85 anos de Tarcísio Meira, o galã que não queria ser; relembre sua carreira
06/10/2020 às 10h59
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O ator Tarcísio Meira completou 85 anos nesta segunda-feira, 5 de outubro. No último dia 25, ele e a mulher, Glória Menezes, estiveram no programa Conversa com Bial para falar sobre suas carreiras, o casamento de 57 anos e a saída da Globo depois de 53 anos de contrato exclusivo.
Em Irmãos Coragem e em A Muralha (Acervo TV Globo)
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Tarcísio é reconhecido como um dos maiores galãs da TV brasileira, de uma época em que a palavra galã tinha um peso maior que hoje. Seu porte altivo e rosto talhado encaixavam no padrão hollywoodiano de beleza masculina, intensificado por papeis fortes que defendeu ao longo da vida. Questionado por Pedro Bial sobre a beleza, o ator reconhece, hoje, que foi bonito. Mas sempre refutou essa ideia.
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Curiosamente, eu estava assistindo no YouTube a extratos da novela Espelho Mágico (de 1977) – a “novela dentro da novela” – em que Tarcísio vivia um ator famoso, pelos papeis de mocinho galante, que procurava dar novos rumos à vida artística. Sua intenção era interpretar Cyrano de Bergerac, o clássico personagem feio da peça de Edmond Rostand.
“Escolhi um papel que está mais distante da imagem que o público tem de mim.” “Quero romper definitivamente com minha imagem de galã.” “Ele é um feio que se esconde atrás de um galã, quero esse contraponto.” Parecem falas de Tarcísio Meira, mas eram de seu personagem na metalinguagem da novela.
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Com Glória Menezes no Conversa com Bial (reprodução)
No Conversa com Bial, o ator narrou uma passagem interessante do início da carreira, quando foi desafiado por Walter Avancini. O diretor não o escalou para o protagonista da novela A Deusa Vencida (1965) porque achava que ele não servia para interpretar personagens rurais e rudes, já que, de acordo com sua visão, ele era um ator “muito urbano”, que só cabia em mocinhos românticos.
Cinco anos depois, contrapondo a fala de Avancini, Tarcísio Meira foi consagrado pelo público ao viver o rústico João Coragem de Irmãos Coragem. Vinte anos após A Deusa Vencida, o próprio Walter Avancini escalou Tarcísio para viver um dos maiores vilões grotescos de nossa literatura: Hermógenes de Grande Sertão: Veredas.
Em 1999, foi oferecido a Tarcísio Meira o papel do bandeirante Dom Braz Olinto na minissérie A Muralha. O ator recusou, preferindo outro personagem: o sórdido e sinistro vilão Dom Jerônimo Taveira, que tornou-se um de seus melhores trabalhos.
Personagens inesquecíveis
Das memórias mais remotas que tenho da televisão, destaco imagens de Tarcísio Meira de cabelos encaracolados, vestindo um capote escuro, na novela O Semideus, de 1973. Era criança e isso me passava uma sobriedade assustadora. Tarcísio tem um jeito único de interpretar, de projetar a voz, de ditar as sílabas, e falar os erres. Certamente a experiência o moldou. Com bons papeis nas mãos, mesmo os mais maniqueístas, deitou e rolou.
Entre seus personagens mais marcantes na TV: João Coragem de Irmãos Coragem (1970-1971), Antônio Dias de Escalada (1975), Felipe de Guerra dos Sexos (1983), Capitão Rodrigo Cambará de O Tempo e o Vento (1985), Hermógenes de Grande Sertão: Veredas (1985), Renato Villar de Roda de Fogo (1986-1987), Euclides da Cunha de Desejo (1990), Raul Pelegrini de Pátria Minha (1994), Giuseppe Berdinazzi da primeira fase de O Rei do Gado (1996) e Dom Jerônimo Taveira de A Muralha (2000).
Em Roda de Fogo e em Grande Sertão: Veredas (Acervo/TV Globo)
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Carreira
Tarcísio Pereira de Magalhães Sobrinho nasceu em São Paulo em 5 de outubro de 1935. É casado desde 1962 com Glória Menezes, com quem teve um filho, o também ator Tarcísio Filho. Começou a carreira artística no teatro, em 1957, na peça A Hora Marcada.
Na televisão, estreou no teleteatro Noites Brancas, na TV Tupi, em 1959. Em 1961, conheceu Glória Menezes, com quem contracenava no teleteatro Uma Pires Camargo. Já casados, Tarcísio e Gloria protagonizaram a primeira novela diária brasileira, 2-5499 Ocupado, na TV Excelsior, emissora onde o casal esteve em mais sete telenovelas até ser contratado pela Globo, em 1967.
Tarcísio Meira também construiu uma sólida carreira no cinema. A estreia foi no filme Casinha Pequenina, em 1963, ao lado de Mazzaropi. Entre seus melhores filmes: Máscara da Traição (1969), de Roberto Pires; Independência ou Morte (1972), de Carlos Coimbra; O Marginal (1974), de Carlos Manga; A República dos Assassinos (1979), de Miguel Faria Jr; O Beijo no Asfalto (1980), de Bruno Barreto; Eu Te Amo (1981) de Arnaldo Jabor; A Idade da Terra (1980), de Glauber Rocha; Amor Estranho Amor (1982), de Walter Hugo Khouri; Eu (1987), de Walter Hugo Khouri; e Boca de Ouro (1990), de Walter Avancini.
No filme O Beijo no Asfalto e na peça O Camareiro (divulgação)
Antes da pandemia de Covid-19, Tarcísio produzia e estava em cartaz na peça O Camareiro, de Ronald Harwood, com tradução de Diego Teza e direção de Ulysses Cruz. No Conversa com Bial, o ator exprimiu o desejo de continuar com a peça após a pandemia.
SOBRE O AUTOR
Desde criança, Nilson Xavier é um fã de televisão: aos 10 anos já catalogava de forma sistemática tudo o que assistia, inclusive as novelas. Pesquisar elencos e curiosidades sobre esse universo tornou-se um hobby. Com a Internet, seus registros novelísticos migraram para a rede: no ano de 2000, lançou o site Teledramaturgia, cuja repercussão o levou a publicar, em 2007, o Almanaque da Telenovela Brasileira.
SOBRE A COLUNA
Um espaço para análise e reflexão sobre a produção dramatúrgica em nossa TV. Seja com a seriedade que o tema exige, ou com uma pitada de humor e deboche, o que também leva à reflexão.