25 anos depois, morte de Daniella Perez ainda dói – e sensação de impunidade ainda incomoda

“O Bira matou a Yasmin”. Foi com esta frase que tomei conhecimento da morte de Daniella Perez, assassinada pelo colega de elenco Guilherme de Pádua, com a cumplicidade de Paula Thomaz, então esposa dele. Na minha cabeça de criança – já noveleiro, apesar da pouca idade -, todos os comentários sobre o crime ditos por familiares se referiam à ficção: De Corpo e Alma, a trama das 20h na qual Daniella e Guilherme atuavam, como Yasmin e Bira; que eu não sabia, naquele tempo, era escrita pela mãe da atriz, Gloria Perez.

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Não. Bira não havia matado Yasmin, enciumado por conta do namoro dela com Caio (Fábio Assunção), seu par romântico de fato. Foi Guilherme quem assassinou, friamente, Daniella, após tentar, sem êxito, induzir a filha da autora a convencer a mãe a dar-lhe mais espaço no folhetim. As fotos do crime, que estampavam o jornal Notícias Populares, eram aterrorizantes – e, num tempo em que criança não era poupada de nada, chegaram até mim também por familiares. Eu, que já achava De Corpo e Alma triste e sombria, deixei de acompanhá-la. Yasmin / Daniella era o que a novela tinha de mais bonito.

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25 anos depois, qualquer matéria sobre o crime ainda mexe comigo. Guilherme de Pádua foi condenado a 19 anos de detenção por homicídio duplamente qualificado por motivo torpe. Cumpriu um terço da pena, extinta em 2002. Na ocasião, lembro de Sônia Abrão comentando algo como “Não tem mais pena. Então não teve crime; então Daniella não existiu?”. Ainda que o assassino tenha acertado as contas com a lei – hoje é pastor evangélico, vejam só -, a sensação de impunidade persiste. Talvez pela Justiça, ineficiente e equivocada, ter, de certa forma, “matado” Daniella outra vez.

Talvez por ver o assassino, sorridente em suas redes sociais, enquanto a Daniella foram negados, por ele, todos os direitos. O de sorrir, o de consolidar a carreira promissora, o de ser mãe, o de continuar dançando, o de viver. 25 anos não aplacam o choque causado pela brutalidade do crime. Menos ainda a saudade da mãe, de familiares, do marido Raul Gazolla, dos colegas de trabalho, dos fãs, de quem viveu aquele tempo e de quem tomou conhecimento posteriormente… 25 anos que a realidade se sobrepôs, violentamente, à ficção.

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