O ator Tarcísio Meira completou 85 anos nesta segunda-feira, 5 de outubro. No último dia 25, ele e a mulher, Glória Menezes, estiveram no programa Conversa com Bial para falar sobre suas carreiras, o casamento de 57 anos e a saída da Globo depois de 53 anos de contrato exclusivo.


Em Irmãos Coragem e em A Muralha (Acervo TV Globo)

Tarcísio é reconhecido como um dos maiores galãs da TV brasileira, de uma época em que a palavra galã tinha um peso maior que hoje. Seu porte altivo e rosto talhado encaixavam no padrão hollywoodiano de beleza masculina, intensificado por papeis fortes que defendeu ao longo da vida. Questionado por Pedro Bial sobre a beleza, o ator reconhece, hoje, que foi bonito. Mas sempre refutou essa ideia.

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Curiosamente, eu estava assistindo no YouTube a extratos da novela Espelho Mágico (de 1977) – a “novela dentro da novela” – em que Tarcísio vivia um ator famoso, pelos papeis de mocinho galante, que procurava dar novos rumos à vida artística. Sua intenção era interpretar Cyrano de Bergerac, o clássico personagem feio da peça de Edmond Rostand.

Escolhi um papel que está mais distante da imagem que o público tem de mim.” “Quero romper definitivamente com minha imagem de galã.” “Ele é um feio que se esconde atrás de um galã, quero esse contraponto.” Parecem falas de Tarcísio Meira, mas eram de seu personagem na metalinguagem da novela.


Com Glória Menezes no Conversa com Bial (reprodução)

No Conversa com Bial, o ator narrou uma passagem interessante do início da carreira, quando foi desafiado por Walter Avancini. O diretor não o escalou para o protagonista da novela A Deusa Vencida (1965) porque achava que ele não servia para interpretar personagens rurais e rudes, já que, de acordo com sua visão, ele era um ator “muito urbano”, que só cabia em mocinhos românticos.

Cinco anos depois, contrapondo a fala de Avancini, Tarcísio Meira foi consagrado pelo público ao viver o rústico João Coragem de Irmãos Coragem. Vinte anos após A Deusa Vencida, o próprio Walter Avancini escalou Tarcísio para viver um dos maiores vilões grotescos de nossa literatura: Hermógenes de Grande Sertão: Veredas.

Em 1999, foi oferecido a Tarcísio Meira o papel do bandeirante Dom Braz Olinto na minissérie A Muralha. O ator recusou, preferindo outro personagem: o sórdido e sinistro vilão Dom Jerônimo Taveira, que tornou-se um de seus melhores trabalhos.

Personagens inesquecíveis

Das memórias mais remotas que tenho da televisão, destaco imagens de Tarcísio Meira de cabelos encaracolados, vestindo um capote escuro, na novela O Semideus, de 1973. Era criança e isso me passava uma sobriedade assustadora. Tarcísio tem um jeito único de interpretar, de projetar a voz, de ditar as sílabas, e falar os erres. Certamente a experiência o moldou. Com bons papeis nas mãos, mesmo os mais maniqueístas, deitou e rolou.

Entre seus personagens mais marcantes na TV: João Coragem de Irmãos Coragem (1970-1971), Antônio Dias de Escalada (1975), Felipe de Guerra dos Sexos (1983), Capitão Rodrigo Cambará de O Tempo e o Vento (1985), Hermógenes de Grande Sertão: Veredas (1985), Renato Villar de Roda de Fogo (1986-1987), Euclides da Cunha de Desejo (1990), Raul Pelegrini de Pátria Minha (1994), Giuseppe Berdinazzi da primeira fase de O Rei do Gado (1996) e Dom Jerônimo Taveira de A Muralha (2000).


Em Roda de Fogo e em Grande Sertão: Veredas (Acervo/TV Globo)

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Carreira

Tarcísio Pereira de Magalhães Sobrinho nasceu em São Paulo em 5 de outubro de 1935. É casado desde 1962 com Glória Menezes, com quem teve um filho, o também ator Tarcísio Filho. Começou a carreira artística no teatro, em 1957, na peça A Hora Marcada.

Na televisão, estreou no teleteatro Noites Brancas, na TV Tupi, em 1959. Em 1961, conheceu Glória Menezes, com quem contracenava no teleteatro Uma Pires Camargo. Já casados, Tarcísio e Gloria protagonizaram a primeira novela diária brasileira, 2-5499 Ocupado, na TV Excelsior, emissora onde o casal esteve em mais sete telenovelas até ser contratado pela Globo, em 1967.

Tarcísio Meira também construiu uma sólida carreira no cinema. A estreia foi no filme Casinha Pequenina, em 1963, ao lado de Mazzaropi. Entre seus melhores filmes: Máscara da Traição (1969), de Roberto Pires; Independência ou Morte (1972), de Carlos Coimbra; O Marginal (1974), de Carlos Manga; A República dos Assassinos (1979), de Miguel Faria Jr; O Beijo no Asfalto (1980), de Bruno Barreto; Eu Te Amo (1981) de Arnaldo Jabor; A Idade da Terra (1980), de Glauber Rocha; Amor Estranho Amor (1982), de Walter Hugo Khouri; Eu (1987), de Walter Hugo Khouri; e Boca de Ouro (1990), de Walter Avancini.


No filme O Beijo no Asfalto e na peça O Camareiro (divulgação)

Antes da pandemia de Covid-19, Tarcísio produzia e estava em cartaz na peça O Camareiro, de Ronald Harwood, com tradução de Diego Teza e direção de Ulysses Cruz. No Conversa com Bial, o ator exprimiu o desejo de continuar com a peça após a pandemia.

SOBRE O AUTOR
Desde criança, Nilson Xavier é um fã de televisão: aos 10 anos já catalogava de forma sistemática tudo o que assistia, inclusive as novelas. Pesquisar elencos e curiosidades sobre esse universo tornou-se um hobby. Com a Internet, seus registros novelísticos migraram para a rede: no ano de 2000, lançou o site Teledramaturgia, cuja repercussão o levou a publicar, em 2007, o Almanaque da Telenovela Brasileira.

SOBRE A COLUNA
Um espaço para análise e reflexão sobre a produção dramatúrgica em nossa TV. Seja com a seriedade que o tema exige, ou com uma pitada de humor e deboche, o que também leva à reflexão.

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