Ser fustigado durante ou após um papel controverso, que não agrada ao público e à crítica especializada, é um dos maiores problemas que atrizes e atores podem enfrentar na carreira, especialmente na fase inicial.

Mesmo quando uma novela é bem-sucedida, está sujeita a também ficar marcada por um personagem que se destacou negativamente.

Confira na lista cinco casos emblemáticos:

Silvia Pfeifer – Meu Bem, Meu Mal

Também egressa do mundo da moda, Silvia tinha beleza, charme e elegância de sobra a seu favor, mas no começo lhe faltou desenvoltura para sustentar a protagonista Isadora Venturini, de Meu Bem, Meu Mal, uma personagem fria e calculista, com alto nível de complexidade.

Seu único trabalho anterior havia sido na minissérie Boca do Lixo (a frágil Cláudia, muito diferente de Isadora).

Trabalho e dedicação não faltaram para virar o jogo no decorrer da história, tanto que o caso dela é um dos raros em que foi possível superar uma impressão negativa inicial com a novela ainda em curso.

Adriana Esteves – Renascer

Adriana Esteves em Renascer

Seu talento hoje é indiscutível, mas nesta novela, em que fez a dissimulada Mariana, de Renascer, viveu o seu pior momento: as críticas foram tantas e tiveram tal impacto que a fizeram enfrentar uma depressão e quase provocaram sua desistência da dramaturgia.

É bem verdade que Adriana ainda estava no início da carreira, tendo feito anteriormente apenas uma protagonista em novela de horário nobre, a Marina de Pedra sobre Pedra (1992).

“Entendi as críticas à personagem como um massacre a mim. Demorei uns dois, três anos para sair desse processo. Em 1995, eu renasci após a depressão”, contou a atriz à revista Veja Rio.

“Tudo isso foi jogado na minha cara, trabalhado em análise, vivido. Eu precisei de tempo. Acabou Renascer e eu fui convidada pra um outro trabalho em seguida. Eu falei: ‘Não posso’. Porque eu não estava bem, não tinha força”, declarou Adriana, desta vez em entrevista ao podcast Novela das 9, do Gshow.

Ela se redimiu com sobras em outras produções, na pele de personagens que a consagraram definitivamente, a exemplo da Carminha de Avenida Brasil (2012).

Ricardo Macchi – Explode Coração

A falta de experiência pesou para que o modelo Ricardo Macchi não conseguisse emplacar no papel do cigano Igor, de Explode Coração, que tinha importância considerável na trama.

O estigma acompanhou o ator por muitos anos, chegando às raias da esculhambação desrespeitosa em alguns momentos. Vale ressaltar que a própria composição do personagem o prejudicou, já que poucas falas eram reservadas a ele.

Gabriela Duarte – Por Amor

Poucas vezes se viu tamanha mobilização como a que foi promovida contra a personagem de Por Amor, consagrado folhetim de Manoel Carlos. Mesmo tendo sido organizada nos primórdios da internet comercial, o site da campanha “Eu Odeio a Eduarda” pode ser considerado uma referência ancestral do que se conhece na atualidade pelo termo “cancelamento”.

O comportamento mimado e arrogante, além da intolerância com o pai alcoólatra (Orestes, interpretado por Paulo José), contribuíram decisivamente para a péssima recepção do público.

Mas houve tempo para reviravoltas: primeiro, um site de contraponto para reunir os fãs da mocinha (“Eu Adoro a Eduarda”). Depois, a mudança em seu desfecho: inicialmente destinada a morrer, ela amadureceu e acabou a história feliz junto de seu amado Marcelo (Fábio Assunção).

Letícia Spiller – Suave Veneno

Maria Regina certamente é um nome que traz lembranças de dores de cabeça para Letícia Spiller.

Consagrada pela Babalu de Quatro por Quatro (1994), a ex-paquita começou a carreira de forma promissora, mas cinco anos depois enfrentou um desafio e tanto: lidar com as críticas dirigidas à sua personagem, considerada uma vilã totalmente caricata (prato cheio para o humor ácido do Casseta & Planeta, Urgente!), em meio a uma novela turbulenta, que teve problemas em sua estrutura e com a audiência.

Ambas – Letícia e Suave Veneno – acabaram passando por correções de rota providenciais da direção.

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Entusiasta da história da televisão brasileira, Jonas Gonçalves é jornalista e pesquisador, sendo colaborador do TV História desde a sua criação, em 2012. Ao longo de quase 20 anos de profissão, já foi repórter, editor e assessor de comunicação, além de colunista sobre diversos assuntos, entre os quais novelas e séries Leia todos os textos do autor Leia todos os textos do autor