Festejado núcleo de O Clone só serviu para enrolar o público
09/03/2022 às 15h09
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A criatividade do brasileiro não tem limites, mesmo nos momentos mais complicados. Nos últimos dias, circulou um meme a respeito de uma suposta “maldição” envolvendo a novela O Clone.
De acordo com o texto, em 2001, quando houve a exibição original, aconteceu o atentado de 11 de setembro; em 2011, na primeira reprise na Globo, houve um tsunami no Japão; em 2020, quando a novela passava no Viva, começou a pandemia de Covid-19; agora, no ar novamente pela Globo, estourou a guerra entre Rússia e Ucrânia.
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Apesar disso, a escolha da emissora para o Vale a Pena Ver de Novo não poderia ter sido melhor. A novela de Glória Perez foi um de seus melhores trabalhos da carreira e a autora foi muito feliz na construção desta história tão rica e repleta de personagens atraentes.
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Protagonizada por Giovanna Antonelli e Murilo Benício, o folhetim estreou pouco depois do atentado de 2001, tragédia que abalou os Estados Unidos e chocou o mundo. Houve até um certo desconforto inicial, uma vez que parte da trama era ambientada em Marrocos, na cidade de Fez, onde viviam vários muçulmanos.
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Mas a polêmica não durou muito tempo e os costumes daquele povo caíram no gosto popular, comprovando que o núcleo foi um dos muitos acertos da produção.
Porém, as reprises do canal Viva e a atual da Globo serviram para observar melhor algumas falhas que não são muito faladas pelos saudosistas.
Barriga
O núcleo de Dona Jura é bem deslocado dos demais enredos e tem como única função preencher o tempo dos capítulos com convidados especiais que visitavam o bar da popular personagem. Era o elemento utilizado pela autora para enrolar o telespectador. Há uma barriga bem clara na história, algo bem comum na época, importante ressaltar.
O estabelecimento recebeu mais de 50 convidados especiais ao longo da trama, servindo para falar de futebol, fazer campanha contra hanseníase, destacar o trabalho de músicos, como pagodeiros e sambistas, entre outras ações. Participaram nomes ecléticos, como Pelé, Alcione, Dunga, Martinho da Vila, Ney Matogrosso, Narcisa Tamborindeguy e Zeca Pagodinho, e alguns bem aleatórios.
A primeira fase, principalmente, cansa pelo ritmo arrastado e os conflitos também se desgastam perto do meio da produção. Até as idas e vindas de Jade e Lucas se esgotam.
A burrice dos protagonistas é outro problema evidente. A sorte foi mesmo a química dos intérpretes. Mas os meses finais reaquecem os dramas e a novela volta a prender.
Trama esquenta na segunda fase
A segunda fase é iniciada em 2001, prosseguindo com todos os dramas apresentados na primeira e ainda acrescentando novos núcleos que deixaram a novela ainda mais interessante. O mais dramático foi o protagonizado por Débora Falabella, que impressionou com sua atuação na pele da rebelde Mel, uma viciada em drogas, filha de Lucas com Maysa (Daniela Escobar).
As cenas mais fortes da novela foram vividas por ela e algumas entraram para a história da teledramaturgia pela entrega da atriz. O alerta sobre o consumo de substâncias ilícitas mesclou entretenimento e utilidade pública.
Já a parte cômica da história ficou por conta de duas personagens, cujos bordões ainda são lembrados pelo telespectador: Dona Jura (ótima Solange Couto) e Odete (maravilhosa Mara Manzan). Jura tinha um bar e vendia pastéis que faziam um baita sucesso.
O bordão Né brinquedo, não virou febre, assim como o Cada mergulho é um flash, proferido por Odete, personagem hilária interpretada pela saudosa Mara, que amava frequentar o Piscinão de Ramos e incentivava sua filha Karla (Juliana Paes) a dar o golpe da barriga – essa trama, hoje em dia, seria bem criticada até pelas resoluções absurdas da autora.
O núcleo de Marrocos também obteve êxito e as danças dos personagens faziam sucesso, assim como as expressões ditas por eles, como o inesquecível Ishalá, falado constantemente por Khadija (Carla Dias). A solteirona Nazira (Eliane Giardini) também foi outro destaque desta trama, assim como Zoraide (Jandira Martini), cúmplice e confidente de Jade.
E impossível não lembrar do rabugento Tio Abdul (saudoso Sebastião Vasconcellos), defensor da moral e dos bons costumes, que vivia mandando as pecadoras Arder no mármore do inferno.
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Acertos
Um acerto da novela foi a questão do alcoolismo, abordada com competência através de Lobato, vivido magistralmente por Osmar Prado. Nesse mesmo núcleo, havia uma vilã que não media esforços para atingir seus objetivos, a Alicinha, muito bem interpretada por Cristiana Oliveira.
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Vale destacar também as brilhantes atuações de Cissa Guimarães (Clarisse) e Thiago Fragoso (Nando), que emocionaram várias vezes nas cenas onde a mãe se desesperava com o vício de drogas do filho, que era amigo das também viciadas Mel e Regininha (Viviane Victorette).
Além dos ótimos profissionais já citados, a novela também contou com outros excelentes atores, como Nivea Maria, Adriana Lessa (perfeita na pele de Deusa, a mãe do clone), Ruth de Souza, Elizângela, Beth Goulart, Antônio Calloni, Letícia Sabatella, Françoise Fourton, Perry Salles, Totia Meirelles, Guilherme Karan, Léa Garcia, Stênio Garcia e Marcello Novaes. A trama ainda foi a última da carreira do mestre Mário Lago, que veio a falecer meses depois.
O Clone foi um marcante folhetim e Glória Perez viveu um grande momento. Com 221 capítulos, a produção está na lista dos mais elogiadas e lembradas novelas da Globo e fez por merecer o retorno na tela da emissora, apesar de ter algumas falhas.