Hoje distante da televisão – com projetos de minissérie para um eventual retorno – e reverenciado no VIVA com a reapresentação de Por Amor, Manoel Carlos estreou no horário das 20h da Globo, como autor-solo, há 36 anos, com Baila Comigo. O folhetim, uma das maiores audiências da faixa na década de 80, trazia Tony Ramos em dose dupla. A trama chegou ao fim em 25 de setembro de 1981. E o TV História aproveita a data para reverenciar este sucesso. Confira o resumão!

Rio de Janeiro, 1981. A obstetra Lúcia (Natália do Vale) traz ao mundo duas novas criaturinhas. Irmãos gêmeos. Idênticos! Assim como os que o doutor Plínio Miranda (Fernando Torres) trouxe à luz, há quase 27 anos atrás: João Victor e Quinzinho (ambos Tony Ramos), que desconhecem a existência um do outro. E que, no que depender da mãe deles, Helena (Lilian Lemmertz), continuarão na mais completa ignorância, por toda a vida. Hoje casado com Helena, Plínio se ressente pelo ato do passado, quando ela, optando por um dos gêmeos, permitiu que o outro ficasse com Joaquim Gama (Raul Cortez), pai dos meninos. Como Quim já era casado, a solução para que ele pudesse criar o filho, sem se indispor com a esposa, Marta (Tereza Rachel), foi induzi-la a acreditar que era estéril. Desconhecendo a origem do menino, Marta o aceitou. Mas pouco depois, descobriu-se grávida. O nascimento de Débora (Beth Goulart) lhe deu a certeza de que fora enganada pelo médico e pelo marido.

Lisboa, 1981. Guiada pelo ressentimento, Marta passou a ignorar a existência de João Victor, um dos nomes em ascensão nas empresas de Quim, que sofrera um enfarte recentemente. Decidido a corrigir os erros do passado, e recompensar seu outro herdeiro pela ausência de todos esses anos, o empresário volta ao Brasil, a contragosto da esposa e da filha. O filho irá permanecer em Lisboa, à frente das negociações que serão realizadas por lá. Visando aproveitar-se desse afastamento temporário, e torná-lo definitivo, Marta diz a João Victor, no dia em que este completa 27 anos, que ele não é filho de sangue do casal; portanto, tem menos direitos do que Débora na divisão de bens. A revelação atordoa João Victor, que passa mal.

Voltamos ao Rio. Plínio, o médico, lê no jornal que Quim está voltando. Ele transmite a notícia à esposa, que teme a proximidade do ex-amante. Receosa, Helena decide pedir perdão a Quinzinho, o filho que ela criou, assim batizado em homenagem ao pai biológico. Caixa de banco, moderno e descolado, Quinzinho sequer entende o que Helena quer lhe dizer ao pedir perdão a ele. Não vê nenhum deslize no comportamento da mãe e duvida que isso, um dia, irá acontecer. Sai para um passeio de moto pela orla, e subitamente, sente-se mal, colidindo com o carro de Lúcia. O mal estar coincide com os momentos em que João Victor descobre que não é filho de Marta e, como ele e ela supõem até o momento, Quim.

O acidente envolvendo Lúcia e Quinzinho dá início à história de amor do casal, ameaçada pela presença de Marcelo (Fábio Pillar), ex-namorado da moça. É Marcelo quem une Quinzinho ao seu verdadeiro pai. Uma vez no Brasil, Quim pede a seu amigo e fiel escudeiro Guilherme (Cláudio Cavalcanti) que localize a família de Helena. Não demora muito e logo ele obtém o endereço de seu grande amor do passado, no bairro de Santa Teresa. Julgando ser perigoso aproximar-se repentinamente do filho e de Helena, Quim decide ir até o banco em que Quinzinho trabalho. Lá, testemunha uma briga armada por Marcelo, que ataca o bancário sem dó. Quinzinho revida, fazendo com que o pai biológico passe mal diante da confusão. Com os ânimos mais calmos, no entanto, Quim defende o herdeiro perante o gerente do banco, iniciando assim uma grande amizade. Ao saber pelo filho que ele e Quim se conheceram, Helena surta. Ela já havia ido ao aeroporto se certificar da ausência de João Victor entre os Gama que voltaram ao Brasil, o que a tranquilizara na ocasião. Agora, temendo as intenções de Quim, Helena quebra o pacto de silêncio existente entre os dois e liga para ele, implorando que se afaste do gêmeo que ele enjeitou.

