Quando se pensa em novelas que abordavam o espiritismo, provavelmente todos lembram imediatamente de A Viagem. Mas a televisão brasileira teve outras tramas que abordaram a temática espírita, nem todas com o mesmo sucesso.

A primeira versão de A Viagem, estrelada por Eva Wilma, Altair Lima e Ewerton de Castro, foi exibida entre 1975 e 1976, com êxito, pela Tupi. A trama de Ivani Ribeiro incomodou a Globo, que foi obrigada a mostrar um compacto de Selva de Pedra após a proibição de Roque Santeiro pela Censura.

O espiritismo voltou à tela poucos anos depois, mas não como tema central. Novamente na Tupi, Ivani Ribeiro apresentou O Profeta entre 1977 e 1978, com Carlos Augusto Strazzer e Débora Duarte nos principais papeis.

No entanto, a trama era ecumênica, por sugestão do diretor Antonino Seabra, fazendo referências ao kardecismo, catolicismo, candomblé e outras religiões e crenças. Daniel, o protagonista, era um profeta que tinha poderes paranormais. Outro sucesso da Tupi, que chegou a vencer O Astro, da Globo.

A primeira vez da Globo

Em 1982, foi a vez da Globo se render ao tema. Janete Clair escreveu O Sétimo Sentido, sua última novela das oito, sem o mesmo estouro de tramas anteriores da autora.

Regina Duarte vivia a paranormal Luana Camará, que encarnava o espírito de uma atriz italiana. “A primeira metade da novela transcorreu morna. A trama só começou a despertar a atenção da audiência a partir da segunda parte, quando entrou em cena Priscila Capricce”, descreveu nosso colunista Nilson Xavier em seu site Teledramaturgia. Também tiveram papeis de destaque nomes como Cláudio Cavalcanti e Natália do Valle (foto abaixo).

Janete, inclusive, não escreveu a novela até o fim. Ela teve que ser operada quando faltavam 40 capítulos para o final. Na surdina, a Globo convocou Silvio de Abreu para concluir a produção, com supervisão da autora, que lia e corrigia os roteiros. Sétimo Sentido também sofreu muitos cortes impostos pela Censura Federal.

Depois do sucesso de Ninho da Serpente, uma das grandes apostas da Band para o segundo semestre de 1982 era a adaptação de Renúncia, livro de sucesso do médium Chico Xavier (1910-2002). A trama competiria justamente com Sétimo Sentido. Mas, ao contrário do que o autor planejava, a trama se revelou um fiasco e derrubou a audiência da emissora, deixando um grande prejuízo nos cofres.

No elenco de Renúncia, estavam nomes conhecidos como Fúlvio Stefanini, Berta Zemel, Géorgia Gomide, Laura Cardoso, Yara Lins, Elias Gleizer e Serafim Gonzalez, entre outros. A direção foi feita pelo próprio Vietri. Com baixo Ibope e prevendo que a situação não teria reversão, a emissora aproveitou a chegada do Horário Eleitoral Gratuito e simplesmente tirou a trama do ar, sem dar satisfação aos seus poucos telespectadores. Dessa forma, a novela foi exibida apenas entre 30 de agosto e 12 de setembro de 1982, tendo 12 capítulos.

Tentativa de repetir fenômeno

Depois do exitoso remake de A Viagem, exibido entre abril e outubro de 1994 pela Globo, Walther Negrão abordou o tema em Anjo de Mim, exibida entre 9 de setembro de 1996 e 28 de março de 1997, na faixa das seis.

[anuncio_5]

A Globo tentou repetir o fenômeno de A Viagem, colocando a reencarnação e os laços espirituais em pauta, mas, apesar da produção caprichada e do bom elenco, encabeçado por Tony Ramos, Helena Ranaldi e Elias Gleizer, entre outros, o resultado não foi dos melhores e a novela foi simplesmente esquecida, nunca tendo sido reprisada.

A Globo ainda fez uma nova versão de O Profeta, entre 2006 e 2007, com atualização de Duca Rachid, Thelma Guedes e Júlio Fischer; e Escrito nas Estrelas, de Elizabeth Jhin, entre abril e setembro de 2010. Ambas conseguiram índices considerados satisfatórios pela emissora.

Mais recentemente, Elizabeth Jhin, dispensada pela Globo neste ano, escreveu Amor Eterno Amor, entre março e setembro de 2012; Além do Tempo, entre 2015 e 2016; e Espelho da Vida entre 2018 e 2019. Das três, o maior sucesso foi obtido por Além do Tempo, considerada uma das melhores novelas da década, além de ter feito muito sucesso entre o público.

Compartilhar.
Thell de Castro

Apaixonado por televisão desde a infância, Thell de Castro é jornalista, criador e diretor do TV História, que entrou no ar em 2012. Especialista em história da TV, já prestou consultoria para diversas emissoras e escreveu o livro Dicionário da Televisão Brasileira, lançado em 2015 Leia todos os textos do autor