4 mexicanas e Éramos Seis: a grade repleta de novelas do SBT há 20 anos

Cinco horas de novela. É mole ou quer mais? Para o público do SBT, quanto mais folhetim, melhor. Foi com o pensamento fixo nesta ideia que, em 22 de janeiro de 2001, Silvio Santos substituiu a primeira versão de Chiquititas (1997), após cinco temporadas, por duas produções: a reprise de um clássico do canal e uma mexicana infantil inédita. As tramas se somaram a outros três dramalhões da melhor qualidade. Relembre abaixo a grade de programação da emissora neste dia tão “teledramatúrgico”!

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O SBT entrava no ar às 6h40, com a Sessão Desenho. Naquele tempo, a faixa, que já havia contado com Vovó Mafalda (Valentino Guzzo) e Eliana, exibia apenas um compilado de animações, sem apresentador. Clássicos dos estúdios Hanna-Barbera / Warner Bros., como Corrida Maluca, Ligeirinho, Patolino, Pernalonga e Tom & Jerry, ocupavam a maior parte da atração.

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Hoje afastada da televisão, a loirinha Jackeline Petkovic – revelada no programa Fantasia (1997) – era quem conduzia o Bom Dia & Cia. (8h). O matutino dividia seu tempo entre clássicos dos desenhos, como ThunderCats e Cavalo de Fogo (ambos da Hanna-Barbara), com produções “fresquinhas” dos estúdios Disney, caso de Hora do Recreio e 101 Dálmatas. Esta foi a última temporada do ‘Bom Dia’ com o boneco Melocoton, figura exótica que tinha a gula como principal característica, remanescente dos tempos em que Eliana ancorava o programa (de 1993 a 1998).

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Às 11h45, Festolândia! Assim como o Melocoton, o título desta faixa de desenhos também provinha dos tempos em que Eliana, então na Record TV, reinava absoluta na programação infantil do canal; Festolândia batizou a primeira atração (de curta duração) da loirinha no SBT. O principal cartaz: Pica-Pau, dos estúdios Walter Lantz e Universal Pictures, posteriormente convertido em curinga na programação da concorrente ‘Record’, que hoje o “esconde” nas manhãs de domingo. Já Os Simpsons, que atualmente cumpre a função de tapa-buraco na Band, era exibido às 12h45.

E quem foi criança, pré-adolescente ou adolescente nesta época certamente se lembra de Um Maluco no Pedaço, programa obrigatório na hora do almoço, pós-colégio (13h15). A série produzida pela NBC entre 1990 e 1996 havia estreado por aqui no ano anterior. Estrelada por Will Smith, a produção turbinou a audiência da faixa vespertina do canal de Silvio Santos. Em matéria publicada na Folha de São Paulo de 9 de junho de 2001, o jornalista Daniel Castro destacava o crescimento do SBT no horário, entre janeiro e maio daquele ano. A trinca Os Simpsons – Um Maluco no Pedaço – Chaves (13h45) empatava ou superava os índices atingidos pela Globo com o ‘Esporte’, Jornal Hoje e Vídeo Show.

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O clássico Cinema em Casa (14h15) estava bem servido com a vigência do acordo entre o SBT e os estúdios Disney e Warner Bros. Na tarde de 22 de janeiro de 2001, por exemplo, a sessão recorreu ao romântico Enquanto Você Dormia (1995), que aborda a paixão de Lucy (Sandra Bullock), funcionária de uma estação de metrô, por um homem que ela só vê de longe, Peter (Peter Gallagher). Após um período em estado de coma, o jovem desperta acreditando que a moça é sua noiva. Lucy não se atreve a desfazer o engano – mesmo quando se apaixona por Jack (Bill Pullman), irmão de Peter.

E o que ficou famoso como Novelas da Tarde era então conhecido como Tarde de Amor. A faixa, destinada a grandes sucessos da Televisa, exibia então seu folhetim de maior sucesso: Maria Isabel (1997), no ar às 16h15. A diva Adela Noriega estava à frente do enredo: a índia Maria Isabel deixava seu povoado para se empregar na casa do engenheiro Ricardo (Fernando Carrillo), pai da filha de uma amiga sua, já falecida. Maria e Ricardo acabam se casando; vivem felizes até a chegada de Mireia (Sabine Moussier), pianista que enlouquece o galã com seu charme. Nos capítulos daquela semana, Isabel era alertada pelo oportunista Gabriel (Sergio Basañes) a respeito da infidelidade de seu marido. Pior para o delator: Gabriel acabou assassinado. Enquanto isso, a protagonista abandonava a casa em que vivia para regressar às suas origens, hospedando-se na casa da madrasta, Chona (Mónica Miguel).

Na sequência, a premiada Coração Selvagem (17h15), de 1993, já exibida por aqui na CNT / Gazeta, sem repercussão. Em cena, a oposição de duas irmãs, a contida Mônica (Edith Gonzales) e a voluntariosa Aimée (Ana Colchero) e dois irmãos, o aristocrático André (Ariel López Padilla) e o bastardo João do Diabo (Eduardo Palomo). Quando a trama tem início, Mônica está em vias de perder André, seu noivo, para a irmã. Eis que a situação se inverte logo depois: o “almofadinha” decide reconquistar a ex, incitando-a acreditar que João morreu em um acidente de barco, na companhia de Aimée.