O que nem Helena, nem Quim, e muito menos Quinzinho, podem imaginar é que João Victor decidira voltar ao Brasil sem comunicar nada a ninguém. Com duas pessoas idênticas vivendo em uma mesma cidade (ainda que seja uma cidade do tamanho do Rio de Janeiro), os conflitos se tornam inevitáveis. E se iniciam ainda no aeroporto, onde Lúcia foi buscar sua mãe, Sílvia Toledo (Fernanda Montenegro). E não fosse a chegada da esfuziante atriz, Lúcia certamente teria abordado João Victor. O gêmeo rico escapa do flagra da médica, mas sofre com a violência de Marcelo, que o confunde com Quinzinho. Assim como Lúcia, que desconhecendo a existência de outro ser igual ao seu namorado, questiona este sobre sua presença no aeroporto, instalando entre eles a desconfiança que irá minar o relacionamento, mais adiante.

As confianças cessam quando João Victor vai para o Sul, onde descobre o médico responsável pelos partos da região naquela época: Plínio Miranda. Munido desta nova informação, Victor retorna ao Rio, sendo surpreendido por uma surra aplicada pelos capangas de Caio Fernandes (Carlos Zara), pai de Lúcia e dono de uma academia de ginástica e dança. O sogro antipatiza com Quinzinho tão logo o conhece e, no intuito de afastá-lo de Lúcia, contrata alguns homens para que lhe deem uma surra. Qual não é a sua surpresa ao encontrar Quinzinho sem nenhum ferimento?

Somada à antipatia de Caio, o namoro de Lúcia e Quinzinho padece com a intromissão de Mira Maia (Lídia Brondi), que sempre arruma um jeito de atazanar a vida da atual de seu ex-namorado, e também com Helena, que implora a Lúcia que termine o namoro, evitando maiores aborrecimentos. Incomodada com a presença constante de Mira na vida de Quinzinho, Lúcia decide dar um tempo na relação. Doente de saudade, no entanto, ela resolve procura-lo e se surpreende ao ver o bancário beijando Mira. Pouco depois, testemunha um encontro de João Victor e Débora, e acreditando tratar-se de Quinzinho, decide procura-lo, despejando desaforos que o rapaz, nem de longe, merecia ouvir.

É… O Rio de Janeiro é pequeno demais para os dois. Tanto Quim, quanto Helena, já perceberam isso. Ele encontrara Quinzinho em um bar e para impedir que Marta visse o gêmeo de seu filho adotivo tratou de manchar a blusa dela com vinho. Helena, por sua vez, se encontra com João Victor em um restaurante; sua emoção é tanta, que chega a desfalecer. E os gêmeos passam a circular pelos mesmos ambientes, o que aumenta a tensão existente em torno do primeiro encontro. É Plínio quem decide pôr fim à situação. Procura Quim e exige que ele se afaste de sua família, sem sucesso. Leva o empresário, então, até a casa em que ele vive com Helena, disposto a colocar o casal frente-a-frente.

Helena vai direto ao ponto: Quinzinho acredita que Plínio é seu pai; ama esse pai com todas as suas forças. Ela não seria capaz de destruir as ilusões do filho e, por isso, decide preservar a mentira. O que ninguém imagina é que Marta colocaria João Victor ainda mais próximo de Plínio. Ela contrata um detetive particular, que lhe dá o endereço do médico. E após um tenso encontro com ele, no qual expõe sua mágoa por ter sido enganada com relação à sua fertilidade, exige que Plínio lhe dê explicações sobre a origem de João Victor. Diante das negativas do doutor, Marta decide colocar o filho adotivo à par de tudo: entrega a ele o telefone de Plínio.

E os gêmeos que ainda não se conhecem, escutam a voz um do outro. Tony Ramos, grande ator, diferenciou João Victor e Quinzinho apenas com mudanças de penteado, postura e entonação de voz. Um trabalho sensível que seduziu público e crítica naquele ano de 1981 – e lhe rendeu o APCA e o Troféu Imprensa. Ao ligar para Plínio, João Victor é atendido por Quinzinho, que combina com o rapaz uma visita à noite. Ao avisar os pais do telefonema, o bancário quase provoca um surto em Helena e Plínio, que, com a ajuda de Guilherme, consegue tirar o rapaz de casa, evitando o encontro dos dois.

