O público acompanha a nova versão de Pantanal, que faz sucesso na tela da Globo. Trata-se de um remake de um grande sucesso da extinta Rede Manchete, exibido em 1990, que contou com nomes como Paulo Gorgulho (foto abaixo), que fez uma participação afetiva no início da trama.

A obra de Benedito Ruy Barbosa trouxe números muito relevantes na audiência, desbancando a rival na época. Mas o êxito não apenas animou os diretores da emissora de Adolpho Bloch.

O fato também chamou a atenção de um oportunista de plantão, que enxergou uma grande oportunidade de faturar em cima da história de Juma Marruá.

Promessas

Estrela do Sul

O golpista chamava-se Marcos Marcelo Chiari e seguiu até Estrela do Sul, cidade do Triângulo Mineiro (foto acima). Lá, apresentou-se aos moradores da pequena cidade histórica como um produtor da TV Manchete. Esse cidadão afirmou que aquele lugar seria palco da gravação de uma minissérie baseada na clássica história de Romeu e Julieta, de Shakespeare.

A primeira pessoa que o tal produtor buscou foi o então prefeito da cidade, Sancho José do Nascimento. O vigarista, dessa vez, afirmou ao político que a cidade seria palco de um projeto que seguiria os custos de Pantanal e da minissérie O Canto das Sereias (1990).

O Canto das Sereias

O orçamento da produção girava em torno de US$ 4,2 milhões e levaria até lá grandes nomes do elenco da emissora, como Cristiana Oliveira e Paulo Gorgulho.

“Fiquei na dúvida, porque ele tinha muita facilidade para falar”, disse o prefeito ao Jornal do Brasil, em agosto de 1990.

Dívidas

Pantanal

De fato, o trambiqueiro levou o político na lábia e, com ele, ficou andando pela cidade durante quatro dias, a fim de selecionar atores e conhecer melhor a cidade. O dono da pensão na qual Marcos Marcelo se hospedou afirma que ele teve apoio total da Prefeitura.

“Ele embrulhou o prefeito e a cidade foi na onda”, declarou José Aramis Vieira, que também caiu no papo do indivíduo, junto com sua família.

Marcos Marcelo encomendou com a pensão um fornecimento de refeições para mais de 80 pessoas. E para o filho de José Aramis, Washington, o charlatão prometeu que teria uma chance como ator na suposta minissérie. Mas a realidade foi um prejuízo de Cr$ 4 mil de hospedagem e mais de Cr$ 3 mil emprestados a Marcos pelos donos da pensão.

Durante sua estadia na pequena cidade mineira, o produtor trapaceiro fez testes com vários moradores, visitou diversas fazendas e pediu ao engenheiro da prefeitura um projeto de três galpões com mais de 120 metros quadrados, para que toda a equipe da Manchete ficasse alojada. Além disso, depois do final das gravações, o local seria doado para uma entidade beneficente.

Descoberta

Rede Manchete

É aquela velha história: quando a esmola é demais, o santo desconfia. O prefeito, como bom mineiro, ficou desconfiado e ligou para a TV Uberaba, a então repetidora da emissora no Triângulo Mineiro, mas não obteve qualquer informação, até fazer contato com a sede do canal no Rio.

Foi aí que descobriram que o tal vigarista nunca fez parte do quadro de funcionários da Manchete. Tanto é que o cerco começava a se fechar em torno do tal “produtor”, mas o último golpe ainda teve tempo de ser feito.

Marcos Marcelo foi até Uberlândia com o advogado da prefeitura, Grimoaldo Rezende. Ao chegarem na cidade, Marcos pediu ao advogado para pegar um táxi e procurasse o “Doutor Walter” no endereço que deixou com o motorista. Ao chegar no local, não encontrou nenhum “Doutor”. Nesse meio tempo, o produtor caiu no mundo e sumiu, tal e qual o personagem Velho do Rio, da novela Pantanal. E a conta da corrida? Ficou para o advogado pagar.

“Ele deve ter desconfiado que sabíamos de tudo e desapareceu. Acho que planejava um golpe, ou então é uma pessoa com problema mental, talvez um fugitivo de uma clínica psiquiátrica”, declarou o prefeito.

Por poucos dias, a pequena Estrela do Sul viveu a esperança de ser palco de um grande sucesso da televisão. Mas, como toda trama, a história não passou de ficção.

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Fábio Marckezini é jornalista e apaixonado por televisão desde criança. Mantém o canal Arquivo Marckezini, no YouTube, em prol da preservação da memória do veículo. Escreve para o TV História desde 2017 Leia todos os textos do autor