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Decidido a apostar em teledramaturgia, Silvio Santos havia autorizado seus executivos a buscarem textos para retomar as produções próprias – mais adiante, ele próprio se encarregaria de assinar um acordo com a Televisa, para adaptar folhetins ‘xicanos’. Como pontapé inicial, a reapresentação de Éramos Seis (1994), às 18h15, o maior êxito de toda a história da emissora no gênero “novela”. A adaptação de Silvio de Abreu e Rubens Ewald Filho para a obra de Maria José Dupré, que já havia rendido uma versão na Tupi em 1977, substituiu o infantil Disney Club – encaixado nos sábados de manhã. ‘Éramos’, estrelada por Irene Ravache, serviu de “sala de espera” para a engavetada O Direito de Nascer.

Silvio também já havia testados tramas mexicanas destinadas aos pequenos durante as férias de Chiquititas – com Luz Clarita, em 1999, e O Diário de Daniela, 2000. Natural que, para substituir a bem-sucedida novelinha produzida em parceria com a Telefe, o “patrão” fosse buscar outro folhetim de mesmo estilo. Assim, naquele 22 de janeiro, estreou Gotinha de Amor (19h20). Era a busca da abandonada Isabel (Andrea Lagunes) por sua mãe e de Maria Fernanda (Laura Flores) por sua filha; afastadas por Otávio (Téo Tapia), avô e pai das protagonistas, e unidas pelo camelô Jesus (Alejandro Ibarra), que acolhe Isabel e se apaixona por Fernanda.

A “maratona teledramatúrgica” chegava ao fim às 20h15, com Esmeralda (1997). O SBT, sabemos bem, é apaixonado por esta novela: exibiu a versão venezuelana Topázio (produzida em 1984 e veiculada por aqui em 1992) e depois adaptou o texto, na excelente trama de 2004, estrelada por Bianca Castanho e Cláudio Lins. No México, Letícia Calderón e Fernando Colunga – galã de Maria do Bairro e A Usurpadora, no ar no Brasil em 1997 e 1999 – respondiam pelos protagonistas, Esmeralda e José Armando. Os dois, trocados de nascimento, se apaixonam, para desespero da tia dele, Fátima (Laura Zapata), que deseja casar o rico fazendeiro com sua filha, Graziela (Nora Salinas), apaixonada pelo peão Adrián (Alejandro Ruiz).

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O Programa do Ratinho (21h10) ainda mantinha a linha sensacionalista que fez o sucesso do apresentador na Record TV – e que despertou o interesse de Silvio Santos por seu passe. No entanto, o ‘Exame de DNA’, que quase sempre culminava com agressões físicas entre os envolvidos, começava a perder espaço para quadros com calouros e esquetes humorísticas. Ou reportagens insanas, como esta acima, em que o apresentador “ensina” a piratear CDs. Com a mudança no conteúdo, Ratinho começava a angariar a simpatia do público, fortalecendo sua imagem junto aos patrocinadores.

Popular sem ser popularesca, Hebe Camargo batia ponto toda segunda-feira, 22h10. 2001 foi um ano vitorioso para a primeira-dama da TV brasileira. Após a estreia do reality-show Casa dos Artistas, em outubro, a loira passou a abastecer seu programa com pautas sobre convívio em grupo e sexo no confinamento. Cumpria a função, por assim dizer, que hoje cabe a Ana Maria Braga e ao Mais Você com relação ao Big Brother Brasil, da Globo: a de receber eliminados. O ápice se deu após a final. O Hebe de segunda-feira, 17 de dezembro, registrou 23 pontos de média e pico de 30, segundo o Ibope, na Grande São Paulo. A apresentadora presentou os doze confinados da atração e foi para debaixo do edredom com Alexandre Frota, talvez o mais polêmico participante da ‘Casa’.

Hebe sempre encerrava o programa fazendo menção aos olhos claros de Hermano Henning, o então âncora do Jornal do SBT (0h). O jornalista também conduzia o SBT Notícias (1h30) – nada mais do que o jornal requentado -, boletim reprisado diversas vezes durante a madrugada.

Entre os dois telejornais, a penúltima versão do Programa Livre (0h30). A atração de Serginho Groisman seguiu no ar mesmo com a saída do apresentador, rumo à Globo, em 1999. Após apostar num rodízio com cinco comandantes – de Christina Rocha a Otávio Mesquita – Silvio Santos entregou o projeto a Babi Xavier, ex-VJ da MTV. Babi emplacou o ‘Livre’ nas madrugadas por um bom tempo; em 2001, contudo, o papo-cabeça sobre sexo e outras problemáticas relacionadas ao jovem já estava desgastado. Acabou remanejado para as tardes de sábado em setembro, onde permaneceu até sua extinção, em dezembro.

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