Guilherme passou a ser chefe de Quinzinho, cujo curso de piloto de helicóptero lhe rendeu uma vaga nas empresas de Quim, forma que o empresário encontrou para ficar próximo do filho. Helena suspira aliviada, sem imaginar que João Victor voltaria a procurar por Plínio. Compadecida, a mãe leva o filho para uma igreja, e diante do altar, inventa mais uma mentira, continuando a manter João Victor e Quinzinho separados. Diz que seus pais morreram tão logo os gêmeos nasceram; ela assumiu a criação de um e Quim, de outro. Não bastasse enganar o filho, Helena ainda lhe pede para que não procure Quinzinho, uma vez que não quer que ele descubra sua verdadeira origem. A cena é uma das mais belas de toda a trama.

Sem ter como se aproximar do irmão, João Victor passa a verificar seu trabalho na empresa, de longe. Até que, tomado por uma repentina coragem, vai ao encontro do gêmeo, na companhia de Débora. Pela primeira vez diante do irmão, João Victor se emociona. Ao chegar em casa, arrependido por não ter se aproximado do rapaz, ele se volta para o espelho, imaginando como seria o diálogo entre os irmãos. Decidido a manter-se próximo de Quinzinho, o gêmeo de Quim passa a frequentar os mesmos lugares que ele. Sabendo disso, Helena decide desabafar com alguém a respeito das mentiras que inventou. E quem mais poderia ajuda-la senão Lúcia, que já a amparou em outro momento?

A história comove Lúcia, que vai a uma recepção na casa de Quim, apenas para ver o irmão de seu amado e prometer que vai ajudá-lo. Sabendo do sofrimento de João Victor, Helena decide que irá consola-lo. Mas tão logo chega ao seu apart-hotel, é surpreendida pela presença de Quim. João Victor sequer imagina que está diante dos pais biológicos e, sem medo de se expor, revela que tem visto Quinzinho com frequência. O mesmo Quinzinho que, de repente, se vê diante de uma briga ferrenha entre Quim e Marta. Já afeiçoado ao filho, o empresário decide doar a ele uma porcentagem dos bens de sua família; em especial, da parte que cabe a João Victor.

Quinzinho sequer pode imaginar que a boa ação de Quim tem a ver com seu passado. Em uma conversa com Helena, na qual descobre que o atual patrão fora o primeiro amor da vida dela, brada aos quatro ventos que não aceitaria outro pai que não fosse Plínio. E, decidido a se aproximar cada vez mais da família dos patrões, vai até o apart-hotel de João Victor, que ao ver o irmão pelo olho mágico, não o atende. Os dias seguem e Quinzinho se vê obrigado a partir para uma viagem em Portugal. Querendo marcar presença na vida do irmão, João Victor faz com que chegue até ele, antes de embarque, um livro com uma dedicatória sua. Quinzinho retribui a gentileza, ligando para João Victor e dizendo que tão logo ele volte ao Brasil, os dois vão se encontrar.

A esta altura, Débora namora, a contragosto de Marta, com Caê (Lauro Corona), um tremendo pobretão. Ao ir à casa da namorada, o jovem vê João Victor, que não tem outra alternativa, a não ser contar tudo sobre os gêmeos. Desesperado com a gravidade da situação, Caê decide desabafar com o padrasto Otto (Milton Gonçalves, que causou uma polêmica racial por ser esposo, na novela, de Beatriz Lyra (Letícia)). O problema é que Mira ouve tudo e movida pelo seu faro jornalístico decide ir atrás de João Victor. Um homem a imagem e semelhança de Quinzinho… Tudo o que Mira queria!

O que não poderia acontecer, nesta altura do campeonato, acaba acontecendo. Caio, inimigo de Quim e de Quinzinho, descobre o segredo em torno dos gêmeos e passa a chantagear o empresário. Numa tentativa de neutralizar as investidas criminosas de Caio, seu sócio em uma empresa de táxi aéreo, Quim havia colocado a bela Paula (Susana Vieira) em seu encalço. Instruída por Guilherme, Paula seduz Caio, mesmo sendo casada com Mauro (Otávio Augusto), um ciumento piloto de avião que tão logo descobre o romance da esposa com o dono da academia, decide mata-lo. Para isso, joga sua aeronave em cima de Caio, causando a morte deste e a sua. Os gêmeos estão livres do vilão, mas não de Mira, que procura Helena, com um bolo nas mãos. No topo do doce, dois bonecos: o gêmeo feliz, Quinzinho, e o gêmeo triste, João Victor. Helena se desespera com as palavras de Mira e, pouco depois, com a certeza de que sua filha Lia (Christiane Torloni) está próxima de descobrir seu segredo. Com medo, ela confessa à menina tudo o que fez e é aconselhada a abrir a história de uma vez.

Até porque a presença de João Victor começa a instigar Quinzinho. Ele reata o namoro com Lúcia, mas morre de ciúmes ao vê-la com outro homem, que sequer imagina ser João Victor; a esta altura, já envolvido com Mira. É chegada, mesmo, a hora de Helena abrir o jogo. Ela procura Quinzinho, diz que ele é filho de Quim, e mais: João Victor é seu irmão gêmeo. Pouco depois, é João Victor, também por intermédio de Helena, quem descobre tudo sobre sua origem. Os dois correm ao encontro um do outro, mas um blecaute atrapalha os planos dos gêmeos. Quando enfim encontram uma lanterna, a luz retorna e aí podem ficar frente-a-frente, sem mais mentiras, nem escuridão. Assim se encerrava aquele capítulo de sábado, 05 de setembro, três semanas antes do término da novela.

Pouco depois, Quinzinho declara seu amor ao irmão e também ao pai, Plínio. Quanto a Quim, os dois prometem ser amigos, até que o destino fortaleça a relação entre eles. Os momentos finais guardam os diversos pedidos de perdão de Helena: a João Victor, Quinzinho e Plínio. E também os casamentos de Caê e Débora, Quinzinho e Lúcia, e João Victor e Mira, que dá a luz a gêmeos.

A trama principal, embora ótima, não condizia com o título. Baila Comigo se justificava pela presença da academia de ginástica e dança, sintetizada pela figura de Joana Lobato (Betty Faria). Ao longo da narrativa, a professora se envolvia com Caio, João Victor e Quim. Mesmo estando em meio aos principais personagens, sua trama não se desenvolveu a contento. O doutor Saulo também ficou a mercê da principal estória da novela. Reginaldo Faria, intérprete do médico, chegava a abrir os créditos da novela (o que incomodara o ator, uma vez que o protagonista era Tony Ramos). Ainda assim, seu personagem não cresceu, como parecia que ia crescer, a princípio. Entretanto, era interessante acompanhar sua relação de amor e ódio com a ex-namorada Dolores (Arlete Salles), que já havia vivido um casamento desestruturado, e seu namoro com Lia, irmã de Quinzinho.

Manoel Carlos já havia figurado no horário nobre como colaborador de Gilberto Braga, em Água Viva. Baila Comigo, aliás, tem muito de Água Viva. As cenas são longas, a psicologia dos personagens muito bem definida, e os diálogos extensos. Nada da dramaturgia rasa e veloz que temos hoje, onde os personagens se moldam ao sabor das conveniências do roteiro. Em Baila Comigo, não há quem não haja com coerência, possibilitando ao público entender e perdoar certas atitudes (em especial, as de Helena). Um novela deliciosa, com Manoel Carlos em sua melhor forma e com todos os seus corriqueiros personagens (até mesmo a empregada intrometida; aqui, Conceição (Maria Alves)). Excelente pedida para o VIVA!


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Apaixonado por novelas desde que Ruth (Gloria Pires) assumiu o lugar de Raquel (também Gloria) na segunda versão de Mulheres de Areia. E escrevendo sobre desde quando Thales (Armando Babaioff) assumiu o amor por Julinho (André Arteche) no remake de Tititi. Passei pelo blog Agora é Que São Eles, pelo site do Canal VIVA e pelo portal RD1. Agora, volto a colaborar com o TV História.