Muitas aberturas de novelas da Globo entraram para a história da televisão brasileira, especialmente pelas criações do mago Hans Donner e sua equipe. As vinhetas, reconhecidas até no exterior, eram aguardadas pelo público quando uma nova trama chegava.

No entanto, em alguns casos, a emissora errou a mão ou teve problemas para executar suas ideias.

Confira abaixo seis casos emblemáticos de aberturas que deram dores de cabeça para a Globo:

O Bem-Amado

Primeira novela colorida da história da televisão brasileira, O Bem-Amado teve sua música de abertura vetada pela Censura do regime militar. Às vésperas da estreia da novela, “Paiol de Pólvora”, de Toquinho e Vinícius de Moraes, teve que ser substituída por outra canção.

“Nós fomos convidados pelo Jaime Lerner, em Curitiba, para inaugurar o Teatro Paiol. Então fizemos uma música sobre o teatro. Era uma letra muito forte, até porque o paiol da pólvora era o Brasil daquela época. Nós gravamos para ser o tema da novela e, na última hora, a Censura proibiu”, explicou Toquinho ao livro “Teletema, a História da Música Popular através da Teledramaturgia Brasileira”, de Guilherme Bryan e Vincent Villari.

Para remediar o caso, o músico fez “O Bem-Amado”, gravada pelo grupo MPB4, credito no disco da produção como Coral Som Livre.

Brega & Chique

Em 20 de abril de 1987, a Globo estreava a novela Brega & Chique. A trama das sete, que fez muito sucesso, também teve uma grande polêmica. O contratempo surgiu logo no capítulo de estreia. A abertura da novela, que tinha a música “Pelado”, do grupo Ultraje a Rigor, mostrava o modelo Vinícius Manne com o bumbum à mostra por alguns segundos.

Indignados, muitos telespectadores ligaram para a Globo reclamando do fato e até o então ministro da Justiça, Paulo Brossard (1924-2005), entrou no meio da confusão, ameaçando censurar a vinheta. O tema tomou conta das discussões por todo o Brasil e, no segundo capítulo, a Globo decidiu colocar uma folha de parreira para cobrir a nudez do rapaz.

A medida durou apenas dois dias, pois outros telespectadores reclamaram da censura. Brossard desistiu e a pressão popular fez a emissora liberar a imagem, que prosseguiu até o final da novela e estampou a capa do disco internacional da novela.

O vídeo da abertura, postado pela Globo no YouTube, tem restrição de idade e não pode ser incorporado.

Mico Preto

Em 1990, a Globo arrumou uma grande dor de cabeça ao colocar o macaco-prego Chico na abertura de Mico Preto. Um grupo de proteção aos animais entregou com uma representação no Ministério Público e a confusão foi parar na Justiça, chamando mais atenção do que a própria novela das sete, que não foi bem na audiência.

O animal era criado na casa de uma família em Pedra de Guaratiba, no Rio de Janeiro (RJ). No início de agosto daquele ano, dois meses após a estreia da trama, o procurador da República Luiz Alberto David Araújo entrou com uma ação civil pública ambiental contra a Globo. Ele alegou o fato desrespeitava a lei 5.197-67, que regulamentava a proteção à fauna brasileira.

A ação visava proibir a exibição da abertura, mas não deu certo: a Justiça negou o pedido de liminar. A Globo alegou que não havia razão para tanta repercussão, já que, segundo a emissora, o animal não podia ser considerado silvestre.

O processo só terminou no ano seguinte, quando a Globo foi obrigada a exibir 30 minutos diários de mensagens a favor da preservação de animais silvestres, divididos em vinhetas de 15 segundos.

A Indomada

Sucesso de 1997, A Indomada teve momentos de tensão nos bastidores. Os autores Aguinaldo Silva e Ricardo Linhares não gostaram da abertura, reclamando publicamente do trabalho desenvolvido por Hans Donner e sua equipe.

Na abertura, ao som de Maracatudo, de Sérgio Mendes, a ainda desconhecida Maria Fernanda Cândido, com um vestido vermelho e cabelos soltos, corria por um solo árido, vencendo barreiras se transformando em elementos como fogo, água e pedra, deixando um rastro de canavial por onde passava.

Os autores não gostaram da combinação entre o visual e a música, que foi somente instrumental nas duas primeiras semanas. A primeira alteração foi feita pelo diretor artístico Paulo Ubiratan (1947-1998), em parceria com a equipe de Mariozinho Rocha. As vozes da versão original da música passaram a ser ouvidas. “Pelo que ouvi, ninguém gostou. A abertura é ruim, não tem a ver com a novela. Esperava algo mais rural. O fato de não ter música me deixou chocado. Agora mudou um pouco, mas tão pouco que não adiantou”, disse Silva.

Depois de algum tempo, com o êxito alcançado pela trama, o assunto foi esquecido, pelo menos publicamente. Mas quando houve a reapresentação da trama no Vale a Pena Ver de Novo, em 1999, a Globo preferiu não arriscar. A abertura era a mesma, mas com outra canção: Unicamente, na voz de Deborah Blando, tema da protagonista Lúcia Helena (Adriana Esteves).

Torre de Babel

Em 1998, Torre de Babel chocou o público ao mostrar Tony Ramos como vilão e abusar das cenas de violência nos primeiros capítulos. Para buscar a audiência perdida, a Globo fez diversas mudanças na história, e a abertura não escapou.

Inicialmente, cogitou-se na mídia que uma nova vinheta seria feita, mas a animação, que mostrava a construção da mítica Torre de Babel, que se transformava no shopping da trama, acabou preservada.

A música-tema, um retumbante instrumental, foi trocado para a suave Pra Você, em gravação de Gal Costa. Além disso, Hans Donner recebeu a missão de atenuar o tom de azul do fundo do logotipo e promover pequenas alterações.

Após todo o conjunto de ajustes, além da explosão do shopping, a produção acabou embalando e terminou com boa audiência.

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América

Outra novela da Globo que começou mal, América teve mudanças em virtude de desentendimentos entre Glória Perez e o diretor Jayme Monjardim, que acabou deixando a trama.

A própria autora pediu mudanças na abertura, alterada duas vezes. “Ela detesta ainda a música de abertura, de Marcus Vianna, que considera igual à de Pantanal, da extinta Manchete. A autora defendia que a abertura fosse Soy Loco por Ti, América, de Ivete Sangalo, mas foi derrotada”, destacou a Folha de S. Paulo de 14 de abril de 2005.

Assim foi feito. América ganhou uma nova abertura e a trama engrenou, terminando como sucesso.

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Thell de Castro

Apaixonado por televisão desde a infância, Thell de Castro é jornalista, criador e diretor do TV História, que entrou no ar em 2012. Especialista em história da TV, já prestou consultoria para diversas emissoras e escreveu o livro Dicionário da Televisão Brasileira, lançado em 2015 Leia todos os textos do autor