assumidamente inspirado nos grandes momentos do cinema americano. Tal inspiração era percebida não só nas cenas ou citações, mas também na trilha incidental. Eram ouvidos, com bastante frequência, temas musicais de filmes como E o Vento Levou… (1939), Um Corpo que Cai (1958), Psicose (1960), A Pantera Cor-de-Rosa (1963), Alta Ansiedade (1977), Como Eliminar Seu Chefe (1980), Os Caçadores da Arca Perdida (1981) e O Retorno de Jedi (1983) entre outros clássicos.

No decorrer da história, Charlô organiza uma festa hollywoodiana em que vários personagens se fantasiam de personalidades famosas do cinema, como Rodolfo Valentino (Otávio/Paulo Autran), Theda Bara (Charlô/Fernanda Montenegro), Doris Day (Roberta/Glória Menezes), Elvis Presley (Kiko/Diogo Vilela), O Gordo (Olívia/Marilu Bueno) e o Magro (Ismael/Wilson Grey), e outros.

Shopping Eldorado

Ambientada em São Paulo, Guerra dos Sexos tinha o então recém-inaugurado Shopping Eldorado como o cenário onde ficava a loja Charlô´s. Silvio de Abreu enxergou na loja de departamentos dentro de um shopping center o ambiente ideal para emular uma comédia americana dos anos 1930.

No encerramento da novela, o número musical final, no Shopping Eldorado, era uma homenagem de Silvio de Abreu à Atlântida, antiga companhia cinematográfica brasileira, e a Carlos Manga, que dirigiu várias chanchadas e com quem Silvio já havia trabalhado.

Censura

A Censura Federal impôs mudanças em personagens, diálogos e cenas consideradas imorais. Silvio de Abreu ia frequentemente a Brasília discutir os cortes com os censores. Logo no início, implicaram com o romance entre Juliana e Fábio (Maitê Proença e Herson Capri), que era casado com Manuela (Ada Chaseliov). Adultério era terminantemente proibido. A solução do autor foi sumir por um tempo com Manuela, dada como morta.

Outra personagem vigiada pela censura foi Vânia (Maria Zilda), pelo fato de ela ser emancipada demais. A censura não via com bons olhos uma mulher que quisesse transar sem casar. Com o decorrer da novela, o autor foi conseguindo impor o seu ponto de vista.

Um personagem com quem, curiosamente, a censura não se acertava era Kiko (Diogo Vilela), considerado um mau exemplo para os jovens, por ele gostar de explodir bombas.

Outra ocorrência curiosa aconteceu no capítulo 64, quando Frô (Cristina Pereira) vai parar em um cabaré, o Peru Vermelho. Todas as falas em que era referido o nome do cabaré foram cortadas. Porém, em uma cena com Frô, aparece escrito em um cartaz, atrás dela: Cabaré Peru Vermelho.

Remake infeliz

Em 2012, Silvio de Abreu reescreveu Guerra dos Sexos (novamente com a direção de Jorge Fernando), com novo elenco e alguns ajustes, para modernizar a trama. Na nova versão, os protagonistas foram vividos por Tony Ramos (Otávio), Irene Ravache (Charlô), Glória Pires (Roberta) e Edson Celulari (Felipe). Dessa vez, não houve sucesso.

A fim de modernizar sua trama, Silvio alterou algumas histórias. Na primeira versão, a luta da mulher por espaço no mercado de trabalho era uma questão pertinente. Contudo, após todas as conquistas das mulheres, o feminismo do início dos anos 1980 não tinha mais essa pertinência em 2012.

Silvio de Abreu excluiu o foco da disputa entre machistas e feministas e, juntamente com a direção, optou por uma linha de humor mais ingênuo. O autor propunha uma mistura de estilos de comédia, do humor infantil ao sofisticado. Porém, a direção não soube compilar essa sofisticação na hora de passar para a tela. Faltou fazer rir – o grande trunfo da novela em 1983.

AQUI tem tudo sobre Guerra dos Sexos: a trama, personagens, elenco completo, trilha sonora e mais curiosidades.

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