Estamos chegando ao final dos Jogos Olímpicos de Tóquio, que deveriam ter sido disputados no ano passado, mas foram adiados por conta da pandemia. Com transmissão exclusiva na TV aberta, a Globo, mais uma vez, levou aos brasileiros as emoções das conquistas e as decepções de algumas derrotas.

Liderando o time de locutores da emissora, Galvão Bueno, atualmente com 71 anos, novamente chamou a atenção durante as competições, em momentos na Cerimônia de abertura, nos jogos de futebol e, principalmente, nas exibições de Rebeca Andrade na ginástica. Ele, inclusive, viralizou nas redes sociais por conta de suas reações ao narrar as medalhas ganhas pela brasileira (foto acima).

No entanto, Galvão tem muitas outras histórias marcantes nas transmissões olímpicas; listamos cinco delas abaixo:

Narrou momento histórico por acaso

Os Jogos Olímpicos de 1984, realizados em Los Angeles, nos Estados Unidos, proporcionaram imagens inesquecíveis para o grande público. Os brasileiros não se esquecem da vitória de Joaquim Cruz nos 800 metros rasos e da medalha de prata do vôlei masculino.

A grande imagem da competição, no entanto, veio da maratona feminina, com a chegada da suíça Gabrielle Andersen-Schiess. Ela cruzou a linha de chegada de forma cambaleante e quase desmaiando, sendo imediatamente amparada pelos médicos.

Galvão participou desse momento histórico por acaso. Depois de narrar o Grande Prêmio da Alemanha de Fórmula 1, que ocorria no mesmo dia, o locutor passou pelo estúdio justamente no momento em que a atleta chegava ao estádio.

Marco Mora, coordenador da cobertura, pediu para ele narrar essa façanha, mas o mesmo estava reticente. Motivo: Osmar Santos estava presente no estádio e Galvão julgou que isso seria injusto com o colega. Mas o locutor não estava na cabine naquele momento e a Globo não tinha outra pessoa para contar o feito. Após relutar, Galvão entrou ao vivo e colocou toda a emoção em sua narração em um dos momentos mais emblemáticos da história das Olimpíadas.

Prata no atletismo em Sydney

A Olimpíada de 2000, realizada na cidade de Sydney, na Austrália, foi marcada pela falta de medalhas de ouro para a delegação brasileira. Mas um momento histórico do nosso atletismo teve gosto dourado e uma narração histórica de Galvão.

Vicente Lenilson, Edson Luciano, André Domingos e Claudinei Quirino disputavam a prova de revezamento 4 x 100 metros, uma das mais tradicionais da competição. Com sua emoção característica, o locutor narrava cada passagem de bastão com ansiedade, mostrando que, de fato, os corredores tinham chance de medalha.

Quando Claudinei ultrapassou o cubano, Galvão gritou sem parar: “É Prata! É Prata! É Prata! É Prata para o Brasil!! Essa prata vale ouro!” A empolgação dele não era para menos, pois o momento era histórico. O locutor, inclusive, considera esse momento como uma de suas melhores atuações na carreira.

Vai perder, vai ganhar

Em 2008, na Olimpíada de Pequim, na China, Michael Phelps já era um dos grandes nomes da natação mundial. Mas foi nessa edição que ele mostrou que era um gênio das piscinas. Ele deu de presente uma narração emocionante e engraçada para Galvão.

Ao disputar a prova de 100 metros borboleta, Phelps enfrentou braçada por braçada o nadador sérvio Milorad Cavic. Isso deixou o locutor confuso, tentando adivinhar no olhar quem iria levar o ouro.

“Vai perder! Vai ganhar! Vai perder! Vai ganhar… Perdeu!… Ganhou!”, gritava Galvão ao ver o americano levar mais um ouro para casa. Isso fez tanto sucesso que acabou viralizando nas ainda incipientes redes sociais. O próprio nadador já fez piada com o assunto.

Briga com Renato Maurício Prado

Nos Jogos Olímpicos de Londres, na Inglaterra, em 2012, a transmissão para televisão aberta foi exclusiva da Record, deixando a Globo de fora pela primeira vez. O Sportv fez sua habitual transmissão e levou Galvão para a capital inglesa, onde ele apresentou programas debatendo a participação dos brasileiros e os principais momentos da competição.

Enquanto apresentava o Conexão Sportv, o comentarista Renato Mauricio Prado disse que Galvão comentou nos bastidores que o Brasil ganhou a prata no vôlei em 1984 somente por causa do boicote da União Soviética – os Estados Unidos levaram o ouro.

Galvão se irritou, disse que nunca afirmou aquilo, que o comentarista foi deselegante e que faltou responsabilidade, já que muitas pessoas estavam assistindo. Renato disse que o locutor estava exagerando e se recusou a cumprimentá-lo, deixando o clima pesado no restante do programa.

Depois desse fato, Renato Maurício Prado saiu do Grupo Globo e foi para o Fox Sports – hoje, está fora da telinha. Em seu livro, Galvão disse que teve um reencontro com o jornalista na Copa do Mundo de 2014, que ocorreu no Brasil. Os dois se abraçaram e o fato ficou no passado, segundo ele.

Bronca na Seleção Brasileira

Em 2016, a Olimpíada foi no Brasil, no Rio de Janeiro. E a expectativa era imensa pela realização dos Jogos. Um dos principais focos estava na seleção olímpica de futebol masculino, que tentava sua primeira medalha de ouro.

O time, que tinha Neymar como principal estrela, foi muito mal nos dois primeiros jogos, empatando em zero a zero com a África do Sul e o Iraque, trazendo dúvidas aos torcedores se iria se classificar para a fase decisiva.

Durante a partida contra o Iraque, Galvão criticou Neymar, capitão do time, que se envolvia em confusões e não liderava a seleção. O resultado pífio irritou o narrador, mas ele ficou ainda mais pistola após o jogo, quando os jogadores se recusaram a falar com a imprensa.

O narrador acabou fazendo um desabafo histórico. “As milhões de pessoas que estão em casa têm o direito sim de ouvir o seu ídolo, seu jogador, aquele que joga com a camisa da Seleção Brasileira. É feio, é muito feio, não é profissional, não é ético e não é correto”, esbravejou.

A fala viralizou e ganhou grande destaque na imprensa e nas redes sociais. Coincidência ou não, depois desse dia a Seleção goleou a Dinamarca por 4 a 0, foi passando de fase e chegou à final, ganhando a tão sonhada medalha dourada contra a Alemanha.

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Fábio Marckezini é jornalista e apaixonado por televisão desde criança. Mantém o canal Arquivo Marckezini, no YouTube, em prol da preservação da memória do veículo. Escreve para o TV História desde 2017 Leia todos os textos do